Lição 8 – O conselho de Jeremias aos reis
Chegamos à lição oito e, durante esta aula, estudaremos a respeito do conselho de Jeremias aos reis. Ele profetizou por aproximadamente 40 anos, durante o reinado de cinco reis: Josias, Joacaz, Jeoaquim, Joaquim e Zedequias. Jeremias foi enviado a profetizar para esses reis e pagou um preço por isso.
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais neste assunto é importante destacar que “desde que chamou Jeremias para o ministério, Deus deu detalhes a respeito do que aconteceria, incluindo a informação de que o profeta falaria a reinos e a reis (Jr 1.10, 18). Em cumprimento a isso, é possível encontrá-lo exercendo o seu ministério no contexto dos últimos cinco reis de Judá, trazendo-lhe grandes desafios.”
A fim de auxiliá-los na compreensão e no conhecimento da história, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
I – UM PROFETA ENTRE OS REIS:
Desde o início, o ministério de Jeremias esteve em conexão com os reis de seus dias, quer fosse para auxiliá-los, como foi no caso da reforma espiritual dos dias de Josias, quer fosse para adverti-los, como ocorreu com Jeoaquim e Zedequias. Atente para a descrição que Donald D. Turner faz do ministério de Jeremias como profeta e considere os seus pontos principais:
Jeremias começou a profetizar no décimo terceiro ano do rei Josias, de Judá. Nínive decaiu depois da derrota de Senaqueribe em Jerusalém e sua morte por assassinato em Nínive. Seus sucessores se entregaram aos prazeres, até a destruição completa da capital pelos elamitas e babilônios. O Egito procurou imediatamente conquistar a supremacia mundial. Os reis de Judá puseram sua confiança no Egito. Mas Deus revelou a Jeremias que os caldeus da Babilônia, e não os egípcios, é quem dominariam o mundo. Tal mensagem parecia tão absurda, a ponto dos reis de Judá se recusarem a crer nela. (TURNER, 2004, p. 264)
O ministério de Jeremias sempre esteve inserido no contexto da liderança de reis, e, portanto, em momentos de crises políticas, sociais e, principalmente, espirituais.
Conforme apresentado, a sua relação com os líderes políticos de Judá foi marcada por conflitos, no sentido de sua mensagem não ser compreendida e nem bem recebida, o que lhe causou sofrimento, dores e prisões.
Jeremias, portanto, foi um profeta enviado pelo Senhor para profetizar ao povo, mas também aos reis, o que implica na possibilidade de denominá-lo como “um profeta entre os reis”.
1. Jeremias, enviado aos reis
Que Jeremias foi escolhido por Deus para servi-lo como profeta (Jr 1.5) e enviado às nações e a reinos e reis (vv. 10,18) já está claro e, certamente, não há dúvidas a esse respeito. No entanto, qual teria sido a razão pela qual o Senhor o enviou a profetizar ao povo, a reinos e a reis, especificamente?
Responder a essa pergunta passa por uma análise mais ampla sobre a relação do ministério de Jeremias com os reis de sua época, envolvendo, inclusive, a natureza e o propósito do ofício de rei em Israel. Historicamente, a monarquia começou em Israel a partir do apelo do povo que desejou seguir o exemplo das outras nações (ver 1 Sm 8.5).
Deslocar essa informação do contexto mais amplo das Escrituras é cometer um grave erro interpretativo, haja vista que, embora o governo monárquico tenha sido estabelecido a partir de Saul, Deus já havia falado a esse respeito, informando que cada rei é escolhido segundo os seus critérios, com vistas a cumprir a sua vontade diante do povo (Dt 17.15).
O rei (17.14-20). Esta passagem se ajusta ao tempo de Moisés na véspera de entrar na terra (14) na mesma proporção em que não se ajusta em outro tempo. A monarquia é tratada como instituição permitida, pois não é estado ordenado; era uma concessão ao desejo de os israelitas serem como as nações ao redor. Pela maior parte de sua história, Israel existiu como nação sem rei. O rei (15) devia evitar os vícios dos monarcas orientais: amor ao poder (16), às mulheres e à riqueza (17). Foi o segundo destes itens que causou a queda de Salomão (I Rs 11.1-13), e pela multiplicação de cavalos (16) ele entrou em relações comerciais com o Egito (cf. I Rs 10.28,29). O rei tinha de escrever para si uma cópia da lei, provavelmente Deuteronômio, mas, possivelmente, todo o Pentateuco. Tinha de lê-lo constantemente e observá-lo, para que tivesse um reinado longo e seus filhos o sucedessem. Seria escolhido dentre seus irmãos (15), expressa por intermédio de seus servos, os profetas, e endossado pelo povo (cf. 1Sm 10.24; 16.11-13; 2 Sm 5.1-3; 2 Rs 9.1-13). (FORD e DEASLEY, 2016, p. 453)
A exposição supracitada pode ser analisada sob quatro aspectos básicos: i) os reis de Israel deveriam ser escolhidos por Deus; ii) a simplicidade e o distanciamento de uma vida de ostentação e de vaidade deveriam marcar o estilo de vida dos reis escolhidos por Deus; iii) os padrões morais estabelecidos por Deus deveriam ser observados e seguidos por esses reis; iv) os reis escolhidos por Deus tinham o dever de conhecer e viver de acordo com as leis do Senhor. Fica claro, portanto, que os reis não foram figuras políticas, apenas, mas homens escolhidos por Deus para uma função específica, cujo propósito maior deveria ser o de cumprir a vontade do Senhor em sua liderança sobre o povo (14-20).
Uma vez que os reis eram escolhidos por Deus para governar e tinham o dever de cumprir a vontade daquEle que os tinha colocado no trono, os profetas cumpriram a importante, porém, difícil tarefa de transmitir-lhes a mensagem de Deus, geralmente de advertência, exortação e chamado ao arrependimento. Assim foi com Jeremias que foi escolhido e enviado para falar aos reis de seus dias com esse mesmo propósito, em especial para que o cativeiro fosse evitado e, conforme se vê a seguir, isso lhe custou sofrimento agudo e privações significativas.
2. O preço por profetizar aos reis
O apóstolo Paulo convidou o jovem obreiro Timóteo a sofrer com ele na condição de “bom soldado de Cristo”, em uma clara referência às dificuldades e adversidades que são inerentes ao ministério cristão (2 Tm 2.3). Destaca-se que essas dificuldades comuns à vida de um obreiro fiel se dão em virtude do mundo caído e inimigo de Deus no qual o desafio do ministério se desenvolve.
O grau de dificuldade em um ministério alterna com base naquilo para o qual a pessoa foi designada por Deus a realizar em seu Reino, afinal de contas, o próprio Senhor Jesus ensinou que “a qualquer que muito for dado, muito se lhe pedirá, e ao que muito se lhe confiou, muito mais se lhe pedirá” (Lc 12.47-48). Não há como questionar a natureza extraordinária do ministério de Jeremias e as razões disso são quase que óbvias, como se vê: i) ele foi chamado por Deus; ii) a sua mensagem foi contundente, fiel e direta; iii) ele exerceu o seu ministério em um período conturbado, complexo, confuso e de efervescentes problemas sociais e políticos; iv) ele foi enviado a um público religioso, mas indiferente, bem como à liderança espiritual e política de sua época, como os reis.
Jeremias recebeu o privilégio de ser chamado por Deus para representá-lo diante do povo como profeta, mas isso lhe custou sofrimentos, basicamente em três níveis: i) interior; ii) exterior; iii) espiritual. Em seu sofrimento interior, ele teve de lidar com dúvidas vocacionais, com a solidão e com tristezas profundas (Jr 9.1; 13.17); quanto ao sofrimento, ele enfrentou a rejeição de seu próprio povo, a perseguição de seus líderes e a prisão (Jr 20.2,14-18; 38.6); finalmente, o sofrimento espiritual de Jeremias se explica pelo peso de seriedade da mensagem que teve de transmitir a um povo rebelde e que não se importava com a vontade de Deus.
O que se percebe é que Jeremias viveu isoladamente, isto é, o seu ministério e a forma com que o conduziu, influenciou diretamente, não somente a sua vida social, mas também familiar, pois, embora não haja uma referência direta à sua família, todavia, o Texto Bíblico afirma que “homens de Anatote” buscavam tirar-lhe a vida e, como bem se sabe, esta era a terra natal do profeta e alguns estudiosos defendem a possibilidade de que alguns de seus parentes faziam parte deste grupo (Jr 11.18- 21). Na intenção de retratar a intensidade de vida que o profeta viveu, considere o comentário que Paul C. Gray faz de Jeremias 16.1-9:
Jeremias, cuja natureza sensível e afável anelava por companheirismo e relacionamento social, está agora proibido de desfrutar dessas coisas. Ele está isolado dos seus companheiros, uma figura solitária contra um céu sombrio. Deus lhe nega o conforto do lar e da família. Não tomarás para ti mulher, nem terás filhos nem filhas neste lugar (2). Jeremias é o único dos profetas que foi proibido de casar. Mas há tragédias maiores do que a solidão. O profeta foi instruído a transmitir a seguinte mensagem acerca dos filhos e das filhas que nasceram naquele lugar […] acerca de suas mães […] e de seus pais: Todos eles morrerão de enfermidades dolorosas (3-4). Jeremias foi então proibido de ir à casa do luto (5). Isso ia estritamente contra o costume da época, e podia servir como uma lição objetiva para o povo. Tratava-se de um sinal de que a destruição futura seria tão grande que os ritos e cerimônias para os mortos não seriam oficiados. Os cadáveres não seriam sepultados; não haveria lamentação, nem por eles se raparão os cabelos (6); nenhum copo de consolação (7) seria oferecido […] Para um judeu esse era o quadro mais sombrio que se poderia pintar. A proibição final se referia à casa do banquete (8). Isso era um sinal de que todas as coisas agradáveis logo seriam removidas. Não haveria mais os sons alegres das festas de casamento. A voz do esposo, e a voz da esposa (9) cessariam. Somente o silêncio da morte prevaleceria sobre a antiga cidade alegre. (GRAY, 2016, p. 302,303)
Evidentemente que toda essa carga de sofrimento que Jeremias carregou durante a sua trajetória não foi ocasionada somente por ter sido enviado a profetizar a reis, no entanto, isso fez parte de seu ministério, e, portanto, foi sim um dos motivos pelos quais teve de enfrentar estas e outras adversidades. Sendo assim, em resumo, por entregar a mensagem de Deus ao povo e, principalmente, aos reis de seu tempo, Jeremias foi perseguido (Jr 36.26), posto em prisão (37.15-21), lançado numa cisterna (38.1-6) e a sua mensagem foi amplamente rejeitada.
3. Um profeta e cinco reis
Jeremias desempenhou o seu ministério como profeta em dias turbulentos, difíceis e de grandes desafios políticos, sociais e espirituais. A realidade desse contexto pode ser identificada pelo desprezo que o povo tinha pelos assuntos eternos e divinos, mas também pelo perfil dos reis que governaram durante os anos nos quais Jeremias serviu a Deus como profeta.
De forma direta, o texto sagrado informa os nomes de Josias, Jeoaquim e Zedequias como reis dos dias de Jeremias (Jr 1.2-3), ainda que nomes como o de Joacaz e o de Joaquim não aparecem no registro bíblico. O não aparecimento desses dois últimos nomes na abertura do livro de Jeremias se dá, provavelmente, primeiro porque ambos reinaram apenas três meses, enquanto os outros três reis governaram longos anos e ocuparam papel importante no pano de fundo do exercício ministerial deste profeta.
Jeoacaz reinou no lugar de seu pai Josias e, embora tenha ficado pouco tempo no trono, foi o suficiente para entrar para a história como um líder que “fez o que era mal aos olhos do Senhor” (2 Rs 23.32). Quanto a Joaquim, filho de Jeoaquim e que, à semelhança de Jeoacaz, foi descrito como alguém que “fez o que era mal aos olhos do Senhor” (2 Rs 24.9) e advertido e avisado por Jeremias sobre o seu trágico fim, pelas mãos de Nabucodonosor e o fim de sua descendência real (Jr 22.24-30).
Os próximos dois tópicos deste capítulo são dedicados a refletir sobre os reis Jeoaquim e Zedequias, daí porque este tópico se encerra com uma breve análise do perfil de Josias, rei que governava quando do nascimento e chamado de Jeremias (1.2). Ele tem recebido o título de o último rei piedoso de Judá e pôde contar com o apoio do profeta Jeremias para as suas ações em busca de renovação espiritual para o povo (2 Rs 22.3–23.5).
Essas breves informações a respeito de Josias são suficientes para confirmar o seu compromisso com a Palavra de Deus, o seu favorecimento ao fim da idolatria e ao ministério profético, como no caso de Jeremias que, durante esse reinado, teve maior liberdade de entregar a mensagem de Deus ao povo. A morte de Josias pelas mãos do faraó Neco, do Egito, na conhecida batalha do Megido (2 Cr 35.20-24), trouxe grande tristeza a Jeremias, levando-o a lamentar a sua morte (2 Cr 35.25). O texto de Lamentações 4.20 tem sido atribuído como uma referência a esse lamento do profeta.
Jeremias, portanto, foi um profeta, cujo ministério se deu na alternância de cinco reis em Judá, sem contar as suas ações em relação a outras nações, conforme tratado mais à frente. Destaca-se a sua fidelidade e o sucesso de seu ministério em meio ao reinado desses poderosos, como cumprimento da promessa divina (Jr 1.8).
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Exortação, arrependimento e esperança: o ministério profético de Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.
