Lição 7 – Uma Promessa de Restauração
Passamos da metade do trimestre e chegamos à lição sete! Durante esta aula, estudaremos a respeito da promessa de restauração que Deus fez ao seu povo.
Tudo o que Ele faz sempre está em conformidade com o seu caráter, o que quer dizer que, aquilo que Ele faz nunca estará desalinhado de quem Ele é. Sendo assim, tal qual Deus é, assim Ele o faz, e aquilo que Ele faz testifica de seu ser. Desse modo, os seus atributos, isto é, as qualidades divinas nunca estarão em desacordo entre si, tampouco com as suas ações.
“Um exemplo vivo disso é encontrado na relação de Deus com o seu povo no Antigo Testamento, principalmente por meio das palavras proferidas pelos profetas que muitas vezes advertiram a Israel sobre o desagrado de Deus de sua postura idólatra, alertando sobre possíveis punições com base em sua justiça, no entanto, não deixou de sinalizar o seu amor e compromisso com o seu povo, como se vê nas palavras do profeta Oseias (ver Os 11.1-3,8).
O texto apresenta uma demonstração clara da relação entre a justiça de Deus, por meio da qual Ele não deixa de advertir, exortar e punir os erros de seu povo, e o seu amor, evidenciado na linda e tocante declaração que o Senhor fez ao seu povo, prometendo manter-lhe, com base em sua aliança. Assim também se deu na promessa que Deus fez acerca da restauração de Judá, sendo este, inquestionavelmente, um dos temas mais caros para o povo de Deus no Antigo Testamento.
Considerando o que foi exposto até aqui, pode se afirmar que o cuidado de Deus em prometer e se comprometer com a restauração de seu povo firma-se, não somente em seus atributos, conforme visto anteriormente, mas também — e de forma especial — na aliança que estabeleceu com Ele e a este respeito o presente capítulo se propõe a refletir, cujos destaques são, inicialmente, a aliança que o Senhor fez com o seu povo, em seguida, a apresentação da justiça, da fidelidade e do amor de Deus como as bases dessa aliança e, finalmente, aquilo que se espera do povo nessa relação de restauração, como a oração e a gratidão como sementes das quais o fruto será a restauração que só Deus pode promover pelo seu povo.”
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais no assunto sobre o caráter de Deus e a restauração de seu povo, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
II – O CARÁTER DE DEUS E A RESTAURAÇÃO DE SEU POVO
Não há como compreender o sentido mais profundo da restauração de Judá no contexto do cativeiro babilônico sem considerar o caráter de Deus, afinal de contas, por si mesmo esse povo não seria capaz de se autoajudar, mas somente pela ação graciosa de Deus seria possível e, como se sabe, as ações divinas refletem parte de seu caráter perfeito, testemunhando de quem Ele é, por meio daquilo que Ele faz. Na Teologia Sistemática organizada por Stanley Horton, o teólogo Russel E. Joyner escreve o seguinte:
Nossa maneira de compreender a Deus não deve basear-se em pressuposi-ções a respeito dEle, ou em como gostaríamos que Ele fosse. Pelo contrário: devemos crer no Deus que existe, e que optou por se revelar a nós através das Escrituras […] Deus jamais foi visto (Jo 1.18). O Deus onipotente não pode ser plenamente compreendido pelo ser humano (Jó 11.7), mas se revelou em diferentes ocasiões e de várias maneiras. Isto indica que é da sua vontade que o conheçamos e tenhamos um correto relacionamento consigo (Jo 1.18; 5.20; 17.3; At 14.17; Rm 1.18-20). Isso não significa, porém, que podemos compreender completa e exaustivamente a totalidade do caráter e da natureza de Deus (Rm 1.18-20; 2.14,15) […] Por meio de sua Palavra, Deus expressa o seu desejo de que o conheçamos[…] A conquista da Terra Prometida era também uma evidência significativa do fato de o Senhor ser o Deus único, vivo e verdadeiro, e da possibilidade de se o conhecer (Js 3.10). Os cananeus e outros povos que estavam prestes a sofrer o castigo divino seriam obrigados a reconhecer que Deus existe, e que estava lutando por Israel (I Sm 17-46; I Rs 20.28). Os que se submetem ao Senhor, entretanto, vão além da mera comprovação de sua existência, alcançando o conhecimento de sua pessoa e propósito (I Rs 18.37). Segundo o Antigo Testamento, um dos benefícios de se ter um relacionamento pactual com Deus é que Ele estará continuamente se revelando àqueles que lhe obedecem aos mandamentos e preceitos contidos na aliança (Ez 20.20; 28.26; 34.30; 39.22,28; Jl 3.17). (HORTON, 2001, p. 67,68,70)
É possível conhecer a Deus. Embora esse conhecimento seja limitado, ele é suficiente para o ser humano render-se ao Criador ou rejeitá-lo, tornando-se indesculpável e todo este conhecimento é pautado e orientado pelas Escrituras que, dentre outras verdades, informa que as obras e ações de Deus testificam de seu caráter, ou seja, é possível conhecer, não somente o que Ele é capaz de fazer, mas em especial quem Ele é.
Como se vê, os atributos de Deus dizem respeito ao seu caráter e podem ser conhecidos pelas suas obras. Na intenção de fortalecer e aprofundar um pouco mais a compreensão a esse respeito, considere ainda as palavras do salmista (ver Sl 19.1-2).
Há bastante a se dizer sobre esse belíssimo Texto Sagrado, no entanto, aqui se destacam dois pontos: i) as obras de Deus testificam de seu caráter; ii) está claro que um dos aspectos a que o termo glória se refere nas palavras do salmista é o caráter organizacional de Deus, visto na conexão que há em sua criação. Aqui poderia ser inserido outros textos que podem contribuir com a máxima de que aquilo que Deus faz reflete quem Ele é, como o que Paulo ensina em sua Carta aos irmãos que estavam em Roma (ver Rm 1.20).
Não somente as obras criadas por Deus testificam a seu respeito, mas também a forma com que Ele se relaciona e cuida de seu povo, como pela manifestação de sua justiça, de sua fidelidade e de seu amor. Judá dos dias de Jeremias é um exemplo vivo a este respeito, pois, diante de todos os seus desvios, ouviu o interesse de Deus em lhes dar uma nova chance de restauração e experimentar o equilíbrio entre a sua justiça, a sua fidelidade e o seu amor, no contexto do cativeiro babilônico.
Portanto, a presente proposta consiste em discorrer sobre essa íntima e indissociável relação entre o caráter de Deus e as suas obras, visando, sobretudo, a construção da base para a reflexão sobre o compromisso de Deus com a sua promessa em restaurar o seu povo — nos dias de Jeremias —, sobre o fundamento de seu compromisso com a aliança pré-estabelecida.
1. Justiça divina
Sob a inspiração divina, o profeta Isaías anunciou o caráter eterno de Deus (ver Is 40.28). O profeta reafirma a grandeza de Deus e o quão distante le está das condições limitadoras que são inerentes à vida humana, no entanto, não é só a isso que o profeta faz alusão, mas também exalta a soberania e a eternidade de Deus. Considerando que Deus é eterno, é importante elucidar que, assim como outros atributos divinos, a sua justiça é, igualmente, eterna, como bem declarou o salmista (ver Sl 119.142).
A justiça de Deus relaciona-se diretamente com a sua retidão e possui as suas raízes em pureza, quer dizer, a sua santidade. Textos Sagrados não só confirmam a justiça de Deus, mas também a explicam, como em Gênesis 18.25. Em Salmos 7.9-12 são encontradas algumas informações imprescindíveis para uma correta compreensão da justiça de Deus, pois o salmista afirma que o Senhor prova o coração, e com isso, “salva os retos”, pois Ele “é um juiz justo, um Deus que se ira todos os dias”.
Como é de se esperar, o Novo Testamento segue nessa mesma direção, como se vê em Romanos 2.6 e 1Pedro 1.16. Embora a justiça de Deus tenha relação direta com o seu caráter santo e que, conforme as Escrituras confirmam, a partir dela, o Senhor pune o pecador e recompensa o que é justificado por Cristo. Todavia, isso não pode ser tratado como algo arbitrário da parte de Deus, antes, deve ser visto e aceito como algo que lhe é inerente, isto é, de sua própria natureza e aqui é que a relação com outras de suas inúmeras e infinitas qualidades se associam, pois, pela sua justiça Ele aplica o seu juízo e também por ela é que os obedientes são destinados a serem beneficiados por meio de sua bondade e graça, já que por natureza o ser humano não é digno de alcançar o favor divino (Ef 2.6-10).
A justiça de Deus, portanto, não anula e nem invalida outros de seus atributos como o seu amor, a sua bondade e a sua misericórdia, mas, ao contrário disso, estes são acentuados por aquele. A ação divina em enviar Jeremias a advertir Judá durante o cativeiro na Babilônia, somada à reação desse povo e a seriedade com que os seus pecados foram tratados pelo Senhor, ressaltam ainda mais a justiça divina.
Observe o paralelo entre a narrativa bíblica de Jeremias 31.7-14 com a de 30.11, haja vista que, na primeira, o povo se vê radiante diante da promessa de que o Senhor os conduziria à restauração (vv. 7,9), enquanto na segunda, a sua justiça é ainda mais evidenciada, na promessa de que restauraria o seu povo, mas sem deixar de punir os seus pecados (v. 11). A esse respeito leia atentamente o que Gray comenta sobre Jeremias 30.8-11:
Um feixe de luz atravessa a escuridão desse dia tenebroso – eu quebrarei o seu jugo de sobre o teu pescoço (8). O dia da escravidão de Jacó às nações estrangeiras terminará, e Israel servirá ao Senhor […] como também a Davi, seu rei, que lhes levantarei (9). Isso não significa que Davi será levantado da morte, mas que um Ramo Justo da casa de Davi – o Messias – sentará no trono, e a Era Dourada começará. A derrota da Babilônia marcará o início da defesa do povo de Deus, e servirá como um antegozo do que Ele fará por eles até o tempo do Fim. Eis que te livrarei das terras de longe, e a tua descendência, da terra do seu cativeiro (10), é mais uma garantia de que Deus nunca esquecerá do seu povo. Portanto, o verdadeiro Israel de Deus, meu servo Jacó, não tem o que temer, porque Israel certamente tornará a habitar e descansará e ficará em sossego em sua própria casa. A nação precisa lembrar, no entanto, que o castigo divino que veio sobre ela com medida era “designado para corrigir Israel, e, dessa forma, trazer o povo de Deus para seu fim pré-estabelecido”. Israel tem muitos motivos para se alegrar, porque, embora seja Deus que castigue, é esse mesmo Deus que vai salvar (11). Os versículos 10-11 aparecem novamente em 46.27-28. (GRAY, 2016, p. 335)
Diante do exposto até aqui, somado, evidentemente, ao que C. Paul Gray escreveu, conclui-se que o papel da justiça de Deus é o de limitar a ação do mal e cumprir aquilo que está estabelecido por sua santa e soberana vontade. No que se refere ao que Judá experimentou nos dias de Jeremias, em especial no contexto do cativeiro, isso se aplica no sentido de que a justiça de Deus consistiu no fato de a promessa de restauração ter sido feita a esse povo, sem, contudo, deixar de corrigi-lo, como bem se pode perceber em Jeremias 46.27-28.
2. Fidelidade divina
O tema da fidelidade é amplo e pode ser analisado sob diferentes perspectivas, como a que se verifica a necessidade de o homem ser fiel a Deus em todas as instâncias da vida, mas também a que lança o olhar para a fidelidade de Deus, sendo essa última a que aqui é analisada. Declarar a fidelidade de Deus é o mesmo que reconhecer a sua perfeita qualidade em ser constante, quer dizer, não sofrer variações, nem em seu ser, nem em suas palavras e nem mesmo em suas decisões. Em consonância a isso, o apóstolo Paulo afirma que “se formos infiéis, ele permanece fiel; não pode negar-se a si mesmo” (2 Tm 2.13) e esse texto implica em, no mínimo duas lições, incialmente: i) nenhuma circunstância, seja qual for, não altera a essência divina, nem mesmo a infidelidade de alguém; ii) fidelidade perfeita é parte do ser de Deus, não a exercer seria o mesmo que negar-se a si mesmo, e isso é impossível.
Há inúmeros textos que, de forma direta ou indireta, reafirmam que em Deus não há variação e o de Tiago 1.17 é um dos que melhor elucida essa verdade fundamental da fé cristã. Historicamente, isso pode ser confirmado ao longo de toda a narrativa bíblica, inclusive no testemunho que Jeremias deu das misericórdias do Senhor, de seu cuidado e de seu interesse em renovar a sua aliança com o seu povo, mesmo diante do triste e lamentável cativeiro babilônico (Lm 3.21-22).
Em Lamentações 3.22,23 partindo do contexto no qual Jeremias se encontrava quando declarou essas palavras, é nítida a sua intenção em reconhecer que as misericórdias do Senhor florescem em ambientes de destruição e de perdas, e, em segundo lugar, ele as coloca como que sustentadas pela fidelidade de Deus, como uma sinalização de que o caráter permanente, imutável e constante de Deus é a garantia de que, ainda que em tempos de disciplina, o seu povo pode confiar e esperar em suas misericórdias.
A fidelidade de Deus é parte indissociável de seu ser, ou seja, Ele é fiel e não é possível ser diferente disso. Pela instrumentalidade de Jeremias, Deus prometeu restaurar o seu povo e se apresentou como Pai (30.9), como o pastor que conduz o seu povo (10), como o resgatador (11), o consolador (13) e a fonte que sacia o seu povo (14), reafirmando assim a sua fidelidade demonstrada em seu compromisso, não somente com o seu povo, mas em especial com a aliança que com Ele foi estabelecida e consigo mesmo. Sendo assim, a fidelidade de Deus se manifesta em sua justiça, no entanto, ela também se firma no seu interesse gracioso e irrevogável de restaurar o seu povo que, embora tenha se desviado e se afastado de seu Senhor, continuava a ser o objeto, isto é, o alvo de seu amor (30.11).
3. Amor divino
Em 1 Coríntios 13.1-3, Paulo expõe de forma brilhante a verdade de que é o amor quem autêntica todas as boas obras diante de Deus tornando-as aceitas por Ele. Isso está em total concordância com as palavras de Jesus à igreja que estava em Éfeso que, embora fosse uma comunidade de fé admirável em sua dedicação ao trabalho, em sua paciência diante das adversidades, em sua resistência aos maus e não tolerante aos falsos obreiros, todavia, recebeu a triste notícia do próprio Senhor (ver Ap 2.4).
A razão pela qual essa virtude é a que torna as boas obras aceitáveis é o fato de que o amor é a forma pela qual o apóstolo João, de certo modo, apresentou a Deus (ver 1 Jo 4.8,16).
Seguindo na mesma direção em harmonia admirável, o apóstolo Paulo apresenta o amor como o recurso divino por meio do qual as boas obras são vinculadas e consideradas perfeitas pelo Senhor (Cl 3.14). Ainda neste mesmo contexto, é preciso mencionar que Paulo faz menção à ira de Deus que vem contra todas as práticas de desobediência (v. 6), contudo, o amor de Deus é apresentado, não como o que anula a ira e nem tampouco como que é anulado por ela, mas, sim, como a virtude que torna as obras que evidenciam a nova vida em Cristo louváveis e autênticas diante do Senhor (vv. 1-17).
Uma das definições que Paulo dá para o amor é que ele “é sofredor” (1 Co 13.4) e, em conformidade com Salmos 86.15, o amor é relacionado ao sofrimento. Certamente, uma geração como a atual, viciada em entretenimento, acostumada com uma tecnologia que lhe oferta aquilo que agrada e a mantém anestesiada diante dos embates da vida, não está disposta e nem preparada para o sofrimento, sendo este, provavelmente, o motivo principal do amor se esfriar, conforme as palavras de Jesus (ver Mt 24.12).
A reflexão aqui proposta visa, sobretudo, permitir uma análise segura sobre a relação do amor e a disciplina de Deus. Há uma tendência nas pessoas em pensar que a disciplina é a ausência do amor, entretanto, à luz das Escrituras, é exatamente o contrário disso, conforme Hebreus 12.6 que é, em certo sentido, uma replicação de Provérbios 3.12, textos nos quais encontram-se a máxima de que “Deus corrige a quem ama”.
Essa doutrina sobre o amor de Deus é encontrada de forma prática na história de Judá, mui especialmente nos dias de Jeremias, haja vista que o amor de Deus é visto de forma vívida no seu interesse e na sua promessa de restaurá-lo no contexto do cativeiro, pois, essa condição não visava a sua destruição, mas a sua correção, afinal de contas, esse povo foi lembrado pelas palavras do profeta a respeito da presença e do cuidado do Senhor para com eles (Jr 30.10-11; 31.8-9). A restauração de Judá, portanto, foi fundamentada no amor de Deus, à semelhança de sua justiça e de sua fidelidade.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Verônica Araujo
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Exortação, arrependimento e esperança: o ministério profético de Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.
