Lição 5: Davi: Provado pelo o ciúme
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria de Marcos Tedesco.
Introdução:
A caminhada humana é marcada por constante aprendizado. A cada história, há uma lição que nos faz refletir, reforçar ou evitar posturas. Assim foi com Davi. Diante de Saul, ele experimentou um amadurecimento extremamente importante para as suas futuras atribuições como rei. Como pastor de ovelhas, foi levado a uma postura de responsabilidade, cuidado, sensibilidade, coragem diante dos desafios e simplicidade diante das responsabilidades (1 Sm 17.32-35). Como músico, aprendeu sobre a vida na corte e o cotidiano de uma família real, sendo também usado pelo Espírito de Deus para acalmar a fúria de Saul e entoar louvores ao Senhor num ambiente notadamente carregado de inquietações. Como escudeiro do rei, pôde acompanhar o monarca nas manobras militares e nas batalhas, observando atentamente e aprendendo acerca da arte da guerra (1 Sm 16.16-21), além de tantos outros exemplos de lições.
Há, no entanto, uma questão que se destacou e proporcionou a Davi muito aprendizado, além de “dores de cabeça”: os ciúmes de Saul (1 Sm 18.7-16). O reinado de Saul foi sendo marcado por momentos infelizes e reprováveis à medida que os anos foram passando. O que havia começado bem caminhava para o fim trágico.
A partir da derrota de Golias, a vida de Davi passou a ser ameaçada constantemente por Saul. Em crises crescentes de ciúmes e revolta, o rei constantemente conspirava para matar o ungido do Senhor.
O ciúme de saul:
Logo que Saul tomou conhecimento sobre Davi, percebeu que aquele jovem era diferente dos demais. A vitória contra o gigante de Gate, a forma como tocava a harpa e cantava, a amabilidade e o respeito como se relacionava com todos, a maneira como chamava a atenção por mais discreto que buscasse ser; enfim, o filho de Jessé era alguém ímpar. Nele repousava o Espírito de Deus, o que já não fazia mais parte da vida do rei. Era perceptível a Saul que ali estava alguém destinado ao trono de Israel. Sem a direção do Espírito, o monarca estava confuso e temia qualquer tipo de ameaça. Saul tinha uma história digna da posição que ocupava. Era bem-nascido e foi escolhido e ungido como o primeiro rei de Israel ainda no vigor da idade, inspirado pelo Espírito, tornando-se um rei respeitado e admirado.
Diante da sua negligência espiritual, porém, o Senhor rejeitou aquele que não mais se permitia estar na direção divina. Saul agora era apenas alguém com os dias contados, colecionando frustrações e fugindo de um desfecho já determinado. Segundo Champlin, “o herói que havia tirado a vida de milhares de pessoas não era capaz de matar um único homem em seu dormitório, com a lança que se recusava a atingir o alvo. O antigo vigor e habilidade de Saul o havia abandonado. Mas ele continuaria tentando destruir Davi e o poria em fuga, até o dia em que a morte atingisse Saul e Jônatas no campo de batalha” (CHAMPLIN, 2002, p. 1192).
Os triunfos de Davi, mesmo que em nome de Saul, atormentavam o rei. O ciúme é um sentimento tão voraz que nos leva a uma importante reflexão: devemos ficar alegres pelo desenvolvimento e crescimento de nossos irmãos e jamais nos entristecer pelas conquistas dos demais. O amor verdadeiro não oprime nem aborrece, mas alegra-se com o desenvolvimento de quem está ao seu lado.
O Ciúme do Mal:
Há dois tipos de ciúmes. Na verdade, são dois sentimentos completamente distintos, embora homônimos. O ciúme do mal, como o de Saul para com Davi; e o ciúme do bem, como o de Deus para conosco.
Falaremos aqui sobre o ciúme do mal. Trata-se de um ciúme danoso, que traz tristeza, frustração e prejudica a capacidade de refletir com clareza (Tg 3.16; Pv 14.30; Pv 27.4). O dia da vitória de Davi sobre Golias foi celebrado por todos, porém despertou no rei uma diferente percepção e uma crescente aversão para com o jovem.
Após a derrota dos filisteus, os cânticos que ecoavam o feito de Davi (1 Sm 18.6-12) traziam inveja e provocavam um crescente ciúme em Saul, fazendo-o ficar gradativamente descontrolado e movido por um desejo de destruir o suposto “adversário”.
As dificuldades enfrentadas por Davi também eram frutos dos seus triunfos. Cada sucesso era sucedido pela ira de Saul. Henry (2010) afirma que, como consequência da saída do Espírito Santo, os homens tornam-se irritáveis, invejosos, desconfiados e propensos a fazer o que não é bom. Como exemplo, temos as várias tentativas de matar Davi com a lança mesmo quando este tocava a harpa fazendo o bem ou quando voltava das batalhas oferecendo as honras a Saul. Enfim, o rei foi atormentado pelo ciúme, enquanto o reinado foi ofuscado pelo protagonismo do homem segundo o coração de Deus. Conforme Dever (2008), na mesma proporção que cresce o prestígio de Davi, ganha força o ressentimento de Saul.
O ciúme é, segundo Lopes (2007), uma forma distinta de angústia que se alimenta da insegurança e da possibilidade de perder a posição para um rival. Esse sentimento leva muitas vezes a ações violentas, como no caso de Saul, promovendo o desequilíbrio e a tomada de decisões equivocadas.
Algumas estratégias podem ajudar a vencer esse sentimento. Seguem três: superar de forma inteligente a insegurança; aprender a lidar com os sentimentos; não se deixar vencer pelo orgulho e egocentrismo. Ainda para Lopes, “o ciúme está entre as obras da carne e deve ser vencido (Rm 13.13; 1 Co 3.3; Gl 5.20)” (LOPES, 2007, p. 188).
Como é triste quando um líder, como Saul, é tomado por ciúmes e inveja dos seus liderados. Todas as suas percepções serão turvadas pela amargura e o medo de ser ofuscado. Não haverá satisfação nas conquistas, pois sempre será assombrado pelos temores da sua própria mente doentia, sendo o seu principal objetivo desqualificar os demais, esquecendo-se, assim, do que deveria ser prioridade.
Existe Ciúme do Bem?
Em primeiro lugar, deixaremos bem nítida a diferença entre os dois tipos de ciúme: o da carne (ou “do mal”) refere-se ao desejo de domínio egoísta e abertura ao pecado, além de abusos que causam destruição. Já o expresso por Deus (aqui chamado “do bem”) implica o cuidado e zelo de Deus pelos seus, trazendo-os para a comunhão e, assim, permitindo a bênção da presença divina na vida de todos.
Quando falamos em “zelo”, encontramos no grego koiné tanto um sentido bom (ardor e devoção) quanto um sentido mau (desconfiança e inveja). O Dicionário Bíblico Wycliffe (2007) afirma que, no Antigo Testamento, o “zelo/ciúme” manifestado por Deus implica ardor, devoção e até desconfiança com parte dos povos. No Novo Testamento, esse sentimento também é por diversas vezes percebido, tanto da parte de Deus (Jo 2.17) quanto da parte dos cristãos, com destaque para Paulo (2 Co 11.2).
O Senhor tem ciúmes do seu povo e fica triste quando se afastam dEle quebrando a aliança feita (Dt 32.16-18; Os 2.4-15; 2 Rs 17.7-23). Esse ciúme está envolvido em zelo e, mesmo com o juízo necessário, Deus certamente nos ama e está sempre disposto a perdoar restabelecendo novamente a comunhão (Jl 2.3; Ne 9.31; Mq 7.18).
Ainda no Novo Testamento, encontramos a defesa de Tiago ao mencionar o ciúme sentido pelo Espírito Santo (Tg 4.5-10) como um sentimento ligado ao zelo e ao cuidado para que não permitamos atitudes motivadas pela cultura do mundo — o que fatalmente nos afastaria dos propósitos divinos —, nem nos percamos em um esfriamento gradativo com relação à nossa vida espiritual.
Prossigo para o Alvo:
Abre-se diante de nós uma grande lista de compromissos. Entre esses compromissos, encontramos algumas prioridades. As prioridades ditam o ritmo e a direção que devemos empregar em nossa jornada. Se pararmos para resolver cada dificuldade paralela em nosso cotidiano, infelizmente deixaremos de lado o alvo, e as prioridades serão desprezadas em função de demandas secundárias. Olhando para a história de Saul e Davi, encontramos o ciúme entre essas demandas. Esse sentimento pode ser superado mediante o direcionamento divino em nossa vida; por isso, devemos sempre buscar em Deus uma postura baseada no amor (1 Co 13.4-8) e no desejo de que nosso próximo seja abençoado.
Se cedermos ao ciúme, ou ainda vivermos ações sempre em função dele, permitiremos uma série de dificuldades como: a abertura a outros pecados, a ira violenta, o rancor e a falta de sensibilidade para as questões espirituais (Tg 3.14-17). Como consequência, famílias sofrerão, amizades serão destruídas, vínculos serão quebrados, e projetos serão desfeitos. O ciúme ofusca nossa visão e impede-nos de alcançar nosso alvo maior.
Davi, em meio a perseguição voraz de Saul, precisou fugir por muito tempo. Por uma grande ironia, em duas oportunidades buscou refúgio entre os tão conhecidos inimigos de Israel, os filisteus (1 Sm 21 e 27). Em vez de ficar lamentando os seus infortúnios, buscou salvar a sua vida e continuar a sua jornada. Davi não perdeu tempo em retaliações aos ciúmes e investidas do rei. O tempo urgia, e os desafios eram grandes. Mesmo em fuga, defendeu Israel e honrou o seu rei, um grande exemplo.
Davi tinha uma prioridade, um alvo, e assim não se perdeu em rebater e reagir ao ciúme. Apenas seguiu em frente na sua missão, honrou o rei e foi posteriormente contemplado com a fala do próprio monarca abençoando e reconhecendo que ele prevaleceria diante dos desafios (1 Sm 26.25).
Sigamos fielmente o conselho do apóstolo Paulo: prossigamos para o alvo (Fp 3.13-14), não percamos tempo com o que nos aborrece e, direcionados por Deus, avancemos para o que é elevado.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: Davi: de Pastor de Ovelhas a Rei de Israel. Fé e ação em meio às adversidades da vida. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.