Lição 2 – O Falso Evangelho
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Alexandre Coelho, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO:
Na lição anterior, vimos questões introdutórias acerca da Carta de Paulo aos Gálatas, a forma como o apóstolo inicia o documento saudando os irmãos e mostrando as suas credenciais de apóstolo comissionado por Jesus. Neste segundo capítulo, veremos o espanto do apóstolo diante do que estava acontecendo nas igrejas gálatas. Ele passa diretamente ao assunto que pretende tratar com os irmãos: a invasão de ideias e práticas judaizantes na comunidade dos santos gentios e as consequências dessas ideias na vida dos irmãos.
Veremos esse assunto sendo tratado mais vezes e de mais de uma forma. Palavras como “lei”, “graça”, “liberdade”, “carne” e “Espírito” são usadas pelo apóstolo a fim de explicar aos gálatas o risco que eles corriam por adotarem um estilo de vida incompatível com o projeto de Deus. E isso vale para hoje.
UM APÓSTOLO SURPRESO:
Paulo se mostra impressionado:
Tudo o que é novidade chama atenção. Um carro novo, uma descoberta científica nova ou um novo aparelho eletrônico tendem a ser o alvo da atenção das pessoas, que, curiosas, buscam saber do que aquilo se trata, das suas vantagens, do quanto custa e dos benefícios que podem receber por possuírem aquele novo bem. Temos duas novidades no caso dos gálatas: a primeira é que os gálatas receberam de boa-fé um evangelho parecido com o que havia sido pregado por Paulo; a segunda é que aquele evangelho nem de longe se parecia com o que Paulo havia pregado. Essas notícias deixaram Paulo impressionado. Aquele ensino estava prosperando entre os convertidos gálatas, e os efeitos que produziam eram danosos para aquela igreja.
O espanto de Paulo não foi advindo de milagres acontecendo naquelas igrejas, ou de conversões de pagãos, ou mesmo por pessoas estarem sendo cheias do Espírito. Não vinha de uma possível facilidade pela abertura à pregação da Palavra de Deus num ambiente hostil, ou ao crescimento de obreiros vocacionados sendo reconhecidos e dando prosseguimento ao trabalho ministerial. Entretanto, não adiantava ficar espantado com as notícias que havia recebido. Paulo precisava agir e ser direto na sua comunicação.
O apóstolo vai direto ao assunto. Ele não apresenta uma oração pelos seus leitores, nem os elogia, como faz no início das suas cartas. Até os coríntios, com toda a sua dificuldade para administrar os problemas de pecados que havia entre eles, são chamados de “santos” antes de lerem as duras críticas do apóstolo sobre o comportamento que tinham. Paulo não começa elogiando os gálatas. Que elogio deveriam receber se estavam dando ouvidos a um evangelho que não vinha de Jesus?
Aquele novo ensino estava trazendo uma perturbação para aquelas igrejas, e esse tipo de doutrina precisa ser combatido imediatamente. Os gálatas deram atenção a um evangelho diferente do que Paulo havia pregado, e esse evangelho não os incentivava a serem mais sujeitos à ação do Espírito ou mais ativos na comunhão dos santos; pelo contrário, incentivava os gálatas a desconsiderarem a graça e a tentarem pagar uma dívida que eles jamais quitariam por meio de obras.
Paulo destaca a expressão “tão depressa” para marcar não só a inconstância dos gálatas, como também o pouco tempo que eles levaram para serem convencidos de outra doutrina. Parece que eles ouviram o evangelho e creram nele tão rapidamente quanto ouviram outro evangelho e creram nele também. A raiz dos gálatas ainda não estava solidificada. E foi com essa situação — a de outro tipo de mensagem chegando e ganhando espaço — que foi perceptível a Paulo que os gálatas não tinham condições ainda de andarem sozinhos. Eles precisavam de ajuda.
Não nos espanta que, entre o povo de Deus, haja pessoas que são atraídas por novos ensinos e que se deixam levar facilmente por doutrinas que não têm respaldo algum nas Escrituras. Da mesma forma como nos dias do primeiro século, temos nossa cota de falsos mestres e falsos profetas que “se usam” em nome de Deus e convencem muitas pessoas. Os gálatas tiveram um Paulo para adverti-los, e hoje temos as Escrituras completas para que nos sirvam de base de ensino e de referência. As Escrituras servem-nos de modelo para a leitura, interpretação, ensino e prática do que Deus deseja para nossa vida. É bem possível que ainda tenhamos esse tipo de situação ocorrendo em nossos dias após séculos de História da Igreja e doutrina solidificada: pessoas que possuem pouca firmeza doutrinária e que abraçam ensinos que têm a capacidade de afastá-las do verdadeiro evangelho.
Que o exemplo ocorrido com os gálatas nos mostre que, para ser uma igreja firme, não podemos desprezar a verdadeira doutrina que está nas Escrituras, muito menos deixar de julgar conforme a Palavra os tipos de discursos que temos ouvido. Pelo fato de ouvirmos muitas pessoas com pensamentos diferentes, acabamos tendo acesso a um conjunto de opiniões que divergem entre si e que deixam muitos de nossos irmãos confusos e sem uma base sólida. A pouca firmeza no que tinham aprendido e a incapacidade de julgarem uma doutrina como errada servem-nos de exemplo para que nos firmemos no exercício da verdade.
Da graça para a lei:
O apóstolo menciona que havia surgido um segundo evangelho. Ele vinha de um grupo de judeus de Jerusalém, e o discurso dessas pessoas pode ser assim definido pelo apóstolo: “O qual não é outro, mas há alguns que vos inquietam e querem transtornar o evangelho de Cristo” (Gl 1.7).
Os gálatas estavam mudando de um evangelho estruturado no ensino da graça de Deus para um “evangelho” que tinha como base a guarda da Lei de Moisés. Eles perderam facilmente o apreço ao conceito e à graça de Deus. Talvez achassem que a dívida paga por Cristo ainda tivesse resíduos e que as obras, juntamente com a salvação, ajudassem-nos a serem mais amados ou perdoados por Deus. Eles esqueceram-se de que a graça de Deus e o sacrifício de Jesus eram suficientes para salvá-los.
Como isso se deu? Eles receberam o seguinte ensino: para realmente serem salvos, deveriam ser circuncidados e, então, seguir a Lei dada aos hebreus pelo Senhor. Bastou o apóstolo afastar-se do convívio daqueles irmãos que logo eles deram crédito a uma pregação diferente da que haviam recebido originalmente.
Eles precisavam entender a importância da graça divina. O tema “graça de Deus” permeia a Carta aos Gálatas e é muito importante, nunca devendo ser esquecido ou ignorado.
Outro evangelho:
A palavra “outro”, na língua portuguesa, é um pronome indefinido utilizado de forma ampla para designar algo ou alguma coisa que seja da mesma natureza, que seja semelhante ou, então, que seja de outra natureza. Para definir o exato significado, precisaremos saber o contexto em que essa palavra está sendo usada. Na língua grega, a palavra outro tem duas percepções distintas, advindas igualmente de duas palavras distintas: allós, que significa “outro da mesma espécie”, e heteros, que significa “outro de outra espécie”. Na primeira designação, a opção apresentada é a de um objeto ou ser da mesma espécie, com possíveis variações, tais como um tigre e um leão, que são felinos, mesmo sendo animais diferentes entre si. Por sua vez, a palavra heteros, “outro” de outra espécie, traz a percepção de objetos ou seres que possuem uma diferença estrutural que os impede de serem consideradas próximos, tais como um cão e um gato. São seres criados, porém diferentes entre si por serem de espécies diferentes, visto que um é canídeo, e o outro, felino. Por isso, Paulo comenta: “[…] para outro evangelho, o qual não é outro” (Gl 1.6,7). O que os judaizantes trouxeram para a Galácia era qualquer mensagem, menos a do evangelho de Jesus. Não poderia haver dois evangelhos sendo pregados, pois, se há dois, um é verdadeiro, e o outro é, naturalmente, falso. Os gálatas não conseguiram fazer essa distinção, e isso lhes estava custando a fé e a comunhão com Deus.
É possível que os gálatas estivessem pensando: “Se os judeus receberam a Lei após terem saído da escravidão do Egito, e se foi essa Lei que os guiou até que Cristo viesse, então é possível que ela também os sirva de direção para a mesma finalidade”. Mas não era isso que estava acontecendo.
Só que, no fim das contas, eles não tinham o evangelho. Devemos, portanto, estar atentos e esperar que a mais séria ameaça ao único evangelho verdadeiro seja algo que também é chamado de evangelho. Os professores mais perigosos são os que pregam um Cristo diferente, mas ainda o chamam de “Jesus”.
II – O ANÁTEMA
A inquietação dos gálatas
Um falso ensino tem a capacidade de deixar as pessoas alvoroçadas e inquietas. Paulo usa as palavras “vos inquietam e querem transtornar” como um indicativo de que, enquanto os seus leitores liam a carta, provavelmente havia judaizantes entre eles. Outro detalhe é que a mensagem deles deixava os gálatas inquietos, pois, em vez de descansarem na graça de Deus, passaram a realizar obras da Lei, sendo eles mesmos gentios. Uma mensagem que alvoroça os crentes deve ser analisada com bastante cautela.
Ainda que um anjo do céu:
“Mas, ainda que nós mesmos ou um anjo do céu vos anuncie outro evangelho além do que já vos tenho anunciado, seja anátema” (Gl 1.8). Os anjos são conhecidos na Palavra de Deus como mensageiros do Eterno para tratar dos assuntos com os seres humanos. Anjos apareceram no Antigo Testamento a Abraão, a Josué, a Gideão, aos pais de Sansão, a Isaías. No Novo Testamento, apareceram a Maria, ao pai de João Batista, a Pedro e a Cornélio. A presença deles nas Escrituras é geralmente acompanhada de uma mensagem. Paulo recebeu a visita de um anjo quando estava indo a Roma em um navio que estava afundando. Cornélio recebeu a visita de um anjo, cuja mensagem foi: “Tuas orações foram ouvidas. Procure por Pedro”. O anjo não falou de Jesus ou do evangelho a Cornélio, mas orientou-o sobre quem deveria chamar para ouvir as Boas Novas.
Na cultura dos judeus e da igreja do primeiro século, a ação e existência dos anjos eram, portanto, conhecidas. É possível que, na cultura dos gálatas, eles tenham adquirido esse conhecimento também, ora por conta dos ensinos pagãos, ora por conta dos ensinos acerca de Jesus e do evangelho. Receber uma mensagem angelical era uma experiência bastante diferente, e quem tivesse passado por ela poderia destacar-se de alguma forma. Entretanto, mesmo numa situação como essa, um anjo deveria ser considerado maldito caso trouxesse um evangelho diferente daquele que Paulo havia anunciado.
Satanás pode aparecer na forma de um anjo de luz e enganar os que temem a Deus (2 Co 11.14). Ao escrever a Timóteo, ele alerta que uma das marcas dos últimos dias seria a apostasia da fé originada por espíritos enganadores e doutrinas de demônios. O mundo espiritual tem a sua própria atividade intelectual e utiliza-a para ganhar o coração dos incautos. Por isso, a vigilância deve ser redobrada para os que amam o verdadeiro evangelho. Uma experiência sobrenatural, ainda que verdadeira no aspecto de ter mesmo acontecido, pode não ser de Deus.
Anátema:
A palavra anátema (Gl 1.9) é oriunda do hebraico herem e pode ter dois sentidos. O primeiro é quando algo é devotado a uma divindade e, ao mesmo tempo, excluído da utilização humana, como o relatado em Josué 6.17, quando os despojos de Jericó deveriam ser separados para o Senhor, não devendo ser usados pelos israelitas — ordem que não foi seguida por Acã. Esse anátema foi tão sério que Acã e a sua família pagaram o preço da ganância com a vida. Já o segundo sentido é mais radical, pois representa anathematizo, ou seja, colocar debaixo de uma maldição. Mesmo que um anjo viesse até eles e ensinasse-lhes outro evangelho, tal anjo seria maldito e condenado.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: COELHO, Alexandre. A Liberdade em Cristo: Vivendo o Verdadeiro Evangelho conforme a Carta de Paulo aos Gálatas. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.