Lição 2 – João Batista: preparando o caminho

Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Silas Queiroz, comentarista do trimestre.

INTRODUÇÃO
Nesta lição falaremos sobre João Batista, o precursor de Jesus, ou seja, aquele que foi enviado para anunciar a chegada do Messias. Destacaremos o cuidado de João, o evangelista, em apresentar João Batista já informando que não era este a “Luz verdadeira”, ou seja, o Filho de Deus, mas apenas alguém que daria testemunho dela (Jo 1.8). Aliás, João Batista havia sido preparado por Deus de forma tão extraordinária que, já naqueles dias, estava convicto da deidade de Cristo, tanto que o apresen­ta como o “Filho unigênito, que está no seio do Pai” (1.18). O pregador do deserto também anuncia, com muita clareza, a chegada de uma Nova Aliança, diferente daquela feita por meio de Moisés: “Porque a lei foi dada por Moisés; a graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (1.17).

Todo esse extraordinário conhecimento espiritual é fruto do que João Batista aprendeu na escola do Espírito Santo, na qual foi matriculado ainda antes do seu nascimento. Por isso, ele estava pronto, convicto e resoluto do seu ministério em relação ao Messias, o Filho de Deus encarnado.

UM HOMEM ENVIADO DE DEUS

Fazendo jus ao caráter espiritual do seu Evangelho, o apóstolo João traz para o cenário da sua narrativa outro João, o Batista, de forma bastante peculiar. Ele não apresenta a sua origem humana, falando do seu nascimento, e sim o identifica como “um homem enviado de Deus, cujo nome era João” (1.6). Isso mostra, indubitavelmente, que o mais importante na vida do Batista não era o seu nome ou origem familiar, mas o fato de ter sido enviado por Deus para uma missão tão nobre, que era justamente preparar o caminho do Messias.

O contraste, todavia, é bastante evidente entre ele, João Batista, e o Messias. Enquanto o Verbo “era Deus”, Eterno e Criador de todas as coisas (1.3), João Batista era apenas um “enviado de Deus”, ou seja, um ministro do próprio Verbo. Enquanto o Verbo já estava no princípio e era preexistente a ele, João teve um papel extremamente transitório, retratado na expressão “houve um homem”. De fato, João Batista logo sairia de cena, decapitado a mando de Herodes a pedido da filha de Herodias, justamente em conse­quência da sua coragem e fidelidade a Deus no ministério profético (Mt 14.1-12; Mc 6.14-29; Lc 3.19,20; 9.7-9).

O registro joanino sobre João, o Batista, é bem expresso ao dizer que “Não era ele a luz”. Acredita-se que tenha havido, especificamente, o propó­sito de refutar uma falsa crença surgida naqueles dias, de que João Batista seria “a revelação final de Deus à humanidade, e que os cristãos haviam erroneamente elevado Jesus a essa posição”, probabilidade que se reforça pelo fato de que, em Éfeso, aparecem discípulos que haviam sido batizados somente no batismo de João (At 19.1-7). D. A. Carson observa, contudo, que isso, por si só, seja suficiente para a conclusão prefalada, ou seja, de que esses discípulos “tenham de fato se oposto às declarações dos cristãos”.

Tendo ou não em mente algum grupo específico, o texto joanino não tem caráter aleatório, como não o tem parte alguma das Escrituras. Werner de Boor considera que “não é de admirar que havia comunidades do Batista na época dos apóstolos, as quais não devem ser tido insignificantes. Seus vestígios são encontrados em Atos 18.24 em personagens como Apolo e em Atos 19.1-7 ‘nos discípulos’ em Éfeso”. Consideremos também o fato de que, quando Herodes ouviu falar de Jesus, acreditou que seria João Batista, que tinha ressuscitado (Mt 14.1,2). Na verdade, havia muitos que tinham semelhante crença sobre a ressur­reição do Batista (Lc 9.7). Não é possível saber, portanto, a que ponto poderia ter chegado uma provável veneração ao precursor do Messias.

De qualquer sorte, não é possível sequer estabelecer qualquer comparação entre João Batista e o Verbo, pois o finito não pode ser comparado ao Eterno. Todavia, pela nobreza da sua missão e o seu caráter, João Batista foi considerado o maior dentre os nascidos de mulher (Lc 7.28). A mais nin­guém foi dada a tarefa de ser o precursor do Messias, testificar da Luz, para que todos cressem por ele (1.7). Isso certamente impactava a vida de João Batista, com extraordinárias experiências espirituais ao longo de toda a sua vida, como ocorrera quando estava ainda no ventre da sua mãe (Lc 1.41).

Nenhum dos quatro evangelistas descreve a vida de João Batista entre o seu nascimento e o aparecimento no deserto da Judeia, pregando e batizan­do as multidões. Não nos cabe, portanto, especular como ele tenha vivido, embora as suas características indiquem ter tido uma vida ascética6 (Mt 11.18,19; Lc 7.33), ainda que vivendo no seio familiar, pois, quando apare­ce ao mundo, é identificado como alguém de hábitos incomuns: vestia-se de pelos de camelo, usava um cinto de couro em torno dos seus lombos e alimentava-se de gafanhotos e mel silvestre (Mt 3.4).

O VERBO, O PREGADOR E A PREGAÇÃO

O profetismo na Bíblia sempre fez parte da ação de Deus na revelação da sua vontade e propósitos para a humanidade. O próprio Deus sempre agiu por meio da fala. Toda a criação é resultado das suas ordens verbais. Agora, Cristo é apresentado como o Verbo, também indicando um Deus que age e intervém em favor do homem que criou. Em Deus não há inação ou inércia (Jo 5.17).

Ele não só age diretamente por intermédio da expressão verbal, como também se vale de arautos ou profetas para anunciar os seus planos, decre­tos, promessas e juízos. Esse Deus que sempre fala — e de muitas maneiras, como diz o escritor aos hebreus (Hb 1.1,2)8 — vai, mais uma vez, valer-se de um profeta (e que profeta!). Agora, para o maior de todos os anúncios: a chegada do Messias prometido.

Acerca dele, diz João, o evangelista: “Houve um homem enviado de Deus, cujo nome era João. Este veio para testemunho para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele. Não era ele a luz, mas veio para que testificasse da luz” (Jo 1.6-8). É indiscutível que vejamos que João Batista não era um autointitulado pregador, e sim um homem enviado de Deus.

É por demais relevante que o discípulo amado tenha feito esse claro registro acerca do ministério de João, o Batista, um pregador autêntico, com quem muito temos a aprender em tempos de tanto carreirismo, especialmente na área da pregação.
Não podemos brincar e nem deixar que brinquem com a pregação, em nossos púlpitos ou quaisquer outros espaços vinculados à igreja. E, se quiserem banalizar esse ofício divino por intermédio de meios privados, ainda assim precisamos exercer a disciplina com aqueles que estejam sob liderança espiritual.

A imprescindibilidade da pregação não nos permite hesitar. Não há como negociar princípios ou valores sob pena de perdermos a única ferramenta eficaz para a produção de fé salvífica. Como disse Paulo, “a fé é pelo ouvir, e o ouvir pela palavra de Deus” (Rm 10.17). No caso em estudo, o evange­lista João trata justamente dessa essencialidade da mensagem, quando diz: “Este veio para testemunho para que testificasse da luz, para que todos cressem por ele” (Jo 1.7).

A expressão “cressem por ele” não deixa dúvida alguma de quão importan­te e imperativa era a pregação de João Batista, sendo ele um indispensável canal da mensagem e da geração de fé nos ouvintes. Seria por ele — como, de fato, fora — que as multidões identificariam e creriam em Jesus para o início do seu ministério.

Era ele não apenas uma voz, mas “a voz”, como registrou Isaías10 no capítulo 40 do seu livro: “Voz do que clama no deserto: Preparai o caminho do Senhor; endireitai no ermo a vereda a nosso Deus” (Is 40.3). O próprio João Batista, de maneira humilde e sem maiores pretensões, viria identifi­car-se como essa voz, quando quiseram saber quem era ele, para difundir o seu nome: “Eu sou a voz do que clama no deserto: Endireitai o caminho do Senhor, como disse o profeta Isaías” (Jo 1.23). O fato de ser “a voz” demonstra que ele e nenhum outro foi escolhido para essa missão. Deus tem um propósito específico com cada um de nós, mas isso não torna ninguém maior do que outro.

O pregador precisa reconhecer o seu lugar com toda a humildade. Precisa saber que ele é apenas um semeador, muitas vezes anônimo. O pregador é somente “aquele que leva a preciosa semente” (Sl 126.6). Se isso for feito com a motivação e o espírito corretos (“andando e chorando”), o retorno será, “sem dúvida, com alegria, trazendo consigo os seus molhos”.

Poucos momentos certamente são tão gloriosos na vida do servo de Deus quanto aqueles em que expõe a Palavra com um coração puro, enternecido, sem nenhuma pretensão de buscar glória para si mesmo. É por isso que a autêntica evangelização pessoal é tão gratificante, porque nele não há meios de engrandecimento nem de reconhecimento público. É o evangelista, como testemunha de Jesus, falando ao pecador, em lin­guagem simples e direta.

Nesses tempos em que vivemos, o que menos se vê é evangelização pessoal, ou mesmo quem queira pregar em lugares inóspitos, como o deserto onde João Batista estava. Ora, ali não era o centro populacional da Judeia; as ruas cheias de Jerusalém, onde tudo o que acontecia logo virava notícia. João tinha esse estilo, de pregador do deserto, sem aparato, estritamente fiel ao seu chamado.

Não se pode negar a importância de utilizar-se também dos grandes meios de divulgação do evangelho, com objetivo de alcançar grandes massas. Esse não é o problema em si. A questão, repita-se, é a motivação interior, o que está no coração. Mas a falta dessa disposição humilde, às vezes, é muito evidente quando se seleciona públicos e lugares. Isso é ignominioso.

UM PREGADOR AUTÊNTICO

Em João Batista, vemos um pregador autêntico e direto, que não deixava que o foco ficasse nele, mas indicava o alvo da sua mensagem: “Eu batizo com água, mas, no meio de vós, está um a quem vós não conheceis. Este é aquele que vem após mim, que foi antes de mim, do qual eu não sou digno de desatar as correias das sandálias” (Jo 1.26,27).

Assim como João, o discípulo amado, o Batista sabia muito bem que estava anunciando a chegada do Filho de Deus encarnado. Embora Jesus tenha nascido depois dele,11 esse grande profeta identificava-o corretamente como o Eterno, “que foi antes de mim”, cuja missão era muito superior, pois ali estava “o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo” (v. 29).

O resultado da pregação de João Batista e a sua apresentação de Cristo foi realmente poderosa, fazendo com que Jesus começasse a ser seguido pelos seus discípulos (v. 37), que transmitiram a mesma mensa­gem a outros, contribuindo para a formação do que viria a ser o colégio apostólico (vv. 40-42).

AUTORIDADE PARA PREGAR

João Batista já havia alcançado fama e respeitabilidade o suficiente para poder apresentar o Messias ao mundo. O ganho de tais credenciais somente foi possível pela característica austera e poderosa da sua men­sagem, corroborada por uma vida exemplar, irrepreensível. João Batista tinha autoridade para pregar. Além disso, todo o servo de Deus — e, especialmente, os líderes — precisam estar revestidos de graça e poder, com autoridade para transmitir a verdade do Evangelho.
Escrevendo a Timóteo, Paulo refere-se justamente a um caráter irre­preensível, como uma das credenciais indispensáveis para o líder espiritual (1 Tm 3.2). Noutro ponto, diz que precisa ser aprovado, “como obreiro que não tem de que se envergonhar” (2 Tm 2.15). Isso demonstra que, em toda área da vida, precisamos viver de forma transparente a fim de estarmos prontos para cumprir o propósito de Deus, seja este qual for.

João Batista alcançou um estágio na sua história em que tinha apti­dão para pregar justamente porque cultivou uma vida santa, separada das práticas pecaminosas daquela época. Caso contrário, não teria tido credibilidade para transmitir a sua mensagem, atraindo multidões que vinham não somente para ouvi-lo, mas também para ser batizadas por ele. Mateus registra que “ia ter com ele Jerusalém, e toda a Judeia, e toda a província adjacente ao Jordão; e eram por ele batizados no rio Jordão, confessando os seus pecados” (Mt 3.5,6).

É importante que, como cristãos, independentemente de nossa idade, tenhamos uma vida de comunhão com Deus e com a sua igreja, por meio dos santos com os quais congregamos, a fim de termos autoridade para, com nossa vida e palavras, darmos testemunho de Jesus com toda credibilidade. O jovem, por exemplo, não pode descuidar do seu comportamento sadio, mesmo que sofra incompreensões e até seja ridicularizado, aceitando o padrão que Deus indicar a ele para viver, pois não sabe exatamente qual o plano de Deus para a sua vida.

Deus criou cada um com um propósito específico, para o qual é sempre indispensável uma vida de santidade. Nem todos temos os mesmos dons (Rm 12.6-8), mas todos temos algum dom ou alguns dons, porque não há membro do Corpo sem serventia específica (Rm 12.4,5; 1 Co 12.7). E todos somos membros do Corpo de Cristo e precisamos funcionar para o seu pleno crescimento (Ef 4.16).

Então, assim como João Batista, é preciso buscar compreender o propó­sito de Deus para nossa vida. Esperar o tempo certo de executar a missão que nos for dada por Ele, aceitando inteiramente as suas características e, inclusive, a sua duração, como fez João Batista, cujo ministério não foi longo, mas altamente expressivo e com resultados eternos. O segredo não é realizar o que queremos, mas o que Deus quer, porque Ele, e não nós, sabe o que é mais importante, e nem sempre o mais importante é o que dura mais tempo e aparece mais. Deus sempre tem os seus mistérios.

CONCLUSÃO

Sobre a experiência de João Batista, aprendemos que mesmo homens de profunda fé e convicção são sujeitos a passar por provas e crises espirituais. Se e quando isso acontecer, precisamos ser francos e transparentes e falar com Jesus o que realmente estamos sentindo ou pensando. Não podemos esconder dEle nossas dúvidas ou fraquezas. Isso de nada adiantará. Mas, se formos humildes e sinceros, Ele certamente nos responderá e renovará nossa fé e esperança.

A mensagem de Jesus certamente revigorou João Batista, que não sairia vivo da prisão. Foi decapitado. Resignado e resoluto, saiu de cena. Já havia encerrado — e muito bem — a sua missão! Um homem do qual o mundo não era digno (Hb 11.38). Ele está entre os mártires que serão laureados por Cristo na eternidade.

Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!

Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: QUEIROZ, Silas. Jesus, o Filho de Deus: Os Sinais e Ensinos de Jesus Cristo no Evangelho de João. Rio de Janeiro: CPAD, 2021.

Bacharel em Teologia, Jornalista, Pedagoga, Pós graduada em Gestão Escolar e Editora responsável das Revistas Jovens e Maternal da CPAD