Lição 06 – Parábolas e pronunciamentos
Chegamos à lição seis e, durante esta aula, estudaremos a respeito do uso das parábolas como um recurso literário, muito usado pelo Senhor Jesus, mas que já era utilizado no Antigo Testamento.
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais no assunto sobre o Antigo Testamento e as parábolas, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
II – O ANTIGO TESTAMENTO E AS PARÁBOLAS
Com quem Jesus aprendeu a contar histórias? Com quem Jesus aprendeu sobre o valor das histórias na comunicação de valores eternos e espirituais? Quem foi a referência de Jesus sobre o uso de parábolas?
A resposta a essas perguntas igualmente importantes passa pela ênfase de que a fonte principal na qual o Senhor bebeu, foram os escritos do Antigo Testamento. Durante o seu ministério terreno, Ele citou cerca de 80 vezes passagens veterotestamentárias, tendo mencionado todos os livros do Pentateuco, feito menções diretas do livro dos Salmos e vários dos profetas, reafirmando, não somente a sua familiaridade, mas principalmente o seu compromisso com as verdades ensinadas no Antigo Testamento.
Desse modo, o uso constante de parábolas na comunicação de sua mensagem, se deu, certamente, por influência do Antigo Testamento. Klyne Snodgrass comenta sobre isso da seguinte forma:
A principal influência sobre o uso que Jesus fez das parábolas era o Antigo Testamento. A forma das parábolas de Jesus, o raciocínio em formato de parábola, as imagens utilizadas e o uso das parábolas na literatura sapiencial, especialmente como instrumentos proféticos, todos apontam nesta direção. Esta fonte óbvia de Jesus sempre foi menosprezada, mas não dispomos de evidências que apontem a influência de outras fontes sobre ele ou de outras parábolas anteriores a Jesus que tenham sido usadas de forma que se aproximasse da magnificência por Ele alcançada. Veremos que existem formas correlatas; entretanto, fora do Antigo Testamento, pouca coisa se aproxima do formato das parábolas de Jesus. (SNODGRASS, 2024, p. 74)
Além da informação de que o uso de parábolas por Jesus se deu por influência do Antigo Testamento, apreende-se ainda, com detalhes, que este recurso literário moldou também a forma com que o Mestre construiu a sua forma de pensar as verdades eternas do Pai, bem como a maneira de transmitir os seus ensinamentos. Sendo assim, embora quase sempre negligenciada, o uso das parábolas no Antigo Testamento é uma realidade importante e que, não só precisa, mas merece ser analisada com elevado cuidado e considerável atenção.
Com base nisso, este ponto da presente reflexão se concentra, basicamente, em avaliar as parábolas no contexto do Antigo Testamento, levando em conta quais são estas parábolas, como foram estruturadas, as semelhanças com as de Jesus, a relação dos profetas com este recurso literário e a semelhança entre si quanto aos seus objetivos.
1. Parábolas no Antigo Testamento
As parábolas não são de uso exclusivo de Jesus no contexto do Novo Testamento, ainda que pensar assim seja comum e, em certo sentido, natural, primeiro pelas extraordinárias parábolas que o Mestre contou, depois pelo uso constante que fez desse recurso. Mas, ao contrário disso, o Antigo Testamento possui registros de parábolas significativamente importantes, com lições espirituais e eternas impressionantes, que merecem ser analisadas com cuidado e atenção.
É de impressionar a riqueza dos recursos literários da Bíblia, mui especialmente do Antigo Testamento. Quanto aos meios de linguagens que se assemelham ao da parábola, fica evidente a necessidade de se notar estas semelhanças e as diferenças, com vistas a uma boa compreensão e uma correta interpretação do texto em questão.
Ao estabelecer um paralelo entre as parábolas do Antigo Testamento e as do Novo Testamento, a fim de identificar semelhanças e diferenças, a conclusão é de que, estruturalmente, elas são distintas, entretanto, se assemelham no objetivo de seu uso, pois, em ambos os casos, a clareza e a objetividade na transmissão da mensagem cumprem o propósito das parábolas bíblicas (1Sm 24.13; Ez 17.2; 18.2). Deste jeito, reafirma-se a presença das parábolas no Antigo Testamento, o que implica na sua
importância nos escritos bíblicos e que deve ser levada em consideração aos que desejam interpretar o texto bíblico e aplicar as suas verdades na vida prática, ao ponto de que Deus seja glorificado.
2. As parábolas do Antigo Testamento
O objetivo aqui é o de apresentar de forma direta as parábolas que existem no Antigo Testamento, mas antes é recomendável que se faça uma elucidação de como as parábolas eram algo comum aos judeus dos tempos bíblicos e de que forma as que Jesus contou tinham as suas raízes nas do Antigo Testamento, reafirmando que os hebreus sempre usaram das histórias para transmitir valores e princípios. Junto de uma lista ampla e bem explicada de princípios e acontecimentos do Antigo Testamento como base para algumas das parábolas de Jesus, Herbert Lockyer escreve o seguinte:
Aquele que “falou-lhes de muitas coisas por meio de parábolas” é o mesmo que inspirou “homens santos da parte de Deus” a escrever o AT; portanto, podemos encontrar a mesma linha de pensamento em todos os livros. Muitas das parábolas, dos tipos e das visões do AT ilustram e esclarecem os do Novo, provando a maravilhosa unidade das Escrituras […]”. (LOCKYER, 2023, p. 27)
Lockyer apresenta outros exemplos de parábolas de Jesus, cujas raízes estão em princípios dispostos no Antigo Testamento, mas o que está exposto acima é suficiente para legitimar o que se tem dito aqui acerca desta íntima relação entre Antigo e Novo Testamentos quanto ao uso das parábolas e a aplicação de suas lições. Ainda sobre isso, esta íntima relação não deveria causar espanto, nem mesmo admiração, pois, segundo o texto supracitado, o Senhor Jesus que contou as parábolas durante o seu ministério terreno é o mesmo que, através da ação do Espírito Santo, inspirou os autores veterotestamentários a escreverem o que consta nas suas páginas sagradas, inclusive, as parábolas.
No que concerne às parábolas do Antigo Testamento em si, é preciso registrar que elas não obedecem a uma ordem estrutural que façam delas homogêneas nesse sentido, no entanto, como visto anteriormente, elas, conjuntamente, cumprem o propósito de transmitir verdades eternas e espirituais, sempre levando em conta a realidade dos ouvintes, a fim de que compreendam a mensagem com a devida e necessária clareza. Com exceção das parábolas dos profetas que serão abordadas no próximo tópico, a intenção aqui é a de apresentar as principais parábolas do Antigo Testamento, sem o objetivo de tecer comentários a respeito de cada uma delas, haja vista não ser esse o objetivo desta seção.
Inicialmente, as parábolas dos livros históricos são estas: i) a do Monte Moriá (Gn 22; Hb 11.17-19); ii) a do Tabernáculo (Êx 25.31; Hb 9.1-10); iii) as de Balaão (Nm 22; 23.7,18; 24.3,15,20-23); ii) a das árvores que escolheram um rei (Jz 9.7-15); iii) a de Natã, ao tratar sobre o pecado de Davi (2 Sm 12.1-5); iv) a da mulher de Tecoa (2 Sm 14.4-17); v) a de Micaías (1 Rs 22.13-28); vi) Jeoás, rei de Israel, sobre o cedro e o espinheiro (2 Rs 14.8-14). Jó também contou as suas parábolas (27.1; 29.1), assim como é possível encontrar uma parábola no livro de Salmos (80).
O sábio Salomão também se utilizou das parábolas, como se vê nos livros que por ele foram escritos. Essas são as parábolas de Salomão: i) a da Inutilidade (Pv 26.7); ii) a do Comer e do Beber (Ec 5.18-20); iii) a da Pequena Cidade (Ec 9.13-18); iv) a do Amado e sua Amada, em todo o livro do Cântico dos Cânticos.1 Como se nota, o uso das parábolas é encontrado em toda a extensão do Antigo Testamento, começando pelos livros históricos, passando pelos poéticos e, como é de se esperar, chegando aos livros proféticos.
3. Os profetas e as parábolas
Os profetas tiveram múltiplas funções, dentre as quais pode se dar um destaque especial à de tornar conhecidos os pensamentos e os sentimentos de Deus ao povo. Por meio da palavra falada e, em alguns casos, escritas dos profetas, o Senhor deu, em certa medida, ao povo a oportunidade de conhecer o seu coração, basicamente em três frentes principais: i) expor o que estava errado e, consequentemente, o desagradando; ii) tornar a sua vontade conhecida; iii) apontar o caminho do arrependimento como o meio de resolver as pendências existentes.
As indagações feitas por Paulo (ver Rm 11.34; 1 Co 2.16) ressaltam a incapacidade humana de conhecer a mente e o coração de Deus, exaustivamente, e isso tem de ser amplamente conhecido do ser humano, a fim de que Deus seja reconhecido e reverenciado. Uma vez reafirmada essa verdade absoluta e imutável, ao falar com o ser humano, pela sua Palavra, Deus está, dentro do limite por Ele mesmo estabelecido, se dando a conhecer ao homem, e o papel desempenhado pelos profetas no Antigo Testamento foi o de aclarar o pensamento e o coração de Deus ao povo.
A dinâmica dos profetas no receber a mensagem de Deus, compreendê-la e entregá-la aos seu público-alvo pode ser mais bem entendida a partir da relação que mantinham com Deus, por meio de uma vida de inteira separação e na relação que tinham com o povo, na entrega da mensagem que, necessariamente, tinha de ser inteligível e acessível. Em relação a essa segunda parte, isto é, no processo de comunicar uma mensagem, cuja essência era a manifestação da mente e do coração de Deus, por algumas vezes, os profetas tiveram de utilizar-se das parábolas.
Conforme visto anteriormente, Balaão e Natã, dois profetas no Antigo Testamento, cujos registros das parábolas que contaram a fim de comunicar a mensagem divina ao povo de seus dias encontram-se na seção de livros históricos da Bíblia. Entretanto, outros profetas falaram dos oráculos divinos por meio de parábolas, aliás, esses homens que proclamaram os oráculos de Deus estiveram bem familiarizados com esse recurso de comunicação.
O próximo tópico é dedicado a discorrer sobre as parábolas de Jeremias, pois esse é o tema central deste capítulo, no entanto, na conclusão deste ponto, o enfoque é apresentar as parábolas de outros profetas, igualmente importantes.
O profeta Isaías falou da “Parábola do boi, da jumenta e da manjedoura de seu dono” (1.2-9), assim como da “Parábola da Vinha Má” (5.1-7) e a “Parábola do Consolo” (28.23-29). O profeta Ezequiel, contemporâneo de Jeremias, apresentou as seguintes parábolas: i) A Parábola das Duas Águias e da Videira (Ez 17.3-10); ii) A Parábola do Leão Enjaulado (19.2-9); iii) A Parábola da Panela (24.3-5). Além desses, há outros textos que têm sido atribuídos como parábolas, tanto a Isaías como a Jeremias, mas estas cumprem o objetivo de confirmar que, inquestionavelmente, os profetas proclamaram a Palavra de Deus ao povo, também por parábolas.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Verônica Araujo
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Exortação, arrependimento e esperança: o ministério profético de Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.
