Lição 04 – Proteção contra a imoralidade
INTRODUÇÃO
A imoralidade sexual é um problema da natureza humana caída no pecado. Na cultura moderna, contudo, esse problema ganha novas proporções porque estamos cercados de propagandas intensas, conselhos de formadores de opiniões e uma indústria cultural poderosa que transmitem uma narrativa de que se é impossível moderar e superar os instintos sexuais.
Nesse contexto, o capítulo 5 de Provérbios certamente nos ensina muitas lições, pois nos apresenta uma mulher imoral que, de maneira sedutora e sensual, busca envolver o jovem numa cultura de prazer sexual. Essa mulher, dialogando com nosso tempo, simboliza essa cultura sexualmente revolucionária de que todo jovem moderno é herdeiro.
Por isso, Provérbios 5 é um convite para conscientizarmo-nos a respeito da moralidade sexual cristã em pleno contexto em que somos influenciados pela herança moderna da Revolução Sexual. Essa revolução desafia-nos a como não se dobrar ao estilo de vida moderno dos relacionamentos sexuais e, ao mesmo tempo, desenvolver a virtude da moderação sexual na vida cristã por meio da castidade tal qual ensinada pela Bíblia.
I – ADVERTÊNCIA CONTRA A IMORALIDADE
O quinto capítulo de Provérbios faz um apelo à prática da sabedoria. Como vimos anteriormente, o capítulo 4 desenvolveu a ideia da proteção do coração a partir da prática da sabedoria, onde o pensamento, o sentimento e a vontade devem ser dominados por Deus para as saídas da vida, isto é, nossa ação e comportamento; o capítulo 5 é desenvolvido a partir de um reforço sobre nossa disposição em aprender sabedoria. Esse reforço dá-se por meio da repetição do tema no capítulo em que as expressões “atender”, “inclinar” e “guardar” são enfatizadas na jornada da busca de sabedoria (Pv 5.1,2).
Em Provérbios 5, a sabedoria deve ser aplicada a um caso concreto, ou seja, ao relacionamento entre homem e mulher. Por isso, podemos dividir o capítulo 5 nas seguintes seções:
1) Os versículos 1 e 2: apelo pela busca da sabedoria;
2) Os versículos 3 a 6: apresentação da mulher estranha que seduz o jovem no caminho da vida (cf. Pv 7.6-23);
3) Os versículos 7 a 14: a exposição da consequência destruidora proveniente da relação do jovem com essa mulher imoral;
4) Os versículos 15 a 23: o sábio faz um apelo à fidelidade no matrimônio como antídoto contra a imoralidade sexual.
Resumindo o capítulo 5, podemos dizer que o sábio procura apelar ao jovem a respeito da importância da sabedoria e como ele sempre deve estar em busca dela (vv. 1,2). O sábio também descreve a mulher estranha como o símbolo da imoralidade (vv. 3-6). Ele descreve a consequência trágica do relacionamento do jovem com essa mulher (vv. 7-14). E, por fim, o sábio apresenta um apelo à fidelidade ao casamento como antídoto contra a vida imoral e, por isso, um estilo de vida sábio que não se permite desgovernar pelo estilo de vida da busca do prazer (vv. 15-23).
No contexto social em que vivemos, é praticamente impossível não cruzarmos com a mulher imoral ou toda uma formação cultural hedonista que ela representa. Não por acaso, uma das primeiras características apresentadas pelo sábio acerca da mulher imoral é a sua arte de seduzir por meio de palavras doces, suaves e agradáveis (Pv 5.3). Sem dúvida, trata-se de uma mulher que, com a sua sedução, atrai, atiça e seduz. Embora o poder de atração da mulher imoral seja “momentaneamente” agradável, o sábio revela o lado sombrio dela: “um fim amargoso como absinto”, “agudo como a espada de dois fios”; “ela faz descer para a morte” (vv. 4,5). Isso acontece porque essa mulher não tem compromisso algum com um estilo de vida baseado na verdade, não sabe o que é a verdade nem ao menos para onde ela está indo com a sua vida (v. 6). Essa é a imagem de muitos que atendem aos encantos e à sedução da mulher imoral. Essa mulher é um retrato bem atualizado de pessoas que não conseguem imaginar outro tipo de vida a não ser a busca lancinante pelo prazer. Esse é um estilo de vida que até se mostra atraente a princípio, mas que, ao fim da jornada, reserva uma face nada agradável de verdadeira escravidão que leva à morte (cf. Pv 7.21-23).
Os versículos 7 a 14 iniciam com o apelo do sábio: “Afasta dela o teu caminho e não te aproximes da porta da sua casa” (Pv 5.8). Com relação a esse tipo de pessoa ou cultura, é preciso afastar-se, passar do outro lado. Não podemos entrar no denominado “jogo da sedução”. Se o jovem não atentar para essa estratégia, quando se encontrar no pecado consumado, há de falar consigo mesmo: “Como aborreci a correção” (Pv 5.12). Mas aí será tarde demais. A hora de tomar uma decisão contra a mulher imoral é exatamente quando o jovem não se encontra dominado pelos seus encantos.
Nesse contexto, Provérbios mostra o quanto é importante atentarmos para o caminho do bom senso, em ouvir a voz dos mestres e dos ensinadores (Pv 5.13), pois eles, com as suas experiências de vida, mostram-nos que a vontade de Deus é que não sejamos condenados dentro da congregação dos santos (Pv 5.14). Diferentemente do caminho da sabedoria, o caminho da mulher imoral é de perdição e de desequilíbrio moral. Cada crente — especialmente o jovem — é convidado pelo texto sagrado a não trilhar a marcha da insensatez.
II – A RELEVÂNCIA DE PROVÉRBIOS 5 CONTRA A IMORALIDADE
Por que Provérbios 5 é tão relevante para nós? Ora, essa mulher representa não só uma mulher imoral, como também toda essa cultura sexualizada em que estamos inseridos. Nossa geração é herdeira dos movimentos sociais de contestação sexual; mais especificamente, a partir do que foi denominado Protestos de Maio de 1968, em que um movimento de jovens franceses universitários protestou contra os valores do Ocidente na universidade de Paris. Movimentos parecidos também estavam em andamento na América do Norte e na Inglaterra. Esse período histórico marca o início da ideia da normalização da contestação de qualquer perspectiva de moderação na questão sexual.
A autora Nancy Pearcey faz um correto diagnóstico ao explicar a origem desse estado de coisas no tempo presente a partir da descrição do início do secularismo presente na era moderna:
Na era moderna, o ponto de virada mais importante foi a teoria da evolução de Charles Darwin, publicada em 1859. (Houve outros antes dele, como veremos, mas Darwin tem o maior impacto hoje.) Darwin não podia negar que a natureza parece ter um design. Mas, ao abraçar a filosofia do materialismo, ele quis reduzir essa aparência a uma ilusão. Darwin esperava mostrar que, embora as estruturas vivas parecessem ser teleológicas, na realidade eles eram o resultado de forças cegas e sem direção. Embora elas parecessem ser produzidas com intenção (vontade, plano, inteligência), na realidade era produto de um processo material sem propósito. Os dois elementos principais em sua teoria — variações aleatórias e seleção natural — foram propostos expressamente para eliminar o plano ou propósito. (PEARCEY, 2021, p. 25)
Assim, o processo de desconstrução de uma cultura teleológica, isto é, uma cultura que enfatiza a finalidade e propósito das coisas, fez com que o corpo humano não fosse mais visto como um portador dos propósitos eternos de Deus, conforme continua Nancy Pearcey:
Porque, se a natureza não é obra de Deus — se ela não carrega sinais dos bons propósitos de Deus — então ela não fornece mais a base para as verdades morais. É apenas uma máquina agitada por forças materiais cegas. […] O próximo passo na lógica é crucial: se a natureza não revela a vontade de Deus, então é um mundo moralmente neutro onde os seres humanos podem impor a sua vontade. Não há nada na natureza que os humanos sejam moralmente obrigados a respeitar. A natureza tornar-se o reino dos fatos de valor neutro, disponível para servir a quaisquer valores que os seres humanos possam escolher. (Ibidem, p. 25, 26)
Se não há nada na natureza que o ser humano precise respeitar, e sendo o corpo humano também parte da natureza, então, nesse caso, o corpo e a natureza não possuem o mecanismo moral submetido à vontade de um Criador — isso segundo a virada da era moderna (Ibidem, p. 26). Em suma, baseado no que foi falado acima, o corpo não tem um propósito estabelecido por Deus, e somente os propósitos forjados pelos pressupostos humanos farão sentido para a pessoa da era moderna. Esses propósitos humanos estão alienados do Senhor e foram forjados num contexto de completo secularismo.
O secularismo é caracterizado pelo “destronamento de Deus” da vida do ser humano. Isso foi paulatinamente pensado e desenvolvido no Ocidente. O slogan “É proibido proibir”, presente nas manifestações de maio de 1968, resume bem os valores seculares modernos. Dessa maneira, o pastor P. Andrew Sandlin explica como o secularismo apresentou-se na modernidade em duas esferas: a política e a cultural. A secularização política deu-se pela Revolução Francesa.
Esse processo histórico explica como é muito difícil jovens que se alimentam da cultura hodierna aceitarem a perspectiva bíblica de moderação sexual. Vivemos numa cultura e numa sociedade profundamente sexualizada a partir da secularização da cultura.
A perspectiva de moderação sexual nos limites do matrimônio, como ensina a fé cristã, foi considerada pela modernidade como repressão sexual. Essa expressão foi tomada por empréstimo da Psicanálise, uma abordagem psicológica criada pelo neurologista Sigmund Freud (1856–1939). Até hoje, muitos cristãos sofrem a falsa acusação de que a sua ética cristã produz repressão sexual em jovens e nos adultos; é como se fôssemos uma comunidade de pessoas sexualmente reprimidas. Esse tipo de visão é extremamente preconceituosa e revela profundo desconhecimento do termo técnico da Psicologia para tratar questões sérias de tratamento em terapia.
Exatamente, fazer a escolha, por exemplo, de manter-se em abstinência sexual por um período como escolha voluntária nada tem a ver com repressão sexual; muito pelo contrário, uma escolha consciente da abstinência sexual demonstra pleno conhecimento do próprio impulso sexual. Na verdade, como bem mostrou Lewis, isso nada tem a ver com reprimir um desejo, mas, sim, com colocá-lo sob a virtude da temperança, que, no lugar de reprimi-lo, o modera e canaliza para outro tipo de realização.
A abstinência sexual, da maneira como a Bíblia ensina, na verdade prepara a pessoa humana para a vida a dois, jamais subjuga tanto o moço quanto a moça. Por isso, a ideia popular de que não se pode dominar o desejo sexual, tal como propala a indústria cultural, trata-se apenas de uma narrativa fundamentada nos pressupostos da cultura moderna que se divorciou dos valores de Deus. Simplesmente não é real.
Além de criar a narrativa de que não podemos dominar o desejo sexual, a cultura moderna busca enfraquecer o conceito bíblico de casamento; por isso, a perspectiva bíblica de que o casamento é para sempre e que esse relacionamento profundo e verdadeiro é para a vida toda não faz sentido para muitos jovens hoje. Muitos deles tornaram-se, de fato e infelizmente, produto do meio. Não por acaso, o apóstolo Paulo traça um panorama da profunda distorção da natureza humana que pode ser constatado na vida de muitos hoje: “Por isso, Deus os entregou aos desejos pecaminosos de seu coração. Como resultado, praticaram entre si coisas desprezíveis e degradantes com o próprio corpo” (Rm 1.24, NVT). É uma distorção completa do propósito de Deus para o bem-estar do ser humano. Por isso, Provérbios 5 faz muito sentido no cenário em que vivemos atualmente. Os seus conselhos de prudência quanto à imoralidade são profundamente relevantes.
Que Deus abençoe a sua aula e os seus alunos!
Telma Bueno
Editora da Revista Lições Bíblicas Jovens
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