Lição 02 – A Igreja de Jerusalém: Um modelo a ser seguido.
ESBOÇO DA LIÇÃO:
INTRODUÇÃO:
I – UMA IGREJA COM SÓLIDOS ALICERCES
II – UMA IGREJA OBSERVADORA DOS SÍMBOLOS CRISTÃOS
III – UMA IGREJA MODELO
CONCLUSÃO:
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
I) Explicar os fundamentos da Igreja de Jerusalém:
II) Reconhecer a importância do batismo e da Ceia do Senhor como símbolos essenciais da fé cristã;
III) Aplicar os princípios da Igreja de Jerusalém à vida da igreja atual, enfatizando a prática espiritual, o acolhimento e a adoração.
O Pastor e a Escola Dominical:
A Escola Dominical deveria ser a primeira Faculdade ou Seminário na vida de alguém que aspira ao pastorado. É na Escola Dominical onde se aprende de uma forma sistematizada os rudimentos da fé. Um pastor que não passou pelos bancos da EBD — queira Deus que tal não tenha acontecido — é um pastor com sérias limitações. Acredito que boa parte da crise de identidade no meio evangélico hoje em dia deve-se em grande parte à falta de discipulado por meio da EBD.
“E perseveravam […] na comunhão, e no partir do pão” (At 2.42). A maioria dos intérpretes entende que a expressão “comunhão” aqui usada por Lucas é uma referência à Ceia do Senhor. É possível percebermos que, dentro das igrejas de tradição protestante que observam esse ritual, há concordâncias e divergências sobre esse assunto. As igrejas de tradição luterana, por exemplo, que seguem os ensinos do seu fundador, Martinho Lutero, defendem a consubstanciação. Essa doutrina ensina que, embora os elementos da Ceia não se transformem fisicamente no corpo e sangue de Cristo, como defende a fé católica, o verdadeiro corpo e o sangue de Cristo encontram-se presentes nos elementos da Ceia sem, contudo, modificá-los. Dessa forma, tanto na perspectiva católica como na luterana,a Ceia é vista como um sacramento. Isso quer dizer que a Ceia (eucaristia) transmite graça a quem participa dela. Por outro lado, há outras igrejas dentro da tradição protestante que preferem enxergar a Ceia do Senhor apenas como um memorial. Poressa perspectiva, a Ceia não é um sacramento e, portanto, não transmite graça aos seus participantes.[8]
No seu processo formativo, as Assembleias de Deus adotavam uma posição que se aproximava do sacramentalismo visto em algumas igrejas do protestantismo histórico. Assim, nos primeiros anos, os mestres pentecostais, como, por exemplo, o teólogo britânico Donald Gee (1891–1966), ensinaram que o crente era beneficiado tanto espiritual como fisicamente quando participava da Ceia do Senhor. Gee, portanto, via na Ceia um meio de conferir graça.
Quando é tomada corretamente, ela (Ceia) leva a Igreja, através de todas as coisas externas, ao próprio coração de sua fé; ao próprio centro de seu Evangelho; ao objeto supremo de seu amor. Portanto, quão abençoado é esse “partir do pão”! Parece provável que os primeiros cristãos, combinando essa ordenança simples com a “festa do amor” de sua refeição comum, lembravam assim a morte do Senhor “todos os dias” (Atos 2.42-46). Alguma participação “indignamente” é muito frequente, mesmo que seja apenas uma vez por ano; mas, por outro lado, dificilmente podemos nos apoderar de um meio de graça tão precioso, se apenas o coração estiver preparado para entrar nele com atenção e devoção. Acreditamos que a ordenança pode ser observada de forma proveitosa por todos os crentes pelo menos uma vez por semana.[9]
Esse entendimento de Gee, que enxergava a Ceia como um meio que transmite graça, também fazia parte do rito assembleiano nos seus primeiros anos. Posteriormente, as AD passaram a mover-se na direção que enxerga a Ceia mais como um “memorial”.[10] Devemos destacar, contudo, que, embora os elementos da Ceia não se convertam no corpo físico de Jesus — como quer o catolicismo —, nem tampouco que Jesus esteja fisicamente presente nos seus elementos, sem modificá-los — como quer o luteranismo —, é preciso atentar para o fato de que Cristo está espiritualmente [11] presente na Ceia. Precisamos, portanto, ter consciência da presença espiritual de Jesus nesse ritual. Quando temos esse discernimento sobre a Ceia, somos gran-demente abençoados quando participamos dela. Não podemos, por conseguinte, enxergar a Ceia do Senhor como um ritual esvaziado da presença dEle. Como bem observou o teólogo Millard J. Ericson:por zelo, para evitar a ideia de que Jesus está presente de algum modo mágico [na Ceia], alguns, por vezes, foram a extremos a ponto de dar a impressão de que o lugar em que Jesus mais certamente não está presente é na Ceia do Senhor.[12]
“E perseveravam […] nas orações” (At 2.42). A igreja de Jerusalém começou de joelhos. Eles estavam em oração quando o Espírito Santo foi derramado (At 1.14; 2.1). A oração era uma prática comum tanto no Antigo como no Novo Testamento. O verbo grego proseuchomai, traduzido como oração, ocorre 86 vezes no Novo Testamento, enquanto como substantivo, proseuché, aparece 36 vezes.[13] Por sua vez, no Antigo Testamento, esse mesmo verbo aparece 82 vezes na Septuaginta grega, enquanto o substantivo ocorre 73 vezes.14 Observamos, portanto, que havia uma cultura de oração entre os judeus. Jesus orava com frequência (Mt 14.23); tinha momentos a sós em oração (Lc 5.16); orava com intensidade (Lc 6.12); orava com perseverança (Mt 26.44); orou pelas crianças (Mt 19.13); ensinou os seus discípulos a orar (Mt 6.5,9).
NOTA:
[8] Veja um estudo mais aprofundado no livro de minha autoria: O Corpo de Cristo: origem, natureza e vocação da igreja no mundo. Rio de Janeiro: CPAD, 2024.
[9] GEE, Donald. The Fundamental Truths Comentary. Redemption Tidings, 1926.
[10] Declaração de Fé das Assembleias de Deus. Rio de Janeiro: CPAD, 2017.
[11] Veja uma defesa bem fundamentada da “presença espiritual” de Jesus na Ceia na obra: Eclesiologia: uma teologia para peregrinos e estrangeiros. São Paulo: Vida Nova, 2021.
[12] ERICSON, Millard. Teologia Sistemática. São Paulo: Vida Nova, 2015.
Texto extraído da obra A Igreja em Jerusalém, editada pela CPAD