Lição 5 – O início do circo de jerusalém
Chegamos à lição cinco e, durante esta aula, estudaremos o início do cerco de Jerusalém. Neste sentido, conhecer a história deste período torna-se importante para que haja uma completa interpretação dos fatos.
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais no assunto sobre a as informações históricas do cerco de Jerusalém, apresentas na lição, é importante destacar o exemplo individual de Jeremias quanto à sua firmeza ministerial e pessoal em se manter fiel a Deus, não somente quando foi maltratado ou a sua mensagem foi rejeitada, mas principalmente ao ser procurado por representantes do rei, afinal de contas, ele não negociou a mensagem, antes, a entregou com objetividade e fidelidade, conforme Jeremias 37.9,10.
A fim de ajudá-los na compreensão e no conhecimento da história, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
I – CONHECENDO A HISTÓRIA:
O acontecimento registrado em Jeremias 21 é tão significativo e emblemático que marca uma nova seção no próprio livro, que sofre uma mudança repentina em sua estrutura e sua forma. A fim de uma familiarização melhor e, consequentemente, uma compreensão mais apurada, considere a explicação que G. Paul Gray oferece:
A nota predominante é o fim de Judá e da dinastia de Davi. Os reis de Judá são os primeiros a merecer a atenção de Jeremias. Depois, os líderes religiosos são duramente advertidos pelo profeta. Então as nações gentias são trazidas diante da corte de justiça; “o Senhor tem contenda com as nações” (25.31). Jeremias vê todas as nações sendo trazidas para debaixo da servidão do rei da Babilônia, de acordo com o decreto divino. Os cativos que já estão na Babilônia são instruídos a preparar-se para a queda de Judá e para um exílio prolongado. Toda seção serve como uma profecia do fim da vida nacional hebraica. (GRAY, 2005, p. 314)
Ao olhar para o contexto histórico do episódio em que Zedequias consulta ao profeta enquanto a Babilônia avançava em direção a Jerusalém, é possível perceber, dentre outros fatos, o controle de Deus em conduzir os acontecimentos, tanto em disciplinar o seu povo como em utilizar-se de nações pagãs, isto é, povos que não o serviam. Esse fato histórico marcou o início da queda definitiva de Zedequias pelas mãos dos babilônios, o que é uma informação, no mínimo, intrigante, pois, esse rei assumiu o reinado de Judá, não só com a aprovação de Nabucodonor, mas foi ele próprio que o estabeleceu como rei (2 Rs 24.17,18; Jr 37.1).
Dessa forma, pelas mãos dos babilônios, o Senhor cumpriu suas palavras, ditas pelo profeta Jeremias (37.2). Mesmo com o coração endurecido e resoluto em não dar crédito à mensagem de Jeremias, Zedequias se viu em grande angústia com a aproximação da Babilônia e solicitou que os seus mensageiros buscassem informações com o profeta, desconsiderando a decisão divina em suspender — pelo menos naquele momento e em relação a Judá, em específico — o papel de intercessão que o profeta tinha, conforme se lê em Jeremias 7.16.
Há estes elementos que envolvem a insana decisão do rei e de seus aliados em não ouvirem os oráculos de Deus proclamados por Jeremias, entretanto, é necessário levar em conta o fator histórico no qual Judá estava submetido e quais os motivos que levaram o Senhor a castigá-la, usando, inclusive, os próprios inimigos. Deste modo, informações históricas que são fundamentais e que marcam as invasões babilônicas a Jerusalém são apresentadas aqui nesta seção, com o intuito de mostrar as lições a serem apreendidas deste tão importante episódio da história.
1. Informações históricas:
Os profetas surgiram em períodos obscuros da história, marcados pelo afastamento de Deus, o enfraquecimento das bases éticas de um povo e o abandono de valores espirituais, eternos e divinos. Essa informação permite vários olhares sob os quais a função do profeta pode ser avaliada, inclusive, o papel da história, isto é, a necessidade e a importância do conhecimento contextual para a apuração detalhada sobre um determinado acontecimento que tenha tido um profeta envolvido.
Como profeta, Jeremias exerceu o seu ministério em um contexto histórico real que precisa ser identificado, analisado, compreendido e aplicado àquilo que ele fez e falou na condição de representante de Deus em seus dias. Com a finalidade de evitar confusão, o primeiro passo é conhecer acerca dos reis que governaram durante o período em que Jeremias viveu e profetizou, como se lê na clara explicação de Lawrence O. Richards:
Seu ministério começou aproximadamente em 627 a.C., e continuou até depois da conquista de Jerusalém, por Nabucodonosor, em 586 a.C. Algumas de suas mensagens são da época de Josias, o piedoso rei de Judá (640-609 a.C.), mas, a maioria é do tempo de seus sucessores. Jeoaquim (609-598), Joaquim (598-597) e Zedequias (597-586). Durante o reinado desses reis, depois de receber ameaças, Judá foi finalmente dominada pela Babilônia. (RICHARDS, 2005, p. 446)
Com a exposição acima é possível ter uma ideia do período que Jeremias profetizou, embora haja a necessidade de acrescentar que ele dedicou 40 anos de sua vida ao ministério, cuja trajetória coincidiu com os anos finais do reino de Judá e, à semelhança de Ezequiel, ele pode ser chamado de profeta do exílio. Diferente de profetas como Isaías, Oseias, Amós e Miqueias que profetizaram num período no qual existiam os dois reinos, do Norte e do Sul, Jeremias profetizou quando só existia Judá, isto é, o Reino do Sul, já que sobreviveu ao terrível ataque assírio (2 Rs 18–20).
2. As duas primeiras invasões:
Antes de discorrer sobre as duas primeiras invasões dos babilônicos contra Jerusalém, cabe destacar que o capítulo 21 de Jeremias abre a seção de coletânea de ditos contra os reis, seção esta que vai até 23.8. Esses ditos contra os reis foram proferidos dentro do contexto das três invasões que Jerusalém sofreu e, portanto, ambos devem ser considerados para uma correta compreensão a respeito desses acontecimentos.
Os fatos e informações detalhadas e de datas a respeito das invasões sofridas por Jerusalém nos dias de Jeremias, têm causado algumas confusões e precisam de uma atenção especial e de cuidados em simplificar o assunto. Com vistas a atender a essa necessidade, atente para a exposição e sequências apresentadas por R. K. Harrison, incialmente, sobre a primeira invasão:
Depois de ser tributário da Babilônia por três anos, Jeoaquim, que era um oportunista político, rebelou-se contra o seu suserano em uma tentativa
desesperada por independência, apesar das consequências que Jeremias havia predito como resultado desta política (Jr 22.18). A retribuição babilônica não demorou muito, pois em 597 a.C. os exércitos caldeus invadiram Judá e atacaram Jerusalém […] O Templo foi saqueado e os tesouros foram levados para a Babilônia como despojos. (HARRISON, 2010, p. 257)
Essa primeira invasão se deu por volta do ano 605 a.C, após a vitória que a Babilônia teve sobre o Egito, pois, como Judá estava sob o domínio do Egito, passou a ser dominado pelos babilônicos. Nessa primeira invasão é que o profeta Daniel e os seus amigos foram levados à Babilônia (Dn 1.1-4).
Acerca da segunda invasão, leia atentamente as contribuições de Harrison:
Depois do ataque de 597 a.C., Nabucodonosor estabeleceu Zedequias (Matanias), tio de Joaquim, como um governante “fantoche” em Judá. No entanto, a sua influência era fraca, e ele foi incapaz de impedir o contato político com o Egito, apesar de um juramento de lealdade à Babilônia (II Cr 36.13). […] Quando Zedequias decidiu depender do apoio egípcio e se revoltou contra Nabucodonosor, empenhados na destruição, os exércitos caldeus devastaram Judá em 587 a.C. Os pequenos estados sírios caíram diante dos exércitos babilônicos como Jeremias havia predito (Jr 25.9), e Nabucodonosor sitiou Laquis e Azeca. Quando essas cidades caíram, ele atacou Jerusalém, e seguiu-se um período de grande dificuldade (II Rs 25.3) (ibid, 2010, p. 258).
Conforme se vê, a chamada segunda invasão ocorreu durante o reinado de Joaquim, em 597 a.C., aproximadamente, com o detalhe de que utensílios da Casa do Senhor foram levados, assim como o rei, sua mãe, os príncipes, os seus oficiais e os ferreiros e artífices. A soma total foi de dez mil presos, inclusive o profeta Ezequiel (2 Rs 24.8-17; Ez 1.1-3).
3. A terceira invasão:
A terceira e última invasão do exército babilônico é, sem dúvida, um dos acontecimentos mais triste da história do povo de Deus e ela marca o ponto alto da correção de Deus à desobediência, indiferença e idolatria de seu povo. Zedequias é uma figura imprescindível para a compreensão deste trágico acontecimento, afinal de contas, ele foi o último rei de Judá, isto é, nele se encerra a geração de reis da linhagem de Davi.
O exército de Nabucodonosor sitiou a Jerusalém, cerco que durou dois anos (2 Rs 25.1-2). Há de se reconhecer que dois anos seriam suficientes para a elaboração e a execução de um projeto de segurança, ou ainda, para negociações de paz entre as nações, no entanto, isso seria possível, caso Judá não estivesse sob o olhar corretivo de Deus, pois, de acordo com as Escrituras, nada poderia ser feito para que essa situação tão dramática, fosse alterada, como comenta Mathew Henry:
Aqui temos: I. A mensagem que Zedequias enviou ao profeta, para que perguntasse ao Senhor por eles (vv. 1,2). II A resposta que Jeremias, em nome de Deus, enviou àquela mensagem, na qual: 1. Ele prediz a destruição, certa e inevitável, da cidade, e a inutilidade de seus esforços para a sua preservação (vv. 3-7); 2) Ele aconselha o povo a tirar o bem até mesmo do mal, rendendo-se ao rei da Babilônia (vv. 8-10) e 3) Ele aconselha o rei e sua família a se arrependerem e se reformarem (vv. 11,12), e não confiarem na força da sua cidade, pensando que estivesse segura (vv. 13,14). (HENRY, 2018, p. 453)
Zedequias sucedeu a Joaquim (2 Cr 36.10-11), cujo reinado foi curto e trágico, conforme informado em 36.9. À semelhança de seu antecessor, Zedequias “fez o que era mau aos olhos do Senhor” e a materialização disso se deu, inicialmente, em sua insubmissão à Palavra de Deus enviada pelo profeta Jeremias (v. 12), na manifestação de sua arrogância, refletida em sua rebelião contra Nabucodonosor (v. 13), entrando para a história como o rei, cujo governo foi marcado pelo acúmulo e aumento do pecado (v. 14).
O avanço do exército de Nabucodonosor e a iminente destruição de Jerusalém não deveriam surpreender os judeus, pelo contrário, o contato com as profecias antigas daria a eles o devido conhecimento de que, cerca de 150 anos antes, houve a previsão deste terrível acontecimento (Is 39.6-7). É importante considerar que esse aviso prévio teve objetivos bem definidos, tais como: i) o aviso em si que, inquestionavelmente, reafirma o amor e o cuidado de Deus pelo seu povo; ii) alertar sobre os riscos inerentes à decisão de trilhar por caminhos que desagradam a Deus; iii) dar a oportunidade para que Judá se arrependesse e pudesse experimentar a misericórdia de Deus, daí a razão pela qual o Senhor enviou profetas ao longo de todo este tempo.
Em 2 Crônicas 36.15-21 expõe com veemência o estado de declínio espiritual em que Judá estava, o que culminou com a sua queda final. Aqui está o ponto alto da série de intervenções divinas em corrigir o seu povo que, embora tenha recebido inúmeras mensagens de profetas enviados pelo Senhor, todavia, as desprezaram, o que resultou em sua queda definitiva, mesmo porque, segundo o texto bíblico, Deus é longânimo, mas a rejeição deliberada e repetida de sua palavra, atrai o seu juízo (36.11-16) e foi isso que ocorreu, com a invasão e destruição de Jerusalém (vv.17-20).
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
