Lição 2 – A mensagem de Jeremias para Judá
Professor(a), a paz do Senhor!
Chegamos à lição dois e, durante esta aula, trataremos da importância do chamado ao arrependimento presente na mensagem de Jeremias para Judá.
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais no assunto do que é o arrependimento, o caminho da restauração e a necessidade permanente de arrependimento apresentado na lição, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
UM CHAMADO AO ARREPENDIMENTO:
Em uma primeira leitura, o conteúdo da mensagem que Jeremias anunciou em seus dias como profeta, pode soar como dura, intransigente e inadequada. No entanto, é preciso ressaltar que, embora a sua mensagem tenha sido de advertência e exortativa, todavia, o seu cerne foi o convite de Deus para que o seu povo se despertasse, reconhecesse a sua condição e se arrependesse. Desse modo, pode-se afirmar que o arrependimento foi o ponto central da mensagem de Jeremias.
Assim como anteriormente, aqui se verá o tema proposto, começando pela com-preensão do Novo Testamento, com vistas a lançar luz para o Antigo Testamento, mais especificamente no contexto ministerial de Jeremias. Em João Batista o ciclo dos profetas se encerra e ele é quem anuncia o novo tempo com a chegada de Jesus e isso é apregoado com a mensagem de arrependimento, conforme se lê em Mateus 3.1-2.
Antes de tecer quaisquer comentários acerca desse texto, faz-se necessário afirmar que a mensagem de arrependimento anunciada por João Batista marcou a transição de uma era (AT) para outra era (NT) e isso deve ser tratado com elevada importância e atenção. Isso assume um patamar ainda mais elevado à medida que considera-se que Jesus apareceu anunciando a mesma mensagem (Mt 4.17).
Observe a informação dada pelo evangelista Mateus: “Desde então, começou Jesus a pregar” (v.17). Isso é significativo e precisa ser bem compreendido, pois se trata de uma referência ao fato de que essa mensagem foi dirigida ao “povo que estava assentado em trevas” (v. 16). Sendo assim, presume-se que a mensagem de arrependimento visa lançar luz nas trevas, tendo em vista tirar pessoas dessa condição.
Há inúmeras e valiosíssimas lições a serem apreendidas da mensagem pregada por João Batista e pelo Senhor Jesus Cristo a respeito do arrependimento, entretanto, aqui se destacam três: i) a mensagem que marca o início do Novo Testamento em muito se parece com a que os antigos profetas anunciaram, condenando o pecado e convocando o povo de Deus a voltar-se para uma vida de santidade e a viver em conformidade com a lei do Senhor; ii) a mensagem de arrependimento é o meio escolhido e usado por Deus para preparar o caminho do Senhor Jesus que, à semelhança daquele que o introduziu, também convocou o povo a arrepender-se como meio de resolver as pendências com o Criador; iii) a chegada do Reino dos céus é a causa principal pela qual os seres humanos são convocados ao arrependimento.
Não restam dúvidas da abrangência e da importância do tema do arrependimento, eis a razão pela qual os dois Testamentos da Bíblia tratam amplamente a respeito deste tema, tão presente no ministério dos profetas, inclusive — e de forma especial — no ministério de Jeremias. Por esse motivo, este capítulo é concluído com uma reflexão em torno do significado bíblico de arrependimento, a sua capacidade em abrir as portas para a restauração e a necessidade permanente e atual de arrependimento.
1. O que é arrependimento?
Arrependimento não é um tema de exclusividade do Novo Testamento, pelo contrário, ao longo de toda a Bíblia, inclusive no Antigo Testamento, é possível identificar, não só o termo, mas também o conceito dessa doutrina basilar da fé cristã. Um exemplo disso é o ministério de Jeremias, cuja tônica de sua mensagem passava, inquestionavelmente, pelo anúncio da mensagem de arrependimento, confirmada pelas expressões “volta”, “reconhece” e “convertei-vos” (Jr 3.12-14).
Conforme visto anteriormente, o termo “arrependimento” vem do grego metanoia, isto é, mudança de mente. No Antigo Testamento, o vocábulo niham que é o ato de arrepender-se, está em concordância com as palavras gregas metanoia e apostrpho, apontando para arrependimento que é “voltar-se para longe de, ou em direção de”.
Em um aspecto prático, o arrependimento pode ser compreendido cabalmente por intermédio da mensagem pregada por Jesus a esse respeito (Mt 4.17). A mensagem de Jesus consistiu, basicamente, em chamar o povo ao arrependimento e sobre esse assunto, Charles Spurgeon dá a seguinte contribuição a respeito do sentido desse termo fundamental à doutrina cristã:
Ele continuou a advertência que João tinha dado: arrependei-vos, porque é chegado o reino dos céus. O Rei excede o seu arauto, mas não difere dele quanto à mensagem. Feliz é o pregador cuja palavra é tal, que o seu Senhor possa endossá-lo! O arrependimento é a exigência da lei, do evangelho e de João, que foi o elo entre os dois. O arrependimento imediato é exigido porque a teocracia é estabelecida: o reino exige o abandono do pecado. Em Cristo Jesus, Deus estava prestes a reinar entre os filhos dos homens, e, portanto, os homens deveriam buscar a paz com Ele. Quanto mais devemos nos arrepender, pois vivemos no meio daquele reino! Que tipo de pessoas devemos ser se anelamos a sua segunda vinda? Porque é chegado o reino dos céus, sejamos como os homens que buscam o seu Senhor. Oh meu gracioso Rei e Salvador, peço-te que aceites o meu arrependimento das rebeliões passadas como uma prova de minha atual fidelidade! (SPURGEON, 2018, p. 61)
Na dinâmica do arrependimento, Deus é o centro, enquanto o ser humano está distante de seu Criador em virtude de sua condição de pecado e a pregação do evangelho é o convite divino para que o homem reconheça o seu estado e se arrependa, voltando-se para o Senhor. Outra expressão que contribui com a compreensão de arrependimento é “converter-se”, cujo significado é mudar de direção.
Entretanto, arrepender-se genuinamente não consiste apenas em mudança de direção, mas principalmente abandonar a direção errada e ir em direção a Deus, daí porque Jeremias anunciou que Deus passaria a ser o centro da vida de seu povo novamente, como fruto de seu arrependimento (3.16).
Arrepender-se é renunciar a sua própria rota, ou ainda, negar-se a si mesmo para seguir a de Deus, como assegura Daniel Hays:
Deus explica que o verdadeiro arrependimento envolve identificar-se com ele, não apenas por uma circuncisão oculta e privada, mas também por meio da obediência externa. Uma decisão verdadeira de se arrepender e seguir Deus ficará mais evidente por meio de uma obediência pública e ativa do que por meio de marcas físicas escondidas. (HAYS, 2024, p. 21)
A doutrina do arrependimento à luz do ministério e da mensagem de Jeremias permite uma compreensão clara a seu respeito, cuja ênfase repousa sobre a necessidade de uma condição interna capaz de refletir externamente, em uma vida de obediência e santidade, além de ser o meio pelo qual a porta para a restauração é aberta.
2. Arrependimento, o caminho da restauração:
Como já deve estar claro, o arrependimento tem relação com a mudança de direção; pois, se arrepender é mudar de direção e voltar-se para Deus. Diante disso, subentende-se que houve a perda de direção como fruto amargo da desobediência de Adão e Eva (Gn 3.1-24), causando, dentre outros males, a dura e triste separação do homem de Deus (é evidente que isso se deve ao fruto do pecado de Adão e Eva, Is 59.1-2).
Essa separação causada pelo pecado também pode ser entendida à luz das palavras (ver Rm 3.12). O ser humano desviou-se de Deus, perdeu a direção e tem colhido frutos ruins disso; temos, porém, uma esperança em Cristo Jesus (ver Mt 4.16). O arrependi-mento, portanto, abre as portas para a solução do problema do pecado e, em resultado disso, o arrependido pode desfrutar do refrigério que só a presença de Jesus oferece.
A morte, conforme Deus advertiu a Adão e Eva e o apóstolo Paulo explica, res-pectivamente, é a consequência maior do pecado (Gn 2.15-17; Rm 6.23). Há muito a ser explicado a esse respeito, no entanto, é suficiente para o propósito aqui exposto, afirmar que a separação do homem de Deus é a morte espiritual. Nesse sentido, de acordo com o profeta Ezequiel, o arrependimento é um meio eficaz e poderoso capaz de restaurar a vida (ver Ez 18.32).
Nesse mesmo propósito, o profeta Jeremias foi conduzido por Deus a convocar o seu povo ao arrependimento, tendo em vista a sua restauração, começando pelo despertar de sua consciência, o povo foi levado a se lembrar das grandes obras que o Senhor havia operado na história, em demonstração de cuidado (2.5-7). Com isso, Judá foi confrontado ao ter de enxergar a sua própria condição de ingratidão e de apostasia espirituais (2.8-13;3.6-11), e Jeremias convocou o povo ao arrependimento, pois fazendo assim, seria livre da justa ira divina (3.12), teria a comunhão com Deus restaurada (3.14), seria liderado por homens espirituais segundo o coração de Deus (3.15) e a presença de Deus seria constante e suficiente entre o seu povo (3.16-18).
O arrependimento, portanto, é o caminho da restauração.
3. A necessidade permanente de arrependimento:
Até que os crentes em Jesus Cristo sejam totalmente livres, não só do poder do pecado, mas também de sua presença, eles terão de contar com a ação do Espírito Santo em eventuais situações nas quais terão de se arrepender. Isso implica na afirmativa e no reconhecimento de que a necessidade de arrependimento é permanente.
Alguém pode estranhar que durante todo o seu longo ministério, Jeremias tenha anunciado uma mensagem quase que totalmente única, sempre com a tônica na necessidade de arrependimento, tanto a Judá quanto a outras nações. Isso se dá em virtude da necessidade de uma permanente e viva lembrança da condição humana e de sua dependência na graça de Deus, acessada, inclusive por meio do arrependimento.
Paulo entendeu isso e escreveu na epístola aos Filipenses 3.1. A condição humana e o seu estado espiritual impõem a necessidade de que os pontos fundamentais da fé cristã, dos quais o arrependimento é parte importante, sejam revistos, ensinados e proclamados de forma constante e incansável.
A necessidade dessa constância na abordagem desse tema é percebida à medida que se percebe ao longo das Escrituras a saudável repetição do presente assunto, principalmente com os profetas no Antigo Testamento e ao longo de todo o Novo Testamento. Conforme já visto, a mensagem principal de João Batista, o profeta da transição entre os dois Testamentos bíblicos, foi a do arrependimento (Mt 3.1), assim como o Senhor Jesus (Mt 4.17), como já dito.
Na mensagem que proferiu por ocasião da descida do Espírito Santo no Dia de Pentecostes, Pedro pregou sobre o arrependimento (At 2.38). Paulo não só chamou o povo ao arrependimento, mas explicou de forma detalhada a seu respeito (2 Co 7.10), o que implica em dizer, que a pessoa arrependida é capacitada pelo Espírito Santo a sentir exatamente o que Deus — que é Santo — sente diante de um pecado cometido, passando então a praticar obras dignas de arrependimento (At 26.20), seguindo na mesma esteira de João Batista (Mt 3.8-10). O arrependimento como meio de restauração da comunhão com Deus não foi uma necessidade dos dias de Jeremias apenas, mas também nos dias de Jesus e dos apóstolos, assim como ainda é na atualidade. Caso contrário, isto é, a ausência de arrependimento traz consigo prejuízos indescritíveis, sem contar a permanente falta de comunhão com o Senhor.
Diante de tudo isso, conclui-se a urgente necessidade da proclamação fervorosa e na dependência do Espírito Santo de uma mensagem de arrependimento, seguindo o exemplo do compromisso de Jeremias com essa mensagem. Fazendo assim, a igreja cumprirá a sua missão de servir como uma espécie de arauto que anuncia a mensagem de alerta sobre perigos iminentes, mas também da porta de escape providenciada por Deus, por meio de Jesus Cristo e pela ação do Espírito Santo que conduz o pecador ao arrependimento, e em consequência disso, a uma vida de paz, refrigério e restaurada.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Verônica Araujo
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Exortação, arrependimento e esperança: o ministério profético de Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.