
Ações da superintendência da escola dominical para conter a evasão escolar.
Educação Cristã:
Um dos maiores desafios deparados pela Igreja do Senhor nestes últimos anos tem sido lidar com a evasão nas classes de Escola Dominical. O que tem levado tantas famílias a deixarem de priorizar o ensino bíblico dominical tão salutar? Muitos alegam a escassez de tempo para a convivência ou lazer; outros preferem dizer que o domingo é o único dia de folga e precisam descansar para renovar as forças. Sem contar as mudanças significativas que a pandemia do COVID19 trouxe para as relações sociais nos últimos anos. De fato, a vida tem sido muito corrida, o trabalho, o estudo secular e outras preocupações consomem boa parte do tempo, bem como da energia física e mental das pessoas. Além disso, a busca desenfreada por uma melhor qualidade de vida têm sido a prioridade de vários chefes de família. Muitos trabalham incansavelmente para oferecer algo melhor aos seus familiares. No entanto, o cuidado com a vida espiritual é um compromisso que não se pode negligenciar quando se pensa no bem-estar familiar. Sendo assim, ausentar-se dos cultos, inclusive, da Escola Dominical não é uma atitude sábia.
I – FATORES QUE IMPLICAM NA EVASÃO DE ALUNOS DA ESCOLA DOMINICAL.
Tão importante quanto compreender as consequências da evasão escolar na Escola Dominical é identificar as causas. A interpretação do comportamento humano é uma atribuição do exercício ministerial e uma habilidade inerente àqueles que lideram nos espaços eclesiásticos. Portanto, identificar os fatores da ausência de membros na Escola Dominical é uma medida que se faz necessária. É fato que a grande maioria dos crentes não quer admitir os verdadeiros motivos, pelos quais, ausentam-se do ensino dominical. Partindo do princípio de que cabe ao superintende e aos professores o compromisso de promover na igreja uma Educação Cristã de qualidade é preciso lidar com as reais causas e pensar ações que estimulem a melhor frequência dos irmãos neste importante espaço de ensino bíblico.
A. A qualidade do ensino. Com base em entrevistas realizadas com alguns irmãos que frequentam assiduamente as classes de Escola Dominical nas Assembleias de Deus locais, é possível identificar uma resposta muito comum: a baixa qualidade do ensino oferecido pelos professores desestimula a frequência. Sabemos que esse tipo de resposta é subjetivo, uma vez que se trata da realidade local de algumas igrejas e não necessariamente corresponde à de tantas outras que desenvolvem um excelente trabalho. Todavia, constitui um alerta aos responsáveis pelo departamento de ensino em nossas igrejas. A Palavra de Deus nos instrui que se uma pessoa é chamada para “ensinar, que haja dedicação ao ensino” (Rm 12.7). Mesmo em nossos dias, com o advento da tecnologia da informação, há professores que negligenciam o preparo da aula. Muitos não cumprem as orientações definidas pelo material didático e, com isso, o trabalho fica incompleto. É preciso fazer uso dos recursos que se tem à disposição para preparar uma aula de excelência. Em outras ocasiões o fator predominante é a falta de conhecimento pedagógico para ensinar. A grande maioria dos irmãos que ensina em nossas igrejas não possuem formação docente. Por esse motivo, o professor da Escola Dominical precisa investir em cursos de aperfeiçoamento, fazer uso de materiais didáticos e teológicos complementares e aprender aplicar as metodologias de ensino mais adequadas de acordo com a faixa etária para a qual ensina.
Para Anderson Barreto, na obra Ensinando com Excelência na Escola Dominical (CPAD), “A maneira como se ensina é tão importante quanto o conteúdo a ser ensinado. O motorista que conhece várias rotas para chegar a um lugar terá mais opções para chegar ao seu destino com mais facilidade do que aquele motorista que conhece apenas uma rota. Da mesma maneira, quando o professor conhece variados métodos para ensinar o seu conteúdo, terá maiores possibilidades de obter sucesso em seu ensino do que aquele professor que conhece apenas um método. Conhecer e dominar os vários métodos de ensino dá ao professor condições de diversificar sua didática e obter êxito em suas aulas, levando seus alunos a assimilarem o conteúdo ensinado. O sucesso da aprendizagem depende em grande parte disso” (2023, p. 122).
Outro aspecto não menos importante é o fato de que ninguém gosta de participar de uma aula monótona, em que apenas o professor fala e não há espaço para perguntas. O ensino-aprendizagem é uma atividade flexível e, ao mesmo tempo, dinâmica. Portanto, precisa despertar a curiosidade, a imaginação e a memória dos alunos. É o momento em que os processos cognitivos estão em alta atividade. Por essa razão, os professores precisam entender como o cérebro funciona para processar o aprendizado. A melhoria do desempenho dos professores desperta o interesse dos alunos por frequentarem a Escola Dominical.
B. O exemplo da liderança. Outro fator que implica na evasão escolar é a ausência de incentivo por parte da liderança. É natural que a frequência dos irmãos na Escola Dominical oscile em razão de muitos eventos que fazem parte da agenda da igreja, datas comemorativas ou até mesmo as condições climáticas conforme a época do ano. Todavia, esse tipo de situação não justifica negligenciar o aprendizado sistemático da Palavra de Deus, tão importante para a vida espiritual em nossos dias. Ao pensarmos na frequência constante de nossos irmãos nas classes de ensino, precisamos compreender que é fundamental que pastores e superintendentes tenham o compromisso com a unidade doutrinária da igreja e com a ortodoxia dos ensinamentos pautados na Escola Dominical. A cada domingo que os crentes se reúnem para ouvir a instrução da Palavra de Deus é uma oportunidade de crescimento espiritual e amadurecimento do caráter cristão. À medida que o líder se compromete com o ensino sistemático e doutrinário a igreja cresce, não apenas do ponto de vista quantitativo, mas, sobretudo, qualitativo. Nesse contexto, líderes precisam cumprir o dever de casa e convocar seus ministros e obreiros a serem assíduos na Escola Dominical e não apenas observadores distantes do trabalho de ensino realizado pela igreja.
II – AÇÕES PARA CONTER A EVASÃO ESCOLAR NA ESCOLA DOMINICAL.
É importante conscientizar a igreja de que todos os membros da família devem aprender a Palavra de Deus e, portanto, frequentar a Escola Dominical. Nesse sentido, traçar as estratégias mais apropriadas requer a paciência e o discernimento para alcançar as famílias e encorajá-las a manter a frequência nas classes de ensino dominical. No que diz respeito às ações pautadas pela Gestão da Escola Dominical, vale destacar algumas a seguir:
A. Banco de dados com as informações do desempenho de cada faixa etária. Em primeiro lugar é preciso mensurar as informações. De que forma? Quantas igrejas nem sequer assinalam a presença dos irmãos nas classes. O levantamento de dados é fundamental para pensar em ações concretas com vista em conter a evasão escolar ou mesmo rever o planejamento de ensino. Com os dados organizados, será possível saber a quantidade de alunos por classe, a frequência por faixa etária e verificar se as lições estão sendo completamente lecionadas. Essas medidas ajudarão o superintendente a avaliar se o que tem sido feito até o momento está alcançando ou não os objetivos delimitados.
B. Acompanhamento do desenvolvimento do aluno na Escola Dominical. Além da frequência nas classes de ensino é preciso acompanhar também o nível de participação dos alunos durante as aulas e identificar se há envolvimento com as temáticas abordadas. Muitos alunos desistem de estudar ou demonstram pouco interesse durante as aulas porque trazem consigo uma cosmovisão de vida contrária aos valores e princípios da Palavra de Deus. Isso se deve ao fato de que os ensinamentos da Escola Dominical confrontam o estilo de vida e as ideologias que os alunos aprendem em outros espaços que frequentam durante a semana. Nesses casos é importante elaborar um relatório que apresente especificamente os dados de desempenho desse aluno como, por exemplo, a rejeição aos conteúdos bíblicos, o baixo rendimento, a dificuldade de aprendizagem dos conteúdos ministrados ou o nível de interesse por atividades em grupo. Há vários fatores que resultam nesse comportamento e devem ser considerados. Dentre eles, podemos citar as necessidades especiais de alunos com TEA – Transtorno do Espectro Autista ou TDAH – Transtorno do Déficit de Atenção com Hiperatividade, disfunção cognitiva ou outro transtorno que deve ser acompanhado por um especialista. Vale ressaltar que cabe ao professor fazer apenas observar e, uma vez identificada a suspeita, comunicar aos responsáveis para que tomem as medidas necessárias. Há muitos alunos que frequentam a Escola Dominical e precisam de apoio para terem as suas necessidades atendidas.
C. Integração com a família. Uma das formas de estimular os alunos a frequentarem a Escola Dominical é desenvolver na igreja uma cultura de integração com a família. Encorajar os pais a trazerem seus filhos para a Escola Dominical significa mostrar-lhes a importância dos princípios e valores bíblicos na construção do caráter cristão. Isso pode ser feito por meio de estratégias agregadoras e que incentivam a comunhão como, por exemplo, um café da manhã com a presença de todos os familiares. É uma atividade que pode ser realizada antes ou depois do ensino dominical. Os familiares, inclusive, podem participar trazendo um item para o café. Dessa forma, todos se sentirão participantes na realização da atividade. Vale destacar que o café em si serve para oportunizar as famílias a se conhecerem melhor no espaço da igreja. Muitas vezes o ativismo religioso faz com que as igrejas estejam tão focadas em atividades que se esquecem do mais importante e que era priorizado pela Igreja Primitiva, a saber, a doutrina dos apóstolos, a comunhão, o partir do pão e a oração (At 2.42). Integrar as famílias significa aplicar estratégias que estimulem a igreja a crescer em amor, harmonia e fundamentada na verdade.
D. O trabalho organizado e permanente de visitas. Na mesma medida em que as famílias são assistidas e incentivadas a comparecer à Escola Dominical, a igreja não pode se esquecer daqueles que eram assíduos neste precioso trabalho. Em algumas ocasiões, a ausência na Escola Dominical se deve a motivos que estão alheios ao trabalho de ensino como, por exemplo, um problema familiar ou por questões financeiras. Muitos deixam de frequentar o ensino dominical quando mais precisam se fortalecer contra as ciladas de Satanás. Para isso, a superintendência da Escola Dominical precisa organizar visitas aos alunos ausentes e ouvi-los. Esse trabalho não precisa ser realizado sozinho, antes, deve ser articulado com os demais membros das classes que os alunos ausentes faziam parte. Por exemplo, se o aluno ausente é um adolescente, convém que a classe dos adolescentes, juntamente com o professor, agende uma visita. O mesmo deve ser feito com as demais classes de ensino da igreja. Dessa forma, teremos um trabalho organizado e permanente na Escola Dominical.
E. Organize gincanas bíblicas. As gincanas bíblicas são excelentes atividades que tem a pretensão de desafiar os alunos a explorarem seus conhecimentos bíblicos no espaço da Escola Dominical. Essas atividades são muito aplicadas nas classes de ensino voltadas para o público adolescente, mas podem ser adaptadas e aplicadas também para com os adultos. Nesse caso, o diferencial seria o nível de complexidade e as temáticas de ordem mais doutrinária. Todo esforço para responder às perguntas corretamente deve ser acompanhado de recompensas. Os alunos podem ser premiados, por exemplo, com uma Bíblia ou material teológico para aprofundar seus estudos. De outro modo, as crianças podem receber doces ou brinquedos. Essa modalidade de atividade deve ser realizada com muito amor e carinho para que os demais, que não alcançarem os resultados esperados não se sintam desencorajados. Muito pelo contrário, trata-se de uma oportunidade para melhorar a frequência na Escola Dominical e aprender mais sobre as Escrituras Sagradas.
F. Propaganda e Publicidade para Escola Dominical. Há uma frase muito conhecida pelos empresários e empreendedores que almejam o sucesso: “a propaganda é a alma do negócio”. Esta é uma regra infalível no mercado, ou seja, se desejamos alcançar mais clientes, precisamos divulgar mais o produto. Em nosso contexto de ensino, algumas regras de propaganda e publicidade servem de modelo para alcançarmos os objetivos. Se aspiramos alcançar maior frequência de alunos nas classes de ensino dominical, precisamos divulgar com maior intensidade os benefícios da presença na Escola Dominical para toda a família. Em primeiro lugar, há uma melhora na saúde espiritual da família. Os filhos aprendem como obedecer a seus pais e como se comportarem na sociedade. Os pais aprendem a respeitar seus filhos e cônjuges. No ensino dominical, aprendemos também a administrar nossos dons, talentos e finanças em prol do Reino de Deus. Uma família fortalecida na Palavra de Deus se sente motivada a participar dos ministérios na igreja. Vale destacar que cada membro da família exerce um papel importante. Quando se aprende a cumprir esses papéis conforme orienta a Palavra de Deus, toda a família é beneficiada com paz, harmonia e união. Estes e muitos outros benefícios alcançam todas as áreas da nossa vida. Divulgar essas bênçãos e massificar o convite são formas de atrair mais alunos para esta que é a maior Escola do mundo: a Escola Dominical. A divulgação pode ser feita por meio de propagandas físicas: cartazes espalhados pelo templo — ou digitais: postagens nas redes sociais da igreja e/ou grupos de mensagem por aplicativo.
G. Diversifique os métodos: fóruns, painéis e rodas de conversa com temas geradores…
Nada é mais cansativo para um adolescente do que permanecer estático por mais de uma hora apenas ouvindo. Em tempos de pessoas ansiosas e com acesso frequente às mídias sociais,permanecer em repouso para ouvir o professor falar se torna entediante. Mas a Escola Dominical não necessariamente precisa ser assim. O professor pode e deve articular mudanças para essa realidade a partir da diversificação dos métodos. Isso não significa que em todas as aulas o professor tenha que fazer os seus alunos ficarem de pé ou participarem de dinâmicas. O ponto relevante do método é a interação professor-aluno. O conteúdo sempre será o mesmo, a saber, o estudo da inerrante, infalível e inspirada Palavra de Deus. As verdades basilares das Escrituras são imutáveis e constituem o cerne do ensino dominical. Todavia, a diversificação dos métodos, isto é, dos caminhos que o professor define para compartilhar o conhecimento bíblico é que se mostra flexível. Para tanto, um mesmo assunto pode ser trabalhado a partir de painéis com a participação de professores ou pastores de outras classes; com roda de conversas, pela participação ativa dos alunos em um diálogo em que todos têm a oportunidade breve de opinar; pela distribuição do tema geral da lição em temas geradores, que fazem parte da realidade local dos alunos. Enfim, há muitas formas de dinamizar a aula e torná-la mais atrativa aos alunos. Aplicando as mudanças adequadas, teremos mais alunos interessados em frequentar as classes de ensino dominical.
Conclusão:
A partir dos apontamentos destacados neste artigo, concluímos que a evasão escolar nas classes de ensino dominical pode e dever ser revertida em oportunidade de crescimento quantitativo e qualitativo desse importante espaço de aprendizado da Palavra de Deus. Enquanto educadores cristãos, não podemos permanecer inertes perante o esfriamento e falta de interesse de muitos para com o aprendizado da Palavra de Deus. Portanto, as iniciativas mencionadas neste artigo visam apenas sugerir mudanças que, uma vez aplicadas com sabedoria, podem trazer resultados significativos e crescimento ao trabalho da Escola Dominical. Precisamos reiterar que o cuidado com a vida espiritual é um compromisso que não pode ser negligenciado, ainda mais quando se sabe que estamos vivendo os “últimos dias”. Portanto, precisamos de uma igreja fortalecida doutrinariamente a fim de que tenhamos famílias unidas e perseverantes na fé. Que Deus abençoe o trabalho de cada superintendente e professor que se dedica ao ministério do ensino das Escrituras Sagradas e, juntos, possamos combater a evasão escolar na Escola Dominical.
Thiago Santos
O autor é Evangelista, Pedagogo, acadêmico de Letras e Teologia, pós-graduando em Educação Cristã, especialista em Gestão Escolar, Docência e Gestão do Ensino Superior, comentarista e editor do Currículo de Escola Dominical da CPAD.