Lição 3 – O sermão do templo
Professor(a), a paz do Senhor!
Chegamos à lição três e, durante esta aula, estudaremos o pronunciamento de Jeremias na porta do Templo. O seu discurso era de repreensão e exortação devido ao pecado de idolatria e perdição do povo.
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais no assunto sobre a vida espiritual bíblica, apresentada na lição, é importante destacar a prática da espiritualidade em nossos dias a qual seus alunos devem ser estimulados a desenvolver. Para isso, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
A prática da espiritualidade:
Diante do quadro atual que se apresenta diante da igreja, no que tange ao tema da espiritualidade, a Palavra de Deus e a sua prática equilibrada e bem fundamentada são os trilhos que formam e oferecem um caminho seguro para a igreja na dinâmica de sua relação com Deus. Há dois extremos que devem ser evitados e o ponto de equilíbrio deve ser buscado, embora seja uma tarefa desafiadora e que exige dedicação, reverência, fundamentação bíblica e dependência do Espírito Santo.
O primeiro extremo a ser evitado é a interiorização desprovida da prática, no qual o crente firma a sua vivência cristã e espiritual num sentimentalismo, baseando-se naquilo que diz sentir, sem que haja frutos que evidenciem uma verdadeira transformação. Tiago trata amplamente sobre o perigo dessa tendência e de suas consequências: “Assim também a fé, se não tiver obras, é morta em si mesma” (2.17). Essa espiritualidade com esse perfil é deslocada da realidade prática e da vida real, semelhante à praticada pelos adeptos do autocontrole e mortificação da carne pela própria força, assim como àqueles que aderem o misticismo.
O segundo extremo consiste no oposto ao que foi tratado anteriormente, pois, en-quanto aquela se firma em uma experiência espiritual meramente interna e sem frutos práticos, esta é conduzida por aquilo que tem sido chamado de legalismo,1 caracterizado principalmente pela busca de agradar a Deus por meio de boas obras praticadas por méritos humanos, e não divinos. Durante o seu ministério terreno, Jesus esteve envolvido em vários contextos nos quais é visto confrontando e rejeitando a espiritualidade dos religiosos de seus dias, haja vista que, à semelhança dos frequentadores do Templo dos dias de Jeremias, eles atuavam como bons religiosos, mas com o coração distante da verdade de Deus, conforme se lê nas palavras do Mestre (ver Mt 23.28).
O capítulo 23 de Mateus é todo dedicado a mostrar como Jesus lidou com a espi-ritualidade legalista de religiosos no contexto em que cumpriu o seu ministério e essas informações confirmam o quanto esse comportamento espiritual desagrada ao Senhor, mesmo que seja caracterizado por práticas litúrgicas corretas, mas sem a essência necessária que qualifica a espiritualidade genuinamente bíblica e cristã. A espiritualidade equilibrada, não só pode, mas deve ser pautada no padrão ensinado por Jesus, cujas marcas são práticas e, segundo as Escrituras, são identificadas de “frutos dignos de arrependimento” (Mt 3.8), ou seja, uma vida cristã transformada internamente, mas com evidências externas, mui especialmente baseadas no amor (Mt 22.37-39; Rm 13.10; 1 Co 13.1-13).
O desejo de Deus é que o coração humano seja transformado de tal forma que a sua vida seja vivida dentro dos padrões éticos e espirituais possíveis, com motivações puras e desprovidas de práticas mecânicas e ritualísticas, pois essa é a marca do cristão verdadeiro. As obras de Deus testificam de sua glória, de seu caráter e, em partes, contribui no sentido de o homem conhecê-lo (Sl 19.1; Rm 1.18-20) e as suas palavras também revelam faces importantes de sua natureza (Gn 1.3,6,9,11,14,20,24,26,29).
Em João 1.14 temos a ação de Deus em conformidade com a sua Palavra. A fala de Deus e o seu agir estão intimamente alinhados e são indissociáveis, quer dizer, tal qual Ele fala, assim Ele age, assim como o seu agir reflete quem Ele é.
Aqui é preciso destacar que a verdadeira espiritualidade, da qual uma das caracte-rísticas é o bom fruto, só pode ser alcançada por obra do Espírito Santo e evidenciada pela maturidade cristã, como bem explicado no Dicionário Wycliffe:
Deus, que é Espírito, regenera o homem pecador e também lhe dá a possibilidade de alcançar a verdadeira espiritualidade. “O espírito é o que vivifica, a carne para nada aproveita” (Jo 6.63). Deus dá ao crente o entendimento espiritual (Cl 1.9) e também um vocabulário espiritual para que ele possa expressar as verdades divinas em uma forma espiritual (I Co 2.12,13). O homem espiritual é o cristão que atingiu a maturidade (I Co 2.15; 3.1; Gl 6.1), no qual abunda o fruto do Espírito. O cristão carnal, ao contrário, é aquele que permanece imaturo e ainda, é uma criança em termos espirituais. Ele só pode ser alimentado com leite. A sua vida é marcada por invejas, contendas, dissensões, orgulho, impureza (I Co 3.1-3; 5.1,2). No entanto, é possível andar no Espírito, possuir seu poder, obter os seus dons — todos os sinais da verdadeira espiritualidade (Gl 5.16; Ef 5.18; At 1.8; I Co 12.7,11). (PFEIFFER, VOS e REA, 2021, p. 686).
A maturidade cristã é bem compreendida se tomada como base o texto de Paulo aos Efésios 4.11-16, do qual se extrai as seguintes lições: i) os dons ministeriais atuam no aperfeiçoamento dos santos para o exercício do ministério e a sua edificação (vv. 11,12); ii) esse trabalho se dá até que Cristo seja formado no crente e a unidade alcançada (v. 13); iii) a condição de meninos na fé seja deixada para trás e os ventos de doutrinas sejam rejeitados (v. 14); iv) haja crescimento no amor com o propósito do crente descobrir o seu lugar no Corpo de Cristo e assim cumprir o seu papel (vv. 15,16).
Além disso, a maturidade cristã como fruto de uma espiritualidade cristã saudável, levará o crente a práticas espirituais que, além de refletir essa condição espiritual, contribui também com a sua manutenção. Mas, afinal, quais são as principais práticas espirituais que evidenciam essa condição espiritual do crente maduro na fé?
As Disciplinas Espirituais são práticas pelas quais o crente tem de participar e cooperar com a obra exclusiva de Deus em transformar a sua vida e nisso ele depende da indispensável presença do Espírito Santo, tanto em sua vida quanto no exercício de seu ministério. A este respeito, há algumas práticas espirituais que compõem uma espiritualidade saudável de um cristão que na condição de servo de Deus, o crente não terá dificuldades em se dedicar a práticas como a oração, a consagração e a leitura bíblica como basilares para a sua vida pessoal com Deus.
Começando pela oração, e de forma bem objetiva e direta, considere que o crente deve orar, inicialmente, porque “Jesus valorizou a oração o suficiente para passar muitas horas nessa atividade. Se eu tivesse de responder numa frase à pergunta: “Por que orar?”, diria: “Porque Jesus providenciou a oração” (YANCEY, 2007, p. 60).
A oração é uma expectativa do próprio Senhor Jesus em relação aos seus discípulos (Mt 6.5–7,9; Lc 11.9; 18.1) e uma exigência bíblica aos crentes em geral (Cl 4.2; 1 Ts 5.17). O crente é convocado a orar em todo o tempo, o que implica antes de tomar alguma decisão, enquanto age naquilo que decidiu na oração e depois de ter feito, pedindo a confirmação do Senhor.
Orar é demonstrar dependência de Deus, contribui com o desenvolvimento da sensibilidade espiritual e cultiva a coragem nas circunstâncias difíceis. Destaca-se ainda que a oração deve combinar com uma vida de consagração, acompanhada, inclusive, pela santidade pessoal e a prática do jejum bíblico.
Quanto à leitura bíblica, se faz necessário destacar o compromisso do obreiro em manter contato frequente com as Escrituras, e como bem escreveu Whitney “a absorção bíblica é a Disciplina Espiritual mais importante, como também a mais ampla”, e ele segue explicando que “ela consiste em várias subdisciplinas” (WHITNEY, 2021, p. 35). Nesse caso, o crente deve se dedicar em manter a disciplina em seu contato com a Palavra de Deus, nutrindo práticas como: i) ouvindo-a (Lc 11.28; 1 Tm 4.13); ii) lendo-a (Sl 1.2; Mt 4.4; 1 Tm 4.7; 2 Tm 3.16; Ap 1.3; iii) estudando-a (Ed 7.10; At 17.11; 2 Tm 4.13).
O contato com as Escrituras sustenta a vida espiritual do crente, oferecendo-lhe consistência e firmeza em seu conhecimento bíblico, que será percebido em suas ações e reações, o que faz da leitura constante da Bíblia uma prática vital para a vida de quem deseja honrar a Deus.
Conforme tratado anteriormente, a fé sem obras é morta (Tg 2.17). Os homens dos dias de Jeremias frequentavam o Templo e cumpriam os rituais litúrgicos dos cultos, mas foram advertidos a fim de melhorarem os seus caminhos pelo exercício da justiça, com o cuidado aos necessitados, com a garantia de atrair as bênçãos de Deus (Jr 7.4-7). Cuidar dos oprimidos, dos órfãos, das viúvas e dos necessitados não é uma pauta política ideológica, mas frutos da religião que agrada a Deus (Tg 1.27).
A verdadeira espiritualidade consiste em práticas que glorificam a Deus. É preciso viver a espiritualidade, e não apenas senti-la.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Verônica Araujo
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Exortação, arrependimento e esperança: o ministério profético de Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.