Lição 1 – A Origem da Igreja
ESBOÇO DA LIÇÃO
INTRODUÇÃO
I – O POVO DE DEUS NA BÍBLIA E NA HISTÓRIA
II – A IGREJA COMO CRIAÇÃO DIVINA
III – A IGREJA COMO A COMUNIDADE DOS SALVOS
CONCLUSÃO
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
1. Descrever a trajetória do povo de Deus na Bíblia e na história;
2. Apresentar a Igreja como criação divina;
3. Identificar a Igreja como a comunidade de salvos.
O Povo de Deus na Bíblia e na História
Há uma série de palavras no Antigo Testamento para referir-se ao povo de Deus. A mais frequente delas é qahal, que a Septuaginta traduz, na maioria das vezes, como ekklesia. O sentido é o de uma “convocação” ou de uma “reunião’. Dessa forma, uma assembleia, qualquer que fosse o seu objetivo ou propósito, poderia ser descrita como uma qahal. Exemplos podem ser vistos em Gênesis 49.6, 1 Reis 2.3 e Juízes 20.2. Nesses textos, vemos qahal sendo usada em relação a uma assembleia reunida em conselho; para cuidar de assuntos de natureza civil e em contextos de conflitos militares. Nesse último sentido, também encontramos a referência ao combate entre Davi e Golias (1 Sm 17.47). Assim, qahal era o termo preferido quando se queria referir a qualquer ajuntamento de pessoas (Gn 28.3; Pv 21.16; Jr 31.8; Ed 10.12). Contudo, o uso de qahal no texto hebraico também possui uma conotação notadamente religiosa. Nesse sentido, qahal é traduzido como “congregação” em referência à entrega da Lei ao povo (Dt 9.10; 10.4). Quando o povo, isto é, a “congregação”, estava em festa, era a qahal que se ajuntava (2 Cr 20.5; 30.25; Ne 5.13; Jl 2.16). Esses exemplos mostram a qahal como um ajuntamento seletivo de pessoas, e não de todo o povo. Dessa forma, o seu sentido religioso é posto em destaque:
Qahal também pode designar a congregação como um corpo organizado. Existe o qehal yisrael (Dt 31.10), o qehal YHWH (Nm 16.3) e o qehal elohim (Ne 13.1), e então, em outras vezes, simplesmente “a assembleia” (haqqahal). Ainda se veem as expressões “a assembleia da congregação de [qehal ‘edat] Israel” (Êx 12.6, IBB) e a “assembleia do povo de Deus” (Jz 20.2, IBB). De especial interesse é a expressão “congregação do SENHOR [qehal YHWH]”, da qual existem 13 exemplos (Nm 16.3; 20.4; Dt 23-2-4; Mq 2.5; 1 Cr 28.8). É, no AT, o mais próximo equivalente de “igreja do Senhor”. A Septuaginta traduz a expressão por ekklesia kuriou.1
O Novo Testamento usa a palavra ekklesia para referir-se, na grande maioria das vezes, à Igreja de Deus.2 A palavra ekklesia, portanto, é o termo preferido por Lucas em Atos dos Apóstolos e por Paulo nas suas cartas para darem destaque a igreja de Deus.3 Assim, Lucas escreve: “[…] E houve um grande temor em toda a igreja” (At 5.11); “[…] E fez-se naquele dia, uma grande perseguição contra a igreja” (At 8.1); “[…] E Saulo assolava a igreja” (At 8.3); “Assim, pois, as igrejas em toda a Judeia, e Galileia, e Samaria tinham paz e eram edificadas […]” (At 9.31); “[…] a igreja fazia contínua oração por ele a Deus” (At 12.5). Da mesma forma, Paulo destaca: “à igreja de Deus que está em Corinto […]” (1 Co 1.2); “[…] E não só isso, mas foi também escolhido pelas igrejas para companheiro da nossa viagem” (2 Co 8.19); “[…] como sobremaneira perseguia a igreja de Deus e a assolava” (Gl 1.13); “[…] pela igreja, a multiforme sabedoria de Deus seja conhecida dos principados e potestades nos céus” (Ef 3.10); “segundo o zelo, perseguidor da igreja; segundo a justiça que há na lei, irrepreensível” (Fp 3.6).
Como observam os léxicos, a expressão “congregação do Senhor” (qehal Yhwh) usada no Antigo Testamento é o equivalente mais próximo da expressão neotestamentária “igreja do Senhor” (ekklesia kuriou)4. Contudo, convém destacar que o significado de qahal como “congregação” ou “congregação do Senhor”, embora mantenha alguma semelhança semântica com a ekklesia neotestamentária, não significa dizer que a Igreja já existia no Antigo Testamento. Na verdade, qahal apenas diz que o Senhor tinha um povo debaixo do Antigo Pacto. As diferenças entre a “congregação” do Antigo Testamento e a “Igreja” do Novo Testamento podem ser encontradas tanto na forma como na função. No Antigo Testamento, o uso do termo qahal refere-se ao povo de Deus no seu sentido étnico, enquanto no Novo Testamento ekklesia não possui esse sentido. A ekklesia do Novo Testamento é constituída por pessoas de todas as raças, línguas e povos (Ap 5.9). E o mais significativo é que a ekklesia no Novo Testamento tem a função de tornar-se a habitação, o templo, do Espírito Santo (1 Co 3.16), o que não acontece com o povo do Antigo Pacto. Assim, podemos destacar que, no Novo Testamento, a ekklesia refere-se a crentes nascidos de novo, e não simplesmente a um ajuntamento de pessoas.
Nesse contexto, Israel e a Igreja ocupam papeis distintos no plano da salvação. Uma não é a extensão do outro. Como observa Gregg R. Alisson: “ambos participam, à sua maneira, do reino de Deus e de suas bênçãos multiformes”.5 A Igreja foi idealizada por Deus para ocupar um lugar de destaque na plenitude dos tempos (Ef 1.4). A sua importância é inegável (At 20.28). Israel, contudo, não ficou esquecido por Deus (Rm 8.25). A seu tempo, terá cumprimento aquilo que o Senhor projetou para essa nação (Rm 11.26).
Texto extraído da obra, “O Corpo de Cristo”, livro de apoio ao 3º trimestre, publicado pela CPAD.
1 Dicionário Internacional de Teologia do Antigo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 1998.
2 A exceção é vista em Atos 19.32,39,40, onde a palavra ekklesia é usada em referência a uma assembleia secular, e não a uma igreja cristã.
3 Veja HUGO, M. Petter. La Nueva Concordancia Grego-Española del Nuevo Testamento. Barcelona: CLIE, 2006.
4 É assim que a Septuaginta traduz o hebraico qahal em alguns textos do Antigo Testamento (Dt 23.2,3; 1 Cr 28.8).
5 ALISSON, Gregg R. Eclesiologia. São Paulo: Vida Nova, 2021.