Lição 9 – A Fidelidade dos Recabitas
Prezado(a) irmão(ã) professor(a), a paz do Senhor! Chegamos à lição nove e, durante esta aula, veremos que ela faz um chamado à santidade para aqueles dias que continua para os dias de hoje.
“Já está claro que uma das principais características do ministério de Jeremias, mui especialmente a forma de receber e entregar boa parte das suas mensagens, deu-se por meio de parábolas e exemplos vívidos, tornando-as claras e de melhor compreensão. Conforme visto e apresentado anteriormente, as parábolas aparecem com certa frequência no contexto ministerial de Jeremias. Não só esse recurso, mas o exemplo prático também foi usado por ele, como no caso dos recabitas.
O episódio dos recabitas tem chamado a atenção de estudiosos e do público cristão em geral em, pelo menos, dois sentidos: i) o uso desse grupo como exemplo prático para chamar a atenção do povo de Judá; ii) a postura exemplar de fidelidade, convicção e compromisso com valores e princípios assumidos. Jeremias toma-os como exemplo para tentar despertar a consciência adormecida de Judá e contrasta o comportamento de ambos os povos, mostrando o quanto o seu povo estava distante dos seus propósitos e da sua vontade.
Essa história é contada em todo capítulo do livro de Jeremias, o que é significativo. O comportamento dos recabitas é apresentado em contraste com o de Judá, e o seu registro encontra-se num contexto histórico de elevada importância, já que os capítulos 35 e 36 de Jeremias remontam ao reinado de Jeoaquim com base na seguinte informação detalhada: “exércitos dos babilônios e dos sírios” (v. 11), indicando uma data posterior ao oitavo ano do rei Jeoaquim, que começou a governar em 609 a.C. Nesse período, Jerusalém, a capital, foi sitiada em 605 a.C. por Nabucodonosor, o que se intensificou quatro anos mais tarde como fruto da má decisão do rei de Judá em voltar-se contra o rei da Babilônia. Ao utilizar-se do exemplo dos recabitas, o profeta Jeremias estava apelando para algo prático e que despertasse a consciência dos seus irmãos judeus, a fim de que se voltassem para Deus em arrependimento.” (TORRALBO, 2025, p. 112)
Para ajudá-lo(a) a se aprofundar um pouco mais neste assunto é importante destacar que “o chamado de Deus ao seu povo nos dias de Jeremias e o desafio imposto à Igreja na atualidade, o tema da santidade surge como o mais propício e adequado para uma análise prática, capaz de contribuir diretamente com a vida da Igreja. Uma vez que esse ponto é dedicado ao tema da santidade, faz-se necessário dedicar um espaço introdutoriamente para que não somente o termo, mas principalmente o conceito de santidade seja bem compreendido, a começar por uma boa e segura base. Por essa razão, o tema central aqui se baseia inicialmente no termo santidade, no seu sentido, na sua forma de fidelidade e, por fim, como um caminho pelo qual as bênçãos de Deus podem ser alcançadas.” (TORRALBO, 2025, p. 116)
A fim de auxiliá-los na compreensão deste ensinamento, trazemos um trecho extraído do livro do trimestre cujo conteúdo também é de autoria do pastor Elias Torralbo.
1. O que é santidade?
Nesta última seção deste capítulo, o tema central é o chamado de Deus para que o seu povo viva em santidade. Uma vez que o ponto de partida dessa reflexão é o exemplo dos recabitas para Judá no contexto do ministério de Jeremias, dois pontos importantes devem ser destacados aqui: i) como já tratado anteriormente, o foco de Deus não era os recabitas, mas Judá, o seu povo. Sendo assim, esse grupo de nômades do Antigo Testamento não serve como exemplo de santidade a ser seguido atualmente, como se as regras a que se submeteram fossem o padrão de santidade a ser seguido pela Igreja; ii) a ênfase de Deus ao usar os recabitas como exemplo foi em relação à fidelidade desse grupo, mas o chamado foi dado a Judá, para que este se arrependesse, reconhecesse ao Senhor e vivesse em santidade conforme o padrão divino, e não o padrão dos recabitas.
Santidade é aquilo que é próprio do que é santo. Em relação a Deus, leia abaixo o que Stanley M. Horton escreve:
A santidade é o caráter e a atividade de Deus, conforme revelada no título Yahweh m qaddesh, “o SENHOR que vos santifica” (Lv 20.8). A santidade de Deus não deve tornar-se mero assunto de meditação, mas um convite (I Pe 1.15) para que participemos de sua justiça e o adoremos juntamente com as multidões. Os quatro seres viventes no Apocalipse “não descansam nem de dia nem de noite, dizendo: Santo, Santo, Santo é o Senhor Deus, o Todo-Poderoso, que era, e que é, e que há de vir” (Ap 4.8; cf. Sl 22.3) (HORTON, 2019, p. 139).
Note que a santidade — tomando a de Deus como o exemplo máximo — está relacionada, tanto ao seu Ser como às suas obras, mesmo porque, tudo o que Ele faz fundamenta-se e reflete quem Ele é. Além disso, o texto cita Levítico 20.8, demonstrando que, no Antigo Testamento, já está presente o fundamento de que, por mais bem intencionado que esteja, o ser humano não é capaz de santificar-se a si mesmo e em total conformidade com o ensinamento que Paulo dá tempo depois (1 Ts 5.23).
A santidade não deve ser algo a ser admirada apenas, mas também — e principalmente — perseguida (Hb 12.14); afinal de contas, o crente é chamado a ter uma vida de santidade (ver 1 Pe 1.15). Nesse sentido, ser chamado à santidade é ser chamado a estar próximo e a andar com Deus e, assim, tornar-se parecido com o Senhor, bem como propriedade exclusiva dEle (1 Pe 2.9).
Santidade, portanto, é a qualidade de alguém que se entrega sem reservas a Deus e decide viver inteira e exclusivamente para Ele. Ao usar o exemplo da integridade dos recabitas em regras humanas e passageiras, Deus estava chamando Judá a entregar-se a Ele e a submeter-se à sua Lei de natureza divina, santa e eterna (Jr 35.16).
2. Santidade como fruto da fidelidade:
Que o crente é chamado à santidade, isso já está claro; mas, afinal de contas, como isso se torna possível na prática, na vida diária?
Em meio aos conselhos dados a Timóteo (1 Tm 4.7), o apóstolo Paulo estava recomendando que o jovem obreiro estivesse mais comprometido com atividades espirituais, como, por exemplo, a oração, a meditação na Palavra e a vida consagrada, a fim de alcançar um padrão de vida espiritual ideal, inclusive de santidade.
A prática da piedade, conforme tratado acima, é fundamental; entretanto, por detrás dela, é preciso que haja a virtude da fidelidade, pois é por ela que o crente perseverará na sua decisão de agradar a Deus, independentemente das circunstâncias. Nesse sentido, há uma íntima relação entre santidade e fidelidade que merece uma atenção especial, principalmente no que se refere à santidade como fruto de fidelidade a Deus.
Na parábola contada por Jesus, conhecida como a “dos dois servos” registrada em Mateus 24.45-51, é possível perceber o conceito de fidelidade na pergunta feita por Jesus logo na sua abertura e na resposta que Ele mesmo dá (vv. 45,46). Observe que a resposta à pergunta que Ele mesmo fez, o Senhor Jesus afirmou que o servo fiel é aquele que for achado “fazendo assim”. A pergunta é: “Fazendo de que forma?”. Objetivamente, a resposta é: “Fazendo o que foi designado a ser feito e da forma com é para ser feito”. Nesse caso, a fidelidade é a qualidade do crente que faz o que lhe foi determinado a fazer, do modo a que foi orientado e no lugar onde foi colocado.
Por isso que, para chamar o seu povo a viver em fidelidade, Deus usou os recabitas e usou-os como exemplo, uma vez que, mesmo depois de dois séculos, continuavam resolutos em seguir o padrão estabelecido pelo seu líder-fundador. Como resultado disso, é possível afirmar que a decisão de um crente em servir a Deus em santidade deve ser acompanhada da virtude da fidelidade, já que por ela é que é possível perseverar até o fim nesse propósito.
3. A santidade que abençoa:
Em toda a Bíblia Sagada encontram-se evidências de que a infidelidade de um povo ou de uma pessoa é punida por Deus, ao passo que a fidelidade é sempre elogiada e recompensada (ver 1 Sm 2.30). Nessa passagem de 1 Samuel 2.30, Deus repreende o sacerdote Eli, que, em virtude da sua tolerância aos pecados dos seus filhos, Hofni e Fineias (1 Sm 2.12-17,22-25), ficando evidente que o Senhor estava argumentando o fato de que, o sacerdote preferiu honrar mais aos seus filhos do que a Deus, Ele também o desonraria. Esse mesmo princípio aplica-se ao contexto que tem servido de base para a reflexão deste capítulo, no qual se vê o contraste entre a fidelidade dos recabitas às regras do seu líder-fundador e a infidelidade de Judá à vontade do Deus eterno e todo-poderoso. Por outro lado, tomando a Daniel e aos seus amigos como exemplo, a decisão que tomaram de não se contaminarem na Babilônia atraiu as bênçãos de Deus, tais como: i) saúde (Dn 1.15); ii) inteligência, sabedoria e dons especiais (1.17); iii) destaque entre os demais (1.19,20). Do mesmo modo, haveria contraste do tratamento de Deus em relação aos recabitas e ao povo de Judá (Jr 35.17-19). A fidelidade e a vida separada dos recabitas atraiu a atenção de Deus, que garantiu a perpetuação desse povo, somada à promessa de que os seus descendentes assistiriam na sua presença (v. 19).
Deus deseja que o seu povo seja santo (1 Ts 4.3), seguido da promessa de permanecerem na presença dEle para sempre (1 Jo 2.17). A santidade e a fidelidade agradam a Deus e permitem que os crentes sejam beneficiados com as bênçãos e as promessas divinas.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Verônica Araujo
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Exortação, arrependimento e esperança: o ministério profético de Jeremias. Rio de Janeiro: CPAD, 2025.
