Lição 10: Davi: Marido e Pai
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria de Telma Bueno.
INTRODUÇÃO:
A lição deste domingo tem como objetivo fazer uma reflexão a respeito de Davi como marido e pai. Iniciaremos nossa reflexão observando como era a sua vida familiar na casa do seu pai e como ela era visto pelos seus familiares. Davi foi esquecido pela sua família quando Samuel foi à sua casa para, segundo as ordens de Deus, ungir o futuro rei. O texto bíblico diz que Jessé fez passar os seus sete filhos perante Samuel (1 Sm 16.10), mas ninguém se lembrou do jovem que estava no campo pastoreando as ovelhas. As palavras de Jessé a Samuel demonstrava desprezo. Ele diz: “Falta o menor”. Aqui não é uma referência à idade, mas ao fato de que não viam qualidades em Davi, tratando-se, portanto, de algo pejorativo.
Mais tarde, podemos ver a raiva que o irmão primogênito demonstra contra Davi. O jovem pastor, obedecendo a uma ordem do seu pai, vai ao local da batalha e ali é humilhado e confrontado de forma odiosa pelo seu irmão Eliabe, que diz: “[…] por que desceste aqui? E a quem deixaste aquelas poucas ovelhas no deserto? Bem conheço a sua presunção e a maldade do teu coração” (1 Sm 17.28).
Eliabe tinha uma visão distorcida do irmão que era resultado da inveja e rejeição que nutria no coração. Ele não deve ter entendido o fato de o irmão caçula ser escolhido como rei, e não ele, que era o primogênito. Deus, porém, olha o coração, e o irmão de Eliabe, embora mais novo, era “homem segundo o coração de Deus”. Davi foi rejeitado pela sua família e depois teve que enfrentar as perseguições do seu sogro, Saul. O sentimento de rejeição é um dos mais difíceis de serem curados. Davi, contudo, foi tratado pelo seu Bom Pastor, que certamente ungiu as feridas da sua alma e preparou para ele uma mesa farta perante os inimigos (Sl 23).
I – FAMÍLIA, UM PROJETO DE DEUS:
A família faz parte do plano de Deus para o homem. Foi Ele mesmo que a criou e continua considerando-a como o esteio na formação integral do ser humano. Na atualidade, temos visto a disfunção familiar destruindo muitos lares, até mesmo dos cristãos. Temos visto maridos que não amam as suas esposas, mulheres que não respeitam os seus maridos, filhos que não respeitam os pais, e pais que não cuidam dos seus filhos. Na atualidade, o caos tem-se instalado em muitos lares — é o que chamamos de disfunção familiar. Disfunção significa “funcionamento anormal ou prejudicado”.1 Tal funcionamento anormal é perigoso e traz consequências nefastas para a família e para a sociedade como um todo. Basta olhar o exemplo de Davi. Não foi somente ele que sofreu as consequências dos seus erros como esposo e pai, mas todo o reino, o povo de Deus.
Quando uma família é afetada pela disfunção familiar, todos sofrem, especialmente as crianças, pois, quando crescem, tendem a repetir os padrões vistos em casa. Os filhos de Davi viram e ouviram muitas tramas. Quando se tornaram adultos, como Absalão, repetiram os mesmos erros, reproduzindo comportamentos. Alguns poderiam até achar que se trata de “maldição hereditária”, mas não é. Sabemos que pessoas que foram feridas tendem a ferir os
outros. Adultos que sofreram abuso sexual, violência física ou psicológica quando crianças tendem a tornarem-se adultos também violentos. É instalado o que chamamos de ciclo da violência, que pode e deve ser quebrado. Quando recebemos uma nova vida em Cristo pela fé, necessitamos reorganizar nosso sistema de valores, sentimentos e maneira de vermos o mundo ao nosso redor. Se, porventura, fomos criados num lar disfuncional, não é desculpa para não quebrarmos o ciclo da violência e dor, pois, agora, como novas criaturas, temos o Espírito Santo habitando no interior. Ele pode e quer ajudar a cada um de nós. O casamento, que dá início a um novo núcleo familiar, é difícil, pois é a união de duas pessoas com temperamentos, personalidades e caracteres distintos que vieram de famílias diferentes, algumas até disfuncionais, onde os seus pais valorizavam os bens materiais, a competição entre os irmãos, a aparência física, etc. O que fazer então? Pedir a ajuda de Deus e abandonar o seu antigo núcleo familiar (a casa dos seus pais), com as suas dores e traumas. Agora se deve, com a ajuda de Deus e da sua Palavra, aprender a considerar o outro superior, carregar a carga do cônjuge, oferecer a outra face, amar o outro como a si mesmo. Talvez você esteja dizendo: “Mas isso é muito difícil”. Sim, realmente é, mas também é fundamental para que rompamos com ciclos familiares doentios. Tratar traumas e desfazer sentimentos de rejeição e dor na alma são coisas complexas. Caso precise de ajuda, ore, busque ao Senhor e procure a ajuda de um profissional de saúde mental. A família é a base da sociedade; se alguma coisa vai mal, todos sofrem. É por isso que somos alertados pela Palavra de Deus para o fato de que nenhum reino (instituição) e casa que estiverem divididos poderão subsistir (Mt 12. 25).
A Disfunção Familiar na Casa de Davi:
Davi era um homem segundo o coração de Deus, mas isso não evitou que a disfunção entrasse na sua família. Quando era jovem, matou um gigante, e a sua história de vida é a de um homem bem-sucedido, pois começou a sua jornada como pastor e terminou como rei e fez com que a nação de Israel chegasse ao nível de um poderoso reino que controlava a maior parte do Oriente Médio. Davi foi um homem segundo o coração de Deus (At 13.22), mas isso não significa que não tivesse falhas. Como seres humanos, erramos, porém, precisamos reconhecer nossos erros, buscar o perdão de Deus, pedir perdão e tentar reparar as falhas.
A família desse homem segundo o coração de Deus passou por conflitos terríveis. Satanás fez de tudo para destruir a família de que descenderia o Messias e vai fazer de tudo para que os planos de Deus não se realizem na sua família.
Sabemos que Davi teve muitas esposas (2 Sm 3.1-5) e filhos. Um dos seus filhos chamava-se Absalão. Este era um jovem bonito, mas a sua alma precisava de cuidados. Matou um irmão (2 Sm 13.23-36) e tentou tomar o lugar do pai no trono, que fugiu para não ter que matar o próprio filho (2 Sm 15). Mas as atitudes insanas de Absalão não param por aí. Ele envergonhou o pai publicamente (2 Sm 19.5). Davi, embora tivesse falhas, era um pai amoroso e pediu que Absalão, que se tornara um perigo para a família e o reino, fosse poupado (2 Sm 18.5).
Os problemas e conflitos foram muitos na família de Davi. A Bíblia diz que Amnom, primogênito de Davi, meio-irmão de Tamar, forçou-a cometendo um incesto (2 Sm 13.1-22). Davi ficou irado ao tomar conhecimento dessa tragédia (2 Sm 13.21); no entanto, parece que não repreendeu ou corrigiu o jovem. Se fôssemos relatar tudo o que aconteceu de ruim na família de Davi, faltaria espaço, mas creio que Davi lutou bravamente pela sua família, assim como lutou em favor do seu povo.
Como é sua família? Talvez você também tenha sérios problemas, como Davi, mas não renuncie ao seu casamento e nem renuncie à sua família. Continue lutando, não desista! Davi não deixou que os seus problemas o afastassem da presença do Senhor. Ele certamente derramou muitas lágrimas, mas os seus lábios não se calaram, e ele adorava a Deus, amava estar na Casa do Senhor e certamente intercedia pelos seus (Sl 122.1). Não deixe que os problemas enfrentados em sua família o afastem da presença de Deus.
A Responsabilidade de Davi como Pai:
O psiquiatra Içami Tiba (1941–2015) escreveu: “A herança genética está nos cromossomos. Mas desde o nascimento a criança absorve o modo de viver, o como somos, da família”. Os pais são modelos e, por isso, devem ser exemplo. A primeira forma de aprendizagem que as crianças experimentam é pela imitação. Não adianta repetir a Palavra de Deus a todo momento para o seu filho se você não a pratica. Eles precisam ver Deus nas suas ações e atitudes. Todo crente deve ser cumpridor da Palavra, mas quem tem filhos tem uma responsabilidade ainda maior com ser “cumpridores da palavra e não somente ouvintes, enganando-vos com falsos discursos” (Tg 1.22). Conhecer e ler os preceitos divinos, mas não os praticar é tolice. Davi conhecia a Lei do Senhor, confiava nEle, mas parece ter deixado de praticar alguns princípios em família. Fica aqui um alerta para nós: Não somente conheça a Palavra, mas pratique-a, pois o amor a Deus manifesta-se em ações. Praticar a Palavra em família é amar o outro (Tg 2.8), praticar a justiça e viver com integridade (Tg 3.17,18).
No caso de Amnom e Tamar, Davi foi omisso. Ele não disciplinou Amnom por ter cometido um ato tão cruel, repugnante, nem confortou a sua filha, a vítima. Tamar sofreu um abuso. Ela foi ferida no corpo e na alma. Em meio à dor e à injustiça, Absalão ocupa o espaço dei-xado por Davi e consola a irmã, cuidando dela e protegendo-a. Mais tarde, Absalão homenageia a sua irmã dando à sua filha o nome dela (2 Sm 14.27). Já que Davi não fez nada como rei e nem como pai, Absalão sente-se no direito de fazer justiça com as próprias mãos. A omissão de Davi, no entanto, não passou despercebida aos olhos de Deus, pois o Senhor trouxe juízo sobre a casa de Davi. O preço pago pela omissão custou muito caro. Esse triste episódio ensina-nos uma importante lição: Não seja omisso, participe da vida de seus filhos, cuide de sua família.
Analisando a vida de Davi como pai, vemos o dever que os pais têm de serem exemplos de integridade espiritual e pureza moral, pois é somente assim que terão condições de confrontar os erros e não se sentirem hipócritas ou culpados. Davi falhou e talvez por isso, não podemos afirmar, tenha tido dificuldade em punir os erros dos seus filhos e corrigir a sua família. A função do pai vai muito além de ser o provedor do lar. Quando você não conhece os gostos, as preferências, as aptidões e os amigos dos seus filhos, está sendo omisso. Quando os pais não disciplinam os filhos, como no caso de Davi, também estão sendo omissos, pois a falta de limites é também omissão. Todos nós precisamos de disciplina. Quando os filhos não têm parâmetros a seguir, ficam perdidos e inseguros. Provérbios 29.17 declara: “Discipline seu filho, e este lhe dará paz; trará grande prazer à sua alma” (NVI). Durante muito tempo, os filósofos discutiram se o homem nascia com a índole boa e depois se tornava mau, ou se ele já nascia mau. Hoje os psicólogos chegaram à conclusão de algo que já estava explícito na Palavra de Deus — o indivíduo precisa ser instruído e necessita de disciplina para ser uma pessoa de bem desde que nasce. Quem ama não tem medo de disciplinar.
Não há nada de mal em ser amigo dos filhos — bom seria se os pais fossem os melhores amigos deles. Mas o problema é que alguns se tornaram, na verdade, “colegas”. Existe diferença entre amizade e coleguismo (basta dar uma olhada no dicionário). Acredito que os filhos e filhas de Davi não queriam ter em casa um “matador de gigantes”, um bravo guerreiro ou um rei, e muito menos um “colega” — eles queriam um pai. Trata-se de uma pessoa que ama, que disciplina, que sabe dizer “não” na hora certa, que cobra o dever de casa, que estabelece uma rotina, que não os deixa comer guloseimas fora da hora, que os manda tomar banho, escovar os dentes e por aí vai. É preciso ser pai!
II – NO CASAMENTO, UMA SÓ CARNE:
Já vimos nos capítulos anteriores que Davi cometeu muitos erros enquanto rei, e na vida familiar dele não foi diferente. Ele teve várias esposas, contrariando a advertência divina (Dt 17.17), e a sua casa foi marcada por diversas atitudes questionáveis. O que poderia explicar os muitos casamentos de Davi, “um homem segundo o coração de Deus”? De acordo com o pastor Marcos Tedesco, no seu comentário na Revista Lições Bíblicas Jovens (2º trimestre/2025), “primeiro era comum os monarcas nos tempos antigos terem muitas esposas
para garantir a sucessão no trono; segundo, para estabelecer alianças políticas e econômicas e a ampliação da influência da família real; terceiro, a manutenção de um costume da época em que os reis deveriam ter muitas esposas como símbolo de poder e riqueza”.
Na narrativa de Gênesis, fica evidente que o Senhor Deus projetou o casamento para ser monogâmico. Depois da Queda, no entanto, vemos o primeiro caso de poligamia registrado nas Escrituras Sagradas por Lameque, o sétimo membro da linhagem de Adão através de Caim (Gn 4.19). Com o crescimento do pecado, não demorou para que tal prática acabasse virando um costume. Mais tarde, vemos Jacó, Davi, Salomão (1 Rs 11.1-7) e outros (Gn 29.21-30) envolvidos nessa prática. Tal prática, no entanto, nunca foi o padrão divino para o homem, e Deus, no livro de Deuteronômio, fez um alerta quanto ao rei ter várias esposas: “Tampouco para si multiplicará mulheres, para que o seu coração se não desvie; nem prata nem ouro multiplicará muito para si” (Dt 17.17). Deus não criou a poligamia, mas tolerou-a por um período. Que fique claro, portanto, que todos os homens que experimentaram dela tiveram sérios problemas familiares (1 Sm 1.1-6). No Novo Testamento, Jesus ratificou a monogamia (Mt 19.4-6). Mais tarde, a Igreja Primitiva também confirmou o casamento monogâmico, pois Paulo adverte a Timóteo que os pastores deveriam ter somente uma esposa (1 Tm 3.2). Pelo Código Civil Brasileiro, a poligamia é crime, não havendo lugar para ela na Igreja de Cristo. Os costumes mudam, as famílias também, mas os princípios divinos não.
Um Casamento à Luz da Bíblia:
O casamento é algo divino, uma aliança indissolúvel entre um homem e uma mulher perante o Criador. Quando Deus criou o primeiro casal, abençoou-os e ordenou que frutificasse e se multiplicasse (Gn 1.17). O livro de Gênesis também nos mostra que tudo o que o Pai criou é bom, e isso inclui a sexualidade. O relacionamento sexual, a consumação do casamento, nunca foi, em si mesmo, pecaminoso, sendo estabelecido por Deus para ser desfrutado no casamento antes que o pecado entrasse no mundo (Gn 2.21-25).
Ao nascer, fomos dotados de instintos (tendência natural) específicos sem os quais nossa sobrevivência seria impossível. O impulso sexual caracteriza o instinto de preservação da espécie. Depois da Queda, no jardim do Éden, o homem pecador passou a deturpar esse impulso divino, gerando as muitas aberrações que sabemos existir hoje, mas isso não invalida a intenção de Deus de abençoar o homem e perpetuar a espécie através da sexualidade sadia, ou seja, a do casamento. Provérbios 5.18 diz: “Seja bendito o teu manancial, e alegra-te com a mulher da tua mocidade”. A vida sexual saudável dentro do casamento tem a bênção de Deus, além de dar alegria e prazer (Hb 13.4).
Satanás, que induziu o homem a pecar contra Deus, tem um plano oposto aos propósitos estabelecidos pelo Criador. Ele tem trabalhado em favor da banalização do sexo, da pornografia, do adultério e, consequentemente, da destruição da família. Davi errou ao cometer um adultério e sofreu sérias consequências. Fica aqui uma advertência para nós, pois temos visto na atualidade que muitos erroneamente já começam a ver a infidelidade conjugal como uma prática normal. Contudo, de acordo com a Palavra de Deus, o adultério é e conti-nuará sendo pecado. Tanto no Antigo Testamento quanto no Novo, encontramos sérias advertências contra a infidelidade conjugal (Êx 20.14; Dt 5.18; Rm 13.9; Gl 5.19). A princípio, a quebra do sétimo mandamento pode parecer até prazerosa, como talvez Davi tenha acreditado, mas o seu fim é amargoso como o absinto (Pv 5.4). Com a infidelidade, vem a disfunção familiar e, como já vimos, a disfunção é perigosa e destrutiva para toda a família, para a Igreja do Senhor e para a sociedade de um modo geral.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!