Lição 05 – Uma Igreja cheia de amor.
ESBOÇO DA LIÇÃO:
INTRODUÇÃO:
I – O AMOR MANIFESTADO NA COMUNHÃO CRISTÃ
II – O AMOR COMO MANIFESTAÇÃO DA GRAÇA
III – A MANIFESTAÇÃO DO AMOR NA SOLIDARIEDADE CRISTÃ
CONCLUSÃO:
Esta lição tem três objetivos que os professores devem buscar atingi-los:
I) Compreender como o amor se manifesta na comunhão cristã, promovendo a unidade e o crescimento da igreja;
II) Reconhecer a graça de Deus como a fonte do amor cristão;
III) Incentivar a prática da solidariedade cristã como expressão do amor.
UMA IGREJA CHEIA DE AMOR:
As últimas décadas foram marcadas por profundas transformações sociais. Essas mudanças são perceptíveis na forma como as pessoas interagem e comportam-se no universo social. Grande parte dessas transformações foi impulsionada pelo advento das mídias sociais, que passaram a moldar a forma como se dão essas relações. A vida sai do universo off-line para o on-line, do real para o virtual. É justamente no universo on-line que se configuram as novas teias de relacionamentos.
Os estudiosos do comportamento social passaram a denominar essa nova configuração social de geração selfie. Ainda de acordo com esses pesquisadores, essa geração caracteriza-se pelo isolamento, isto é, pouco envolvimento cívico; insegurança por conta das incertezas econômicas; descrença onde o elemento religioso aparece em declínio; indefinição marcada por novos posicionamentos sobre a sexualidade e a família; virtualidade marcada pelo declínio da interação social no mundo real; independência política marcada pela aceitação do politicamente correto.
Essas características apontadas no novo tecido social estão presentes tanto na América do Norte como no Brasil. Na verdade, está presente na cultura ocidental, onde o mundo europeu também reflete essa realidade. Estamos, portanto, diante de uma nova realidade social. Isso, evidentemente, envolve desafios, riscos e oportunidades. Não há dúvida de que um dos principais desafios a ser enfrentado por essa nova realidade virtual é a de mantê-la humana. À medida que mais se “virtualiza”,
mais desumanizada a sociedade parece ficar. Isso parece meio paradoxal. O mundo real perdeu espaço para o mundo virtual. Nesse aspecto, o mundo virtual parece ter-se tornado o espaço preferido por aqueles que têm dificuldades em viver no mundo real. Todos estão de alguma forma emaranhados nessa teia; os jovens, contudo, são os principais habitantes desse novo mundo.
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Em outro livro de minha autoria,[2] destaquei que essa nova configuração social tem impacto direto na vida da comunidade e, consequentemente, da igreja. Isso porque a Igreja é um organismo vivo, que se constrói a partir das interações e relações humanas. Em palavras mais simples, a Igreja é humana. Onde não existe o corpo a corpo, relacionamentos físicos, reais, não temos o que biblicamente é definido como sendo uma igreja. Na verdade, as redes sociais, devido à impessoalidade que as caracteriza, transformaram-se na nova igreja dessa geração virtual. Dessa forma, o individualismo caracteriza-se como marca dessa geração. O virtual “conecta-se”, e o real “relaciona-se”.
Esse fenômeno social que tem o individualismo como a sua indelével marca faz parte da cultura pós-moderna. Esse novo paradigma social também atende pelo nome de “sociedade em rede”, “mundo líquido” e “era do vazio”.[3] Trata-se de um modelo cultural que privilegia as emoções e os sentimentos. Na pós-modernidade, as experiências subjetivas e sensoriais passam a moldar praticamente tudo — inclusive, em muitos lugares, até mesmo a liturgia do culto. O sensorial sobrepõe-se ao racional.
Por tratar-se de um fenômeno de desconstrução, os valores culturais no mundo pós-moderno são totalmente relativizados. Conceitos como honra, dignidade, verdade e compromisso perdem-se no vazio. Talvez isso explique tantas contradições e paradoxos presentes na cultura em claros reflexos no comportamento evangélico brasileiro. A preocupação não é mais com a ética, mas com a estética. O que vale é a imagem que se vende, e não o caráter que se possui. Nessa nova configuração cultural, a ordem dos valores aparece invertida, e o cristão precisa ter parâmetros bem definidos para viver a sua vida na igreja e em comunidade. Isso porque, como disse Bauman, “numa sociedade de consumidores ninguém consegue ser sujeito sem primeiramente se tornar objeto”.[4] Como veremos, essa cultura de consumidores, marcada pelo desejo de posse e um individualismo doentio, é diametralmente oposta à vida da primeira comunidade cristã.
“E era um o coração e a alma da multidão dos que criam, e ninguém dizia que coisa alguma do que possuía era sua própria, mas todas as coisas lhes eram comuns”
(At 4.32). Esse texto lido através das lentes da cultura líquida parece extremamente idealista. Algo totalmente fora da realidade de hoje. Não há dúvida de que a narrativa lucana tem por objetivo mostrar um modelo ideal de Igreja sem, contudo, negar a sua existência real. Uma igreja ideal não é, portanto, aquela que não tem problemas nem encontra desafios. Pelo contrário, uma igreja ideal possui problemas e desafios na sua vida real. Entretanto, a forma como os enfrenta é que a faz diferente. Aqui temos uma comunidade que viu diante de si problemas desafiadores, mas que soube como enfrentá-los. Um dos desafios estava no fato de que aquela comunidade composta de poucos membros agora era uma “multidão” de crentes. O crescimento em ritmo acelerado trouxe novos problemas e, evidentemente, fez surgir novas demandas.
NOTAS:
[2] Cf. GONÇALVES, José. Os Ataques contra a Igreja de Cristo. Rio de Janeiro: CPAD, 2022.
[3] LIPOVETSKY, Gilles. A Era do Vazio: ensaios sobre o individualismo contemporâneo. São Paulo: Edições 70, 2013.
[4] BAUMAN, Zygmunt. Vida para Consumo: a transformação das pessoas em mercadoria. São Paulo: Zahar, 2008.
Texto extraído da obra A Igreja em Jerusalém, editada pela CPAD.