Lição 1 – Gálatas: A carta da liberdade cristã
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO:
Todos precisamos, em algum momento, ser lembrados da importância de assuntos como liberdade, graça, obras e salvação. Vez ou outra surgem pessoas que ensinam um evangelho parecido com o evangelho de Cristo, mas, de alguma forma, com algumas pitadas de diferença, com argumentos de que a salvação precisa ser ajudada pelas obras, ou que o sacrifício de Jesus precisa ser completado com ações humanas, sem as quais a salvação seria incompleta. Tais pensamentos acabam aprisionando os crentes em práticas que são estranhas à mensagem de Cristo e dos apóstolos.
A Carta de Paulo aos Gálatas é uma defesa da salvação pela graça em detrimento da pretensa salvação pelas obras. A doutrina que ela apresenta traz aos leitores do primeiro século (e a nós também) o esclarecimento necessário de que não dependemos de obras para sermos salvos, pois o sacrifício de Jesus foi suficiente para que fôssemos perdoados de nossos pecados e recebidos por Deus como filhos.
Os crentes gálatas eram homens e mulheres que foram alcançados pela pregação e o ensino da salvação oferecida por Jesus, mas que, em algum momento, se deixaram levar por ensinos diferentes dos que suas vidas. Por isso, rever os ensinos do apóstolo nessa carta faz com que reflitamos sobre a importância de valorizar o sacrifício de Jesus e não nos deixarmos levar por ensinos estranhos, que buscam colocar o esforço humano como um substituto à graça de Deus.
I – A CARTA AOS GÁLATAS:
O contexto:
Deus enviou o seu filho, nascido de mulher, nascido sob a Lei (Gl 4.4), para que o seu amor fosse demonstrado aos pecadores, e estes, crendo no evangelho, fossem salvos. Inicialmente, o evangelho foi pregado e ensinado primeiro aos judeus e, depois, aos gentios. Em um primeiro momento, apesar de Jesus ter dito que os confins da terra seriam incluídos no seu plano de salvação, nossos irmãos judeus não tiveram pressa para sair de Jerusalém e proclamar as Boas Novas. Eles estavam vivendo os milagres de Deus e um grande avivamento, mas não se sentiram impulsionados a levar o evangelho além das fronteiras geográficas conhecidas. Até que veio a perseguição.
Só com o passar do tempo que um grupo de judeus salvos por Cristo deslocou-se pelo império, plantando a semente do evangelho em outras terras e tornando o nome de Jesus conhecido, inicialmente nas sinagogas e, posteriormente, entre gentios. Então o evangelho de Cristo espalhou-se pelo Império Romano também por conta do trabalho específico de obreiros como, por exemplo, Barnabé e Saulo, que foram enviados por Deus e pela igreja em Antioquia às nações gentias como missionários. Essa fase inicial da Igreja é apresentada no livro de Atos dos Apóstolos. O segundo livro de Lucas concentra-se nas atividades dos apóstolos, dando destaque generoso ao ministério do apóstolo dos gentios.
Mas a História da Igreja não se resume aos relatos de Lucas, que, inspirado pelo Espírito Santo, registrou os acontecimentos relativos às atividades missionárias. As cartas dos apóstolos mostram-nos outros acontecimentos nesse período. Heresias, falsos mestres e a necessidade constante de vigilância para com o rebanho que estava nascendo ocuparam parte dos trabalhos e escritos apostólicos. Os problemas ocorridos no primeiro século podem repetir-se com o passar do tempo.
Muitos gentios tornaram-se cristãos, e, com o aumento de não judeus entrando na igreja, crendo que a salvação prometida por Cristo vinha pela fé, surgiu o que vamos chamar de “choque cultural”: um grupo de judeus, que também tinha crido em Jesus, passou a ensinar que a salvação também dependia da guarda da Lei de Moisés. Jesus era judeu e guardou a Lei, sujeitando-se a ela. Por que, então, os gentios que receberam a Jesus não seguiriam a Lei de Moisés para serem salvos?
Os seguidores de Jesus deveriam, portanto, passar também pelo mesmo rito e, como Ele, praticar a guarda da Lei. O grupo de judeus que disseminavam essa ideia é denominado de judaizantes. Como veremos, esse grupo deu trabalho por onde passava, pois o seu ensino, de forma praticamente imperceptível aos gálatas e a outros grupos, enfatizava o esforço humano como um auxiliar à graça de Deus.
O autor:
Paulo é o autor da Carta aos Gálatas. Ele identifica-se como tal logo no primeiro versículo, não dando margem para que outra pessoa possa ser apresentada como responsável pela autoria. Como veremos, a sua autoridade apostólica foi questionada por um grupo de judeus, e ele identifica-se de imediato aos seus leitores. Colocar o seu nome na carta que escreveu foi uma forma de identificar-se aos seus leitores, e os detalhes que são apresentados na carta mostram que Paulo conhecia os irmãos gálatas. Ele é o autor da carta e tem autoridade para escrever e admoestar os seus leitores.
O motivo da carta:
A Carta aos Gálatas foi escrita com o objetivo de alertar os crentes da Galácia acerca do perigo que estavam correndo por acrescentar a prática da Lei de Moisés à mensagem do evangelho. Eles já haviam crido na mensagem do evangelho, não sendo necessário agregar às suas vidas nenhum dos elementos da lei cerimonial ou civil que o Senhor dera aos hebreus por ocasião da sua saída do Egito. Isso pode estar claro para nós, leitores do século XXI, mas não para os crentes gálatas. Devemos sempre nos lembrar de que, no primeiro século, haviam circulado pelas igrejas pessoas que introduziam doutrinas diferentes das que eram ensinadas pelos apóstolos e que, por isso, as igrejas precisavam ser lembradas do verdadeiro evangelho e das suas práticas.
Deus usa o apóstolo Paulo, um homem de formação intelectual farisaica, mas devidamente convertido a Jesus, para orientar os leitores de que a Lei de Moisés fora dada por Deus aos hebreus, e não aos gentios. Como veremos posteriormente, a própria igreja de Jerusalém já havia traçado parâmetros para que o evangelho fosse apresentado entre os gentios e sem a necessidade da circuncisão (At 15.28,29). A partir desse ponto, trataremos a palavra circuncisão como um sinônimo da guarda da Lei de Moisés, e não somente a cirurgia exigida para os gentios que desejavam tornar-se judeus.
Uma das coisas que mais o ser humano deseja é a liberdade, e a Carta aos Gálatas trata disso. Não se trata da liberdade para ir e vir, escolher onde trabalhar ou que carreira seguir, com quem se casar e onde vai residir. Essas são escolhas naturalmente importantes advindas da liberdade, mas, para muitas pessoas, liberdade é aproveitar as oportunidades para satisfazer os seus próprios impulsos carnais. Isso não é liberdade. É uma prisão. A liberdade proposta por Cristo é mais do que ser independente nas suas decisões; é ser perdoado, justificado e não estar debaixo do pecado ou de seguir regras que tentam diminuir o poder do sacrifício de Jesus.
II – A SAUDAÇÃO PAULINA:
Paulo, apóstolo, não da parte dos homens
Paulo inicia a Carta aos Gálatas com a sua identificação nominal. Ele era conhecido pelos irmãos daquela região, e eles não teriam dúvida de quem era o autor desse documento. Ele também acrescenta um título ao seu nome: apóstolo. Diferentemente de um título honorífico ou que trouxesse a ideia de ser um obreiro diferenciado, o apóstolo era um “enviado”, alguém que havia sido escolhido para levar uma mensagem. Era uma honra, mas igualmente uma grande responsa-bilidade ser portador das Boas Novas.
Ele completa com mais uma sentença: “[…] não da parte dos homens”. Esse aspecto é importante, pois ele não teria escrito tais palavras se a sua autoridade apostólica não estivesse sendo colocada em xeque pelos seus acusadores, os judaizantes. Era necessário que ele mostrasse — como ele vai fazer — que a sua chamada vinha de Deus.
Os rumores divulgados pelos judaizantes — de que Paulo não era um dos doze — mostraram-se verdadeiros. Se ele não havia andado com os apóstolos de Jerusalém, que autoridade teria para ser um apóstolo? Os judaizantes sugeriram que, se Paulo não fora enviado por Jerusalém, então não teria autoridade para ensinar, doutrinar ou falar de Jesus como quem foi comissionado para tais ações. É verdade que Paulo não andou com os doze por ocasião do ministério terreno de Jesus, mas, da mesma forma como os doze, ele foi ensinado pelo próprio Jesus, como ele descreve (Gl 1.12).
Da parte de Jesus e Deus Pai:
Após se apresentar como remetente da Carta, Paulo deixa claro a origem do seu apostolado: ele vinha da parte de Jesus e de Deus Pai, que ressuscitou a Jesus dentre os mortos. Em um único verso, ele destaca a atuação conjunta do Pai e do Filho, bem como o milagre da ressurreição do Senhor. Foi o Jesus ressuscitado que apareceu a Paulo quando este se dirigia a Damasco. Sem essa ressurreição, Paulo não teria sido salvo, não se tornaria um discípulo e não teria sido comissionado aos gentios.
Paulo havia recebido a mensagem do evangelho do Senhor Jesus, e isso nos mostra que as Boas Novas têm origem divina. Essas Boas Novas estavam em risco, e Paulo percebeu que os gálatas, mesmo crentes, precisavam ser novamente ensinados acerca do evangelho. Essa carta é uma defesa do verdadeiro evangelho para os gálatas, que já tinham experimentado a salvação, mas que estavam caindo da graça (Gl 5.4).
Não devemos ficar surpresos sobre ser necessário lembrarmo-nos continuamente do evangelho que recebemos. O esquecimento pode fazer com que trilhemos caminhos distantes daquEle que nos salvou.
Os irmãos que estão comigo:
Paulo tem a humildade de dizer que não está fazendo a obra de Deus sozinho. Mesmo não mencionando os nomes dos seus companheiros de ministério, ele mostra aos gálatas que fazemos melhor a obra de Deus quando temos comunhão uns com os outros e que podemos servir ao Senhor em um grupo de pessoas. Como um corpo, podemos ser úteis com diversos talentos. Trabalhar para Deus em grupo é uma bênção.
Deus certamente nos dá talentos diversos para que sejam exercidos na sua obra, e um complementa o outro. Ele não dá tudo para uma única pessoa.
Os destinatários:
Os destinatários dessa carta eram os irmãos das “igrejas da Galácia” (Gl 1.2). Observe que esse documento não era para uma única igreja, como foram a Carta aos Romanos, a Carta aos Coríntios ou aos Efésios, cujos destinatários, como se entende, pertenciam a uma igreja localizada em uma única região. Os gálatas pertenciam a um grupo de igrejas.
Uma questão que vem sendo levantada é para qual região da Galácia o apóstolo está escrevendo. Nessa esteira, há uma discussão sobre a região da Galácia ser dividida em partes Norte e Sul. Era
uma região grande e, por conta de migrações populacionais históricas advindas de guerras e invasões, nem sempre é tão simples definir quem foram os gálatas.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
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