Lição 7 -A Liderança de Davi
Prezado(a) professor(a), para ajudá-lo(a) na sua reflexão, e na preparação do seu plano de aula, leia o subsídio da semana. O conteúdo é de autoria do pastor Elias Torralbo, comentarista do trimestre.
INTRODUÇÃO
Davi é um personagem bíblico cuja biografia possui lições a pessoas de todas as faixas etárias, conforme se vê: I) Empolga as crianças que se identificam desde cedo com a sua coragem no enfrentamento ao gigante Golias; II) Motiva músicos com a sua sensibilidade musical e capacidade em compor hinos de louvor a Deus; III) Até nos seus erros ele ensina sobre os perigos que cercam os servos de Deus e como estes devem ser predispostos a arrepender-se; e IV) Apresenta-se como uma das mais fortes e impressionantes referências de liderança a ser seguida. Sendo assim, num mundo carente de referenciais, Davi apresenta-se como farol capaz de lançar luz no caminho dos servos de Deus, mui especialmente dos vocacionados à liderança cristã.
Este capítulo é dedicado a extrair e expor verdades sobre a liderança de Davi, homem este que reacende a certeza de que Deus utiliza-se de pessoas e métodos improváveis, e não somente isso, mas também age poderosamente em épocas de desesperança. A vida de Davi, o processo de treinamento a que foi submetido e o seu modelo de liderança são mais atuais do que geralmente se costuma imaginar, primeiro porque ele foi uma escolha divina, e depois porque ele, de fato, foi um líder bem-sucedido.
DAVI, UM HOMEM SEGUNDO O CORAÇÃO DE DEUS
Em cada registro bíblico a respeito da vida de Davi, é possível perceber a ação intencional de Deus, inclusive naqueles em que as fragilidades e os erros inerentes à natureza humana estão presentes, como no caso do seu pecado com Bate-Seba, em que o Senhor dirige-se a ele por intermédio do profeta Natã como clara demonstração de graça e misericórdia, oferecendo-lhe uma nova oportunidade e garantindo-lhe restauração (2 Sm 12.1-25).
A trajetória vitoriosa de Davi e os seus resultados confirmam a grandeza da sua liderança, e a este respeito Ann Spangler e Robert Wolgemuth afirmam o seguinte:
Davi foi o maior rei de Israel. É claro que as profecias nas Escrituras hebraicas relativas ao seu reino eterno não foram cumpridas durante a sua vida. Em vez disso, foram preservadas para o homem a quem os evangelhos se referem frequentemente como o “filho de Davi” — Jesus Cristo.1
Spangler e Wolgemuth destacam três pontos sobre Davi que o distingue dos demais líderes, tornando-o indispensável numa reflexão séria sobre liderança cristã. Os três pontos são: I) Davi foi o maior líder de Israel; II) A liderança de Davi foi fruto de profecia, isto é, foi uma escolha divina, e não humana; III) A liderança de Davi tem relação com o Reino de Deus, que não tem fim.
Sendo assim, este tópico é dedicado a levantar alguns pontos que envolvem a pessoa de Davi como líder, começando por uma reflexão sobre a sua condição de filho, destacando a natureza divina do seu chamado e culminando com algumas qualidades da sua liderança.
Davi, um Filho Obediente
Cada fase da vida é apropriada por Deus como parte do preparo necessário para que o líder em potencial esteja em condições plenas de exercer o seu ministério quando o momento oportuno chegar. Boa parte desse processo ocorre sem que a pessoa tenha real e total consciência do que esteja acontecendo, mas o certo é que, de maneira soberana e maravilhosa, Deus conduz os seus escolhidos por caminhos pelos quais eles são treinados para cumprirem o propósito a que foram designados.
Ao escrever sobre “o dom singular de Davi”, Charles R. Swindoll defende que, sem ele saber, Deus estava trabalhando no sentido de prepará-lo para que pudesse “trilhar o caminho que levava ao trono”, e ainda afirma que
“é assim que funciona o programa de Deus”.2 Uma das razões por que o Senhor submete os seus escolhidos a processos muitas vezes longos e difíceis tem a ver com o propósito de fortalecimento das raízes com vistas a durabilidade não só do ministério em si, mas principalmente com os seus resultados. Inquestionavelmente, um dos principais alvos a ser perseguidos por uma liderança que deseja ser bem-sucedida é a durabilidade dos seus frutos e que estes sejam capazes de resistir ao teste do tempo e à força das adversidades. Para isso, é preciso uma construção muito bem edificada sobre, pelo menos, três pilares: I) Princípios espirituais; II) Preparo e capacidade intelectuais; e III) Valores familiares.
Um líder cristão de sucesso não é resultado de um dia e muito menos de poucos anos; antes, ele é formado paulatinamente, e os seus resultados têm as suas raízes aprofundadas que remontam, inclusive e quase que sempre, à fase da sua formação familiar. O preparo de Davi pode ser notado desde os dias da sua juventude; aliás, assim como a esperança de Israel estava escondida em Moisés enquanto este apascentava o rebanho do seu sogro no deserto de Midiã, mais uma vez a esperança do povo de Deus estava em um pastor escondido e desconhecido em Belém.
O momento em que Davi foi ungido por Samuel (1 Sm 16.11-13) e a sua surpreendente vitória sobre Golias (1 Sm 17.48-58) marcam os dois grandes acontecimentos da juventude de Davi; observe, contudo, que ele estava cuidando das ovelhas do seu pai na ocasião da sua unção como rei (16.11) e, na conjuntura da sua vitória sobre o gigante, ele estava cumprindo a ordem do pai para que levasse comida aos seus irmãos (17.12-22). Sublinha-se, portanto, que esses dois importantes e grandes momentos da vida de Davi deram-se no contexto do seu comportamento como filho, isto é, em uma atitude de obediência e honra ao seu pai.
O sucesso de Davi como líder não foi um acidente; pelo contrário, foi uma construção conduzida pelo próprio Deus, cuja formação inevitavelmente passou pela sua juventude.
Davi, uma Escolha de Deus
Em nenhum momento, Davi é visto articulando ou trabalhando a sua ascensão ao trono e nem mesmo tentando enfraquecer a liderança de Saul; mas, ao contrário disso, o texto bíblico informa que foi o Senhor quem o encontrou e chamou para cumprir o honroso papel de liderar o seu povo. O registro bíblico de 1 Samuel 13.13,14 retrata com detalhes a circunstância sob a qual Davi foi chamado para liderar a Israel.
Como se não bastassem os dramas sócio-políticos a que Israel estava submetido na transição de sistema de governo, já que a monarquia era algo recente nos dias de Saul, além de tantos outros desafios, Davi foi chamado e colocado por Deus para liderar a Israel no lugar de um rei — por mais dura que seja esta palavra, é assim que a Bíblia diz — rejeitado por Deus. O Senhor não escondeu de Saul que já havia escolhido alguém — conforme o testemunho dEle próprio — segundo o seu coração para substituí-lo. Enquanto para Saul a decisão divina representou a sua derrota, para Davi teve um efeito contrário; no entanto, ele teve de lidar com a alegria do privilégio de ter sido escolhido e elogiado pelo Senhor, mas também com a dificuldade do momento delicado a que estava sendo submetido.
Inquestionavelmente, Davi foi uma escolha divina, e a Bíblia confirma isso; aliás, o próprio Deus é quem dá testemunho disso ao afirmar: “Achei a Davi, meu servo; com o meu santo óleo o ungi” (Sl 89.20). Além disso, Deus deixou claro que o segredo do seu sucesso não foi outra coisa senão as promessas que fez a Davi, que lhe garantiram vitória em todos os seus desafios à frente de Israel. Atente para a natureza de cada promessa: I) Garantia do braço de Deus, que o fortaleceria (v. 21); II) Garantia de vitória sobre os seus inimigos (vv. 22,23); III) Bondade e fidelidade divinas garantidas na sua jornada (v. 24); IV) Promessa de grandes conquistas (v. 25); V) Relação de paternidade com Deus (v. 26); e VI) Bênção divina prometida à sua posteridade (vv. 27-37). Essas colocações são apenas uma pequena amostra da grandeza da liderança de Davi, o que confirma mais uma vez que isso só foi possível por decisão e escolha divinas — se levarmos em consideração o anonimato de Davi como pastor de ovelhas e da falta de representatividade que ele tinha diante de Israel até ser escolhido por Deus.
Deus nunca errou nas suas escolhas, e não seria em Davi que Ele erraria. Uma pessoa verdadeiramente escolhida por Deus jamais se utilizaria do seu ministério para a sua promoção pessoal, haja vista que um dos critérios por que o Senhor escolhe alguém é a humildade. Nesse sentido, a atitude de Davi reafirma a natureza divina da sua liderança, pois, assim que foi ungido por Samuel, ele não passou a empenhar-se em assumir o trono, mas voltou a cuidar das ovelhas do seu pai, pois foi entre elas que foi encontrado quando Saul mandou chamá-lo (1 Sm 16.16-19).
Embora o chamado divino que Davi recebeu tenha sido forte e real, isso não o isentou da necessidade de ter sido confirmado entre as pessoas; aliás, o texto bíblico apresenta algumas pessoas que com facilidade perceberam e testemunharam a respeito da origem divina da sua liderança. Por exemplo, Jônatas, filho de Saul, teve a percepção de que o Senhor Deus havia escolhido e separado Davi para ser rei de Israel no lugar do seu pai (1 Sm 23.17). O próprio Saul veio a reconhecer que Davi foi a escolha de Deus para reinar no seu lugar (24.16-20). Abigail também foi sensível e pôde notar que Davi foi uma escolha divina para constituí-lo rei sobre Israel (25.28-30).
Davi foi uma escolha de Deus, e isso fez dele um líder vitorioso.
Qualidades de Davi como Líder
Há muito o que dizer sobre as qualidades de Davi como líder. O objetivo aqui é o de apresentar panoramicamente as principais qualidades da liderança de Davi, e, para que o objetivo seja alcançado, essa apresentação está dividida em três direções: I) A relação de Davi com Deus; II) A relação de Davi consigo mesmo; e III) A relação de Davi com o meio em que viveu.
Na primeira divisão, em que é proposta uma reflexão sobre a relação que Davi desenvolveu com o Senhor, o tema diz respeito à sua espiritualidade; já na segunda, em que é desenvolvida a sua relação consigo mesmo, o destaque recai sobre a sua admirável humildade; a terceira parte tem como ênfase a relação de Davi com o meio em que viveu — logo, a tônica é em torno do seu caráter.
As prioridades de um líder apontam para o fundamento sobre o qual a sua liderança está sendo construída, e a natureza desse fundamento determinará a qualidade e a durabilidade dos seus frutos. Davi fez de Deus a sua prioridade, e isso certamente o levou a ser considerado um homem segundo o coração de Deus. Em linhas gerais, implica dizer que ele teve o seu coração alinhado ao do Senhor, tendo demonstrado atos de obediência ao longo da sua vida, bem como um coração sempre inclinado em agradar a Deus.
Como se vê, a espiritualidade de Davi influenciou toda a sua vida e, consequentemente, a sua liderança, fazendo disso uma forma de honrar aquEle a quem ele amava. A consciência da necessidade e a prática de uma espiritualidade saudável na vida de um líder cristão irão levá-lo a exercer o seu trabalho como sendo para o Senhor, e isso garantirá um serviço de qualidade desde a sua motivação, os seus métodos e os seus resultados (1 Co 15.58).
Davi não foi um líder consciente apenas da sua necessidade de relacionar-se com Deus, mas buscou ter uma relação honesta consigo, reconhecendo os seus próprios limites como resultado de um coração humilde. No seu trabalho como guardião das ovelhas do seu pai, é possível identificar a sua humildade basicamente em duas atitudes: I) A consciência que ele tinha do seu lugar e a sua determinação em permanecer nele até que Deus desse a ele uma nova direção; e II) Pela sua disposição em servir incondicional e perseverantemente.
Uma das formas mais seguras para uma compreensão mais detalhada e aprofundada do verdadeiro estado do coração de Davi é olhar atentamente para as palavras exprimidas nos salmos que compôs; afinal de contas, um dos propósitos do livro de Salmos é exatamente permitir a expressão dos mais variados e complexos sentimentos humanos. Sendo assim, é possível perceber a autoconsciência de Davi à medida que ele não se esquece e nem se esconde de onde foi tirado por Deus, que fez dele o rei de Israel (Sl 78.70).
O coração humilde de Davi fez dele um servo, condição esta que o levou a obedecer e livrou-o de rebelar-se, e também o fez ser submisso ao seu pai e a Saul, mesmo quando este o perseguiu de forma implacável (1 Sm 24.3-13). Lembre-se de que humildade independe do lugar em que se vive; trata-se de um estado de espírito e fruto da ação do Espírito Santo, que capacita o crente, principalmente o líder cristão, a demonstrar isso em ações e reações conhecidas às pessoas que o cercam.
Por fim, a integridade de Davi também compõe a lista das principais qualidades que fizeram dele um líder valoroso, cujos frutos perduram até os dias de hoje e servem de exemplo aos que almejam liderar eficazmente. A integridade de alguém não tem relação apenas com questões morais; antes, também tem a ver com aquilo que é inteiro, e não fracionado. Sendo assim, uma pessoa íntegra é alguém que, independentemente do lugar ou da circunstância, não negocia valores, além de ser alguém que se entrega inteiramente em tudo o que se propõe a fazer.
Davi era intenso em tudo o que fazia. Além disso, ele não dependia de plateia para ser o que foi chamado para ser e nem para fazer o que foi incumbido de fazer. Ele enfrentou o gigante Golias na presença de muitas pessoas, mas não hesitou em enfrentar o urso e o leão no anonimato. Ele, a propósito, argumentou com o rei Saul sobre as suas condições de enfrentar o gigante exatamente com base nas suas vitórias secretas contra as feras do campo (1 Sm 17.32-37). Observe que a confiança e a motivação que moveram Davi no enfrentamento de Golias são as mesmas que o moveram no enfrentamento do urso e do leão, ou seja, a sua integridade fez com que ele tratasse com seriedade qualquer situação que tivesse relação com a sua missão de vida. Em suma, Davi foi um líder íntegro (Sl 78.71-72).
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Para conhecer mais a respeito dos temas das lições, adquira o livro do trimestre: TORRALBO, Elias. Liderança na Igreja de Cristo: Escolhidos por Deus para servir. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.